A DESCONHECIDA
Era uma tarde linda de sol, eu estava sozinho, não fui à praia pela manhã e nem tive vontade de ir ao cinema pela tarde. Estava triste e sozinho.
As pessoas passavam felizes pelas ruas, umas rindo, outras gargalhando, eu sozinho sentei-me no bar do Cabeça para beber uma cerveja e apreciar o movimento da rua.
Passaram todos os tipos de pessoas: casais de idosos, casais de jovens, casais de homossexuais, casais de não sei, mas o que, e eu sozinho conversando com meus pensamentos.
Bebi, sozinho, toda a garrafa de cerveja e quando pedia a segunda eis que ao longe consigo perceber um vulto longilíneo, trajando um vestido simples, porém comprido, de cor azul, com os cabelos longos esvoaçando ao devotado vento da tarde.
Estacionei o copo de cerveja a caminho da boca e fiquei pasmado admirando tão perfeita escultura de mulher.
Ela olhou-me também, olhou-me incrédula, não sei se por minha estupefação ou por minha ousadia. Tinha ares de profunda tristeza e um olhar profundo.
Após passar, olhou para trás em minha direção, eu reagi de imediato. Deixei a cerveja sem pagar, porque era conhecido no bar e fui ao seu encalço.
Caminhamos pela calçada da praia. Caminhamos bons quilômetros, eu queria falar com ela, acho que ela queria me ouvir, porém timidez era reciproca. Por fim tomei coragem.
- Está vindo da praia.
Ela disse-me então, com uma voz trôpega, que não, que caminhava ao léu, que estava sozinha.
Sentamos em um quiosque da praia, ela aceitou tomar uma água de coco.
Tinha as mãos pequenas muito frias. Contou-me de sua conturbada infância de lágrimas e que nunca teve ninguém na vida. Nunca houvera amado, e nem tivera sentido o calor de alguém.
- Não sei o que é carinho – resumiu assim.
Levei-a para minha casa, tinha um certo rasgo de paixão que me incomodava.
Amamos, amamos muito durante o fim da tarde, dormimos e quando acordei ela já se havia fugido.
Se foi com a primeira estrela noturna.