Fantasias Destemperadas

"I don’t care about your fears.

I need you here. Together, we can win this darkness.

" Trust me."

Essa frase ecoa na minha mente diariamente como um mantra. Aquela foi a última mensagem que recebi de você, uma despedida camuflada de promessa, um poema que jamais esquecerei. Desde então, nunca mais nos falamos. Nunca mais nos vimos. Nunca mais.

Minhas noites são marcadas pela espera silenciosa, pelo anseio de ver você surgir na porta da minha casa em uma madrugada chuvosa. Não faria perguntas sobre onde esteve todos esses anos. Não me importaria se só tivesse voltado para pegar a lanterna que esqueceu, agora essencial para sua nova vida em uma vila de pescadores.

Imagino você liderando a busca por um menino sapeca chamado Samuel, perdido na mata. Você é o chefe daquela aldeia e, como tal, precisa mostrar autoridade. Uma lanterna decente é crucial para liderar uma busca noturna na floresta sombria. Você me prometeria que, assim que encontrasse o menino, me levaria para viver com você na "Vila Ubuntu", onde todos já conhecem minhas histórias atrapalhadas. Histórias sobre mim procurando desesperadamente os óculos que estavam sobre minha cabeça, sobre o pastel de brócolis que faço tão bem, sobre o cachorro que teríamos chamado Damião.

Eu juro que não me importaria. O importante é que você tenha encontrado o caminho de volta. Mas você não está aqui. É apenas minha imaginação, novamente.

Desde o dia em que você desapareceu, vivo mergulhado em fantasias destemperadas, imaginando todas as possibilidades: uma abdução alienígena, prisão na área 51, encarceramento em uma prisão clandestina no Iraque. Talvez você tenha caído em um poço ao tentar pegar um girassol para mim, pois sabe que eu simplesmente amo girassóis.

Na fantasia, você sobrevive no poço, bebendo gotas de chuva que escorrem pelas paredes e comendo pequenas sementes de frutas que os passarinhos derrubam. Você mantém o girassol vivo, conversando com ele todos os dias. Fala de mim, do tempo juntos, de como ama minha risada. Promete que, assim que sair desse poço, entregará o girassol para mim. Eu o colocaria em um lindo vaso com uma fita azul, minha cor favorita, e você escreveria um livro sobre seus dias no poço, intitulado "O Girassol no Poço". Quando perguntassem o que o manteve forte e esperançoso, você diria meu nome com os olhos cheios de lágrimas.

Mas a verdade é outra. Não há girassol, poço e nem livro. Não há promessa. Você não voltou e não voltará. Sei que minhas fantasias são patéticas, uma fuga da realidade cruel de que continuarei só, sem você.

E assim, permaneço, perdido em minhas fantasias destemperadas, acreditando que tudo mudará, que todas as peças se encaixarão, que seremos um novamente. Mas não será. Continuarei só, esperando um retorno que nunca acontecerá.