A nova fase da lua
A nova fase da Lua
Quase todas as estrelas conseguiram sair naquela clara e quente noite de verão para observar por entre as falhas do telhado daquele simples balneário àquelas tórridas cenas de amor explicito. As mais curiosas e despudoradas foram as que mais se aproximaram.
A frieza da água que caia da bica e jorrava com a força de um Niágara, tentava em vão arrefecer a temperatura daquele irresistível desejo, que de tão ardente queimava-lhes à pele.
O ambiente disfarçadamente ocupado por um breu providencial e conluiado deixava vazar pela fresta da janela um lindo raio de luz, produzido pelo atrito de suas peles. A mistura de suas auras, salivas e suores espalhava no ar uma suave fragrância natural de mandarina selvagem que ressumava dos poros dos seus corpos, se confundia com os flocos de luar e perfumava todo o ambiente.
Naquele instante mágico, as leis que separam o mundo dos mortais do universo desconhecido dos que levitam, dos que param o tempo e dialogam com os deuses estavam completamente abolidas.
A Lua, que de longe observava todo aquele espetáculo, de nada reclamou. Afinal, a natureza também se inspira e se extasia com as coisas que vê. Aliás, há muito ela não testemunhava tamanha beleza nos gestos e indescritível harmonia nos movimentos. Queixosa por ver rarear cenas tão exuberantes de carinho e desejo como as que viu naquela noite, ela mais que aplaudiu, mudou seus planos e criou uma nova fase, a fase do amor.
Augusto Serra