Os dois discípulos
Certa feita, em uma pequena vila no sopé de uma montanha, havia um sábio reverenciado por sua sabedoria e discernimento. Seu nome era Mestre Li. As pessoas vinham de longe para buscar seus conselhos e ensinamentos. Num dia de outono, dois homens se aproximaram do mestre com o desejo de se tornarem seus discípulos, mas com intenções completamente diferentes.
O primeiro homem era um vigarista astuto, chamado Aran. Ele tinha ouvido falar da generosidade e paciência do mestre e estava decidido a conquistar sua confiança através de mentiras e bajulação. Com um sorriso falso e palavras suaves, Aran se aproximou do mestre, elogiando-o incessantemente.
— Oh, grande Mestre Li, sua sabedoria é lendária! Tenho viajado por terras distantes só para ouvir suas palavras de iluminação. Por favor, permita-me ser seu discípulo e aprender sob sua orientação, pois sei que só assim encontrarei a verdadeira paz.
O segundo homem era um jovem camponês chamado Jian. Ele havia trabalhado arduamente nos campos de sua família, e seu coração era puro e humilde. Jian aproximou-se do mestre com respeito e sinceridade.
— Mestre Li, sou apenas um simples camponês, mas desejo aprender com você. Prometo ser diligente e humilde, sempre pronto para corrigir meus erros e seguir seus ensinamentos com devoção.
O mestre observou ambos com atenção, percebendo as intenções por trás de suas palavras. Ele decidiu dar uma chance a ambos, observando como cada um se comportaria ao longo do tempo.
Aran continuou a bajular o mestre diariamente, tentando impressioná-lo com histórias inventadas de sua suposta sabedoria e virtude. Ele realizava tarefas simples com grande alarde, esperando ser elogiado por sua aparente dedicação.
Jian, por outro lado, observava silenciosamente os atos do mestre, aprendendo com seus exemplos. Ele trabalhava diligentemente, aceitando correções com humildade e esforçando-se para melhorar. Quando cometia erros, reconhecia-os e buscava corrigir-se sem reclamar ou tentar justificar-se.
Além disso, Jian entendia que a amizade com o mestre não poderia ser conquistada com palavras de efeito, mas deveria ser construída dia a dia, com humildade e paciência. Ele demonstrava respeito e gratidão em suas ações, ajudando os outros discípulos e contribuindo para a harmonia do templo.
Meses se passaram, e o mestre decidiu que era hora de tomar uma decisão. Ele reuniu todos os discípulos no jardim do templo para testemunhar a escolha entre os dois candidatos.
— Hoje, vou escolher entre dois homens que desejam ser meus discípulos — anunciou Mestre Li. — Ambos mostraram grande interesse em aprender, mas suas intenções e ações foram diferentes.
Virando-se para Aran, o mestre disse:
— Aran, você tentou conquistar minha confiança com palavras doces e elogios vazios. Mas suas ações mostraram a verdade de seu caráter. Mentiras e bajulação não são o caminho para a sabedoria, nem para a verdadeira amizade.
Aran, percebendo que havia sido desmascarado, abaixou a cabeça em vergonha e deixou o templo em silêncio.
Então, o mestre voltou-se para Jian.
— Jian, você mostrou verdadeira humildade e um desejo sincero de aprender. Suas ações falaram mais alto do que qualquer palavra. Você observou, trabalhou diligentemente e aceitou correções com gratidão. Entendeu que a amizade e a confiança não são conquistadas com palavras, mas construídas dia a dia. É por isso que você será meu discípulo.
Os discípulos aplaudiram a decisão do mestre, e Jian, com lágrimas de gratidão nos olhos, ajoelhou-se diante de Mestre Li.
— Obrigado, mestre. Prometo continuar a trabalhar duro e a aprender com humildade.
Mestre Li sorriu e ajudou Jian a se levantar.
— Lembre-se sempre, Jian, que a verdadeira sabedoria e a amizade são construídas através de ações sinceras e humildade. Continue nesse caminho, e você será um exemplo para todos.
O mestre então olhou para todos os seus discípulos e disse, fechando seu discurso:
— A sabedoria não pode ser conquistada como uma ingênua donzela que se entrega a um galanteador por ouvir lindas palavras e promessas ilusórias. A sabedoria tem que ser construída como um pedreiro constrói uma bela casa, tijolo por tijolo, traçando o barro com paciência até ele adquirir a liga necessária para subir as paredes com segurança.
Alexandre Tito
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