Amor Antigo

Helena era indecisa e inconstante. Dez anos de namoro não foram suficientes. Hesitava sempre em assumir um compromisso sério, mas pensava que era amor de verdade. Júlio se apaixonou à primeira vista e nunca teve dúvida, era amor sem fim. Era a mulher que queria por toda a vida. Só aguardava que ela decidisse se casar.

Um outro atravessou o caminho deles. Fábio chegou cheio de conversa, carisma e charme. Era alguns anos mais velho que ela e falava de coisas que ela não conheceu vivendo naquela cidade do interior. Era um perfeito cavalheiro desses que manda flores sem motivo, puxa a cadeira para a amada se sentar, abre a porta do carro, adivinha seus desejos e a trata como uma rainha. Ela se encantou e sem pestanejar trocou aquele que sempre lhe devotou um amor verdadeiro por outro que lhe parecia um príncipe encantado. Júlio ficou sem chão, entrou em depressão e pensava em morrer. Jamais pensou que a mulher que tanto amou e se entregou iria trocá-lo como se fosse uma roupa velha que não lhe servia mais.

Um tempo depois Helena se casou com Fábio e se julgava a mulher mais feliz do mundo. Por um tempo viveram um grande amor. Viajavam, se amavam intensamente, curtiam a vida como se não houvesse amanhã. Mas não demorou muito pra ela começar a se decepcionar e descobrir suas mentiras, a farsa que era. Como continuava apaixonada ela tentava de todas as formar manter o casamento. Ele, a seu modo, a amava e não queria se separar. Foram levando a vida…

Júlio ficou arrasado ao ver Helena se casar. Por algum tempo ficou sozinho, sempre triste e deprimido. Até que conheceu uma mulher e se interessou. Não conseguia amar como amou um dia, mas pensava que podiam se dar bem. Casaram-se e viveram uma vida tranquila e feliz, embora ele não a amasse.

Depois de treze anos o casamento de Helena chegou ao fim. O relacionamento tornou-se insustentável e antes que o amor que sentiram um dia se transformasse em ódio resolveram seguir cada um o seu caminho.

Ela estava divorciada há sete anos. Não queria se machucar mais. Pensava que preferia ficar sozinha a estar com alguém que não valesse a pena. A solidão não incomodava. Passeando por um rede social resolveu procurar por Júlio que volta e meia estava em seu pensamento. Pesquisou pelo nome, mas o nome dele era tão comum. Encontrou vários, foi olhando perfil e fotos. E depois de olhar vários, lá estava ele. Mudou nesses vinte e dois anos, mas ela o reconheceu. Continuava indecisa e insegura e teve medo que não se lembrasse mais dela ou que recusasse seu convite para uma amizade e um papo. Ao olhar seu perfil viu que era viúvo. Ela sorriu. Todos os dias acessava a conta dele e por fim se decidiu. Se ele recusasse, ficaria magoada, mas ia entender. Três dias depois ainda não tinha se manifestado. Estava ansiosa. Dias depois lá estava ele. Mandou uma mensagem perguntando se lembrava dela. E ele respondeu que jamais poderia se esquecer.

Conversavam todos os dias. Souberam que ambos estavam livres e desimpedidos. Algum tempo depois marcaram um encontro. Escolheram um local bem aconchegante. Ela estava insegura. E se ele se decepcionasse? Ele estava ansioso e só pensava em ver o antigo amor que nunca esqueceu.

Ao se encontrarem não importaram se não tinham a carinha tão linda da juventude ou se não tinham o corpito perfeito dos vinte e poucos anos. Suas almas irmãs se olharam e se enlaçaram. No abraço perceberam que seus corpos ainda se rendiam à química mágica de outrora. E o encontro foi incrível. Recomeçaram como se nunca tivessem se separado. Ao se despedirem prometeram que não se separariam mais. E não houve distância ou empecilho que atrapalhasse o romance. Ela estava segura que ele era o homem de sua vida e ele que nunca duvidou disso se entregou ao seu amor.

Não se importaram com as muitas pessoas que recitavam ditados antigos, tipo: “espelho quebrado não mostra a mesma imagem depois de colado”, “ café requentado não tem o mesmo sabor”.

Nunca lamentaram o tempo perdido, sabiam que era assim que tinha que ser. E assim seria. Um amor seguro, maduro, pra sempre. Sem cobranças, sem medos. Encontraram o tempo exato de amar e ser feliz.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 28/05/2024
Reeditado em 28/05/2024
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