O Conselho do silêncio

Fiel como sempre, o silêncio me tem sido mais que um gentil carrasco. Tem sido um amigo, sempre colocando à minha disposição sua cavalheiresca cumplicidade. Sei que às vezes ele não entende certas atitudes minhas e, ao seu modo, apela repetidas vezes para que eu reflita sobre minhas autossentenças. Dele não espero bons conselhos, ainda assim o convido a seguir comigo e lhe ofereço um soluço alcoolizado como sinal de gratidão.

Tento traçar um rumo, um caminho, mas me falta o sentido, a direção. Parto assim mesmo. No banco de trás a saudade, oportunista e cheia de si ela insiste em me fazer companhia assobiando trechos de uma triste melodia que toca no rádio do carro.

Não sei ao certo aonde pretendo chegar, nem sequer parei para ver o quanto já andei e o quanto me distanciei do que mais quero. Só sei que continuo acelerando na contramão do meu querer e isso está me enlouquecendo.

De repente me vejo observando cada centímetro da infindável estrada por onde deslizo, talvez tentando marcá-la para não me perder caso o arrependimento me obrigue a dar meia-volta.

Vejo pessoas passarem muito rapidamente, a vegetação, o céu, nem sempre azul, mas sempre presente, ao contrário da minha alegria, e tenho a sensação de que a tristeza fez o tempo parar, e que pretende fazer o mesmo com meu coração.

O silencio troca de lugar com a saudade, que agora senta ao meu lado e vez por outra me olha pelos cantos dos olhos como se desconfiasse da minha determinação de abandonar quem em troca de amor me deu vida.

Num lampejo de lucidez chego à conclusão de que devo parar e voltar, antes que seja tarde. Expulso minhas companhias e decido seguir o conselho do silêncio: absolvo-me e volto, e volto a amar, e volto a viver.

Augusto Serra