O poeta e o perdão

Um poeta que morava em uma cidade muito acolhedora era muito sensível, portanto, seus poemas deixavam os leitores encantados com suas rimas ricas em sentimentos. Seus versos costuravam no papel as mais belas palavras, que hipnotizavam até mesmo aqueles que tinham o coração mais duro e frio. Além dos belos poemas que criava, Augusto Campos era um homem acolhedor e caridoso, participava de grupos filantrópicos em sua cidade. Porém, era calado, introspectivo e muito prático em suas ações. Nas suas andanças pelas ruas de sua cidade, fazendo caridade aos moradores de rua, conheceu Rita Linhares, uma jovem médica que já o admirava há algum tempo, não só por seus poemas belíssimos, mas pelo seu caráter ilibado e sua bondade genuína. Augusto se apaixonou e seus poemas agora tinham Rita como musa inspiradora. A cada dia que passava, eles ficavam mais próximos e amigos.

Augusto gostava do mar e seus segredos, enquanto Rita amava seu jardim, para ela era o mais bonito de toda cidade de Araguaçu, terra natal do casal apaixonado. Mas como todo amor, é perseguido por uma dor. O amor de Rita e Augusto teve que enfrentar a maior tempestade de sofrimento de toda as suas vidas, provocada por uma traição súbita de Augusto.

Tudo aconteceu em um dia em que o casal estava em uma festa de casamento de uma amiga de ambos. Nesta festa estava Maria Luiza, uma ex-namorada de Augusto, que se aproximou dele e cumprimentou o casal, sendo convidada por Rita para sentar à mesa e participar daquela celebração matrimonial tão bela. Augusto sentia uma atração física por Maria Luiza, ela se levantava com um vestido colado que delineava com precisão cada curva de seu corpo escultural e sensual. Rita, animada, não percebeu a grande armadilha que estava atraindo seu grande amor para o maior e mais perigoso dos pecados, a arapuca da luxúria.

Chegou o final da festa, veio a despedida, muitos abraços e beijos formais entre aqueles mais íntimos, até que chegou a vez de Augusto e Maria Luiza. Ela o abraçou com muito afã e disse rapidamente em seu ouvido: "Ainda te desejo muito". Daquele momento em diante, o diabo repetia dez vezes por minuto aquelas palavras doces e ao mesmo tempo venenosas. Augusto mudou, Rita percebeu, Augusto disfarçava, Rita desmascarava suas desculpas sem raízes. Augusto, apesar de tentar, não esquecia daquele corpo sedutor, do andar provocante, e das últimas palavras que ouviu naquela madrugada festiva.

A falta de diálogo, companheirismo e a montanha de desculpas afastaram fisicamente e emocionalmente aquele casal que até poucos dias atrás estavam vivendo um grande amor. Em uma noite quente de verão, Augusto acordou na hora do lobo, aquela hora da madrugada em que a solidão força a qualquer um a ter de conversar consigo mesmo. E Augusto teve que encarar aquele momento, com a ansiedade lhe corroendo a alma e o desejo ardente lhe convidando a fazer uma visita a Maria Luiza. Ele não aguentou e vestiu-se, saindo às pressas em direção à casa de Maria Luiza, sendo guiado somente pelos seus instintos.

Chegando na casa daquela bruxa que o tinha enfeitiçado, bateu na porta com o coração acelerado e as mãos geladas. O poeta, naquele momento, era apenas um lobo vadio e louco para devorar Maria Luiza. A porta se abriu, Maria Luiza disse com muita volúpia: "Eu sabia que você viria." Augusto olhou para ela, que estava com uma lingerie provocante irresistível. Era um conjunto de renda delicada, adornado com detalhes sensuais que acentuavam suas curvas de maneira sutil, mas poderosa. O sutil jogo de transparências e tecidos macios provocava a imaginação do poeta, que já tinha perdido a sanidade há muito tempo, deixando um ar de mistério sobre o que estava por vir.

Ela sorria para ele, seus olhos transmitiam uma intensidade magnética, e cada movimento era graciosamente calculado para seduzir e encantar aquela besta que um dia foi o mais íntegro dos homens daquela cidade. O poeta, mesmo embriagado pela sedução de Maria Luiza, ainda em um lampejo de lucidez, observou por trás de toda vulgaridade de Luiza, um grande quadro onde estava estampada na tela um lindo mar azul e com ondas batendo em pequenos recifes. Naquele momento, aquele perturbador desejo por sexo foi repreendido por uma lembrança maravilhosa de seu verdadeiro amor, Rita Linhares. Nesse instante, foi criado na cabeça de Augusto o impasse entre o desejo passageiro e o desejo eterno, as lembranças dos momentos inesquecíveis com Rita Linhares era o início de sua redenção .

Maria Luiza percebeu que a sua presa estava se desviando da sua lascívia e da sua concupiscência carnal e diabólica. Maria Luiza, em um último truque, se despiu diante daquela alma atormentada. Foi a ação de Luiza que fez com que Augusto voltasse do batente da luxuosa casa de Luiza. A passos lentos e arrependido, chorou até que seus soluços foram ouvidos por Rita, nesse momento ele já estava na casa de seu verdadeiro amor. Ela o acolheu e chorou com ele mesmo antes de saber o que estava acontecendo. Depois que ele sentiu que tinha voltado do inferno, contou tudo a Rita, que o ouviu sem pré-julgamento ou desprezo, apenas chorava com ele. Naquele momento, o perdão não precisava de palavras, já tinha se consumado. Depois de conversarem bastante, foram dormi. O dia amanheceu, e antes de sair para trabalhar fez um poema para Rita. Quando ela acordou procurou por augusto mais o que encontro foi o poema. Então ela leu:

No vazio da noite de ontem, minha alma clamava, por perdão, a dor me inflamava. Errei, reconheço com lágrimas no olhar, peço perdão, meu amor, por te fazer chorar.

Minhas palavras foram como flechas afiadas, machucaram teu coração, deixaram marcas gravadas. Perdoa-me, querida, por minha insensatez, prometo mudar, aprender com a dor, refazer nossa paz.

Sei que minhas ações foram uma tempestade, quase que naufragávamos juntos. Imploro por perdão, para que juntos possamos recomeçar a nossa canção.

Que o amor entregue a ti minhas palavras de arrependimento, e que o amor que nos uniu seja nosso fundamento. Aceita meu pedido, deixa-me te mostrar que posso ser melhor, que posso te amar longe das armadilhas das traições.

Perdoa-me, Doce Rita, por te ferir assim. Em teus braços, encontro meu fim. Juntos, podemos superar o passado, seguir adiante, com o perdão como nossa âncora, nosso porto seguro.

Que este poema seja um sincero pedido, de um coração arrependido. Perdoa-me, meu amor, por tudo que causei, e juntos, vamos construir um novo caminho, uma nova lei.

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 28/05/2024
Reeditado em 28/05/2024
Código do texto: T8073404
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.