Fotografia
Fotografia (José Carlos de Bom Sucesso)
O sol alinhava-se ao horizonte daquele domingo frio e ventoso. As árvores pareciam gemer temendo mais temperatura baixa. O vento soprava a mais fina e perniciosa camada de gelo para os corpos vivos. Tudo permanecia lúgubre naquele momento.
Sentada à cadeira, na pequena varanda, calçada nos pés meias longas de lã, coberta pelo grande e grosso cobertor na cor vermelha, a pequena touca na cabeça, os óculos fixos no pequeno álbum de fotografias, Dona Maria apreciava, de muitas, a última imagem do querido marido Paulo, que partiu para a eternidade há poucos anos.
Era a imagem, congelada pela história, a mais simples de todas. Nela, os dois estavam felizes e abraçados um ao outro, no show do cantor sertanejo realizado há poucos anos, no parque de exposições da cidade. Naquele retrato, ela sorria como se estivesse sorrindo o mais belo e encantador sorriso. Ele, um pouco mais sério, sem fazer a barba por uma semana, sorria também a mais bela e inesquecível afabilidade.
Então, dos pequenos olhos de Dona Maria, saiam lágrimas como a nascente do riacho. A respiração tremia a pura emoção em ver e recordar a última passagem dos dois pelo ciclo da vida. Alguns soluços eram notados na pequena boca. A mão trêmula era erguida e tentava limpar as lágrimas do passado e que hoje não mais existe.
Debaixo da fotografia, a filha mais nova escreveu que aquele momento era o momento mais lindo do casal naquela linda noite. Com o frio aumentando cada vez mais, ela fecha o álbum como o último soluço. Enrola-se no cobertor, respira o último soluço de sua vida e vai ao encontro do amado eterno.