Essa não é uma história de amor, muito pelo contrário...

Eles caminhavam todos os dias para o mesmo encontro.

Enquanto ele caminhava no ar, flutuava, ensaiava passos de dança ao andar e soprava quente as sua palavras, ela era de outro mundo, uma estranha, alheia àquele universo que ele pertencia. Ela exibia sorrisos por onde passava, ele apenas caminhava no ar, flutuava.

Eles caminhavam todos os dias para o mesmo encontro, e quando ela o via suas palavras se aqueciam, ela sentia o chão macio, parecia flutuar, mas ele alçava voos mais altos com outros pés de vento, porque caminhavam todos no mesmo ar.

Ela contava passos no chão, a firmeza por onde passava e a cada passo plantava sementes, desejava ver um caminho florido em cores, em cheiros, desejava trazer parte do mundo que sempre conhecera, borboletas, passarinhos, lagartas, ela desejara a cada semeio, a beleza da vida que um dia vivera.

Ele era a personificação do conforto daquele lugar, da relação com aquele gente e sequer ousava perceber a grama que se fazia no caminho, não conseguia perceber que o caminho perfumava quando ele movimentava o vento ao ensaiar dançar.

Ela sabia que faltava mais um elemento para tudo aquilo continuar brotando e ter forças para crescer. Os seus conhecidos que irrigavam, não iam por aquele caminho e se recusavam lhe ceder qualquer possibilidade de irrigar aquele lugar, a convidavam para banhar-se em outros espaços, porque naquele caminho jamais passariam para molhar.

Ele ventava tanto que às vezes era tormenta, castigava tudo por onde passava, arrastava tudo onde ventava, porque ele se tornava apenas um vento de destruição, carregava tudo que estava nascendo.

Ela sem opção, chorava por ver seu trabalho destruído, por ver o caminho sem vida, longe, muito longe do que ela representava, postou a chorar, debulhar-se em lágrimas até que com muita insistência dos dias, o chão "lameou".

Ele com seu vento secava o solo.

Ela insistentemente chorava e umedecia.

Nesse ponto eles, embora, desequilibrados, fizeram um trabalho juntos, ele sem perceber, e quando o caminho finalmente floriu, ela estava exausta.

Ela semeara, ela chorara e ele apenas ventava, ven-ta-va.

Ele ventava e com ela esgotada, o solo secou, as flores morreram, a cor foi embora e o cheiro que antes era perfumado, se tornou fétido, tudo morrera enquanto ele apenas ventava.

Ventar era sua natureza e ele apenas ventava.

Eles caminhavam todos os dias para o mesmo encontro e ela permanecia com a sensação de estranheza, alheia àquele lugar. Não havia flores, não havia perfume, não havia cores e ela não se importava mais.

Embora não fosse essa a sua natureza, ela apenas se acomodara e não se importava mais.

Ele caminhava no ar, flutuava, ensaiava uma dança e quando ela o via e lembrava do caminho cinzento e sem vida, ela apenas seguia.

Suas palavras quentes contribuíram para destruir a beleza do caminho, quanto mais alto ele andava, mas fixa ela permanecia e quando ele ventava forte, ela não mais se abalava.

Eles caminhavam todos os dias para o mesmo encontro, mas ela entendeu o motivo de, embora no mesmo lugar, jamais terem se encontrado.

A natureza dela brotava e se perto, o vento dele destruía.

FauS
Enviado por FauS em 28/06/2024
Código do texto: T8095597
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