Dia do Casamento

Eu me senti perdido desde que aquele convite chegou. Com letras tão ornamentais, destacando em dourado os seus nomes. O amor da minha vida, se casando com outro. Eu chorei. Eu gritei. Não conseguia acreditar que era verdade. Não poderia ser. E qual a razão de tripudiar tanto assim de mim? Por qual razão me enviar esse convite? Será que eu fui um namorado tão ruim assim? Que precisava esfregar o meu fracasso em minha cara? Do recebimento do convite até o casamento, foram os piores quinze dias da minha existência. Sem saber o que fazer... Sem dormir... Sem comer...

Na noite anterior do matrimônio, me lembrei de uma conversa antiga nossa, quando deitada em meu peito, brincávamos do que aconteceria se terminássemos. Ela disse que não gostava dessa hipótese, nem de brincadeira, que me amava tanto, mas tanto, que doía. Vi as lágrimas se formarem em seus olhos. Mas, ela também disse que por mim, esperaria, mesmo que com outro ela se envolvesse, esperaria que por ela eu lutasse, não desistisse do nosso amor. Que me daria todos os sinais, mas se não houvesse coragem da minha parte, ela seguiria em frente. Iria tentar ser feliz, mesmo com a dor de saber que ela não era o suficiente para que eu saísse da minha zona do conforto e tomar uma posição. Levantei da cama, agarrei o convite, busquei alguma mensagem escondida. Nada... Mas pensei, por que ela me mandaria isso? Me torturar nunca foi o seu jeito de agir. Seria a minha dica? A última oportunidade?

Talvez eu estava enlouquecido pela dor, e pela noites não dormidas... Me arrumei e sai. Vaguei por aí, buscando coragem. E se eu estivesse errado? Mas, e se não? Rodei de carro vi o dia amanhecer, a tarde chegar... Anoitecer. Num rompante, estacionei do outro lado da igreja, eu vi aquela produção toda, esse nunca foi o casamento dos sonhos dela, me recordei. Ela pode se enganar o quanto quiser, mas ela sofre como eu. Ela não está destinada a ser mulher dele. Não! Ele não a conhece como eu. Entrei na igreja, e a cerimônia já começara... Fiquei escondido no fundo, tomando um gole a mais de coragem. Ela estava linda, parecia uma princesa naquele vestido. Inerte admirando-a, escutei o fim dos votos e a minha última brecha. O padre anunciava, se alguém tivesse algo contra o casamento, falasse agora, eu permanecesse em silêncio para sempre. Pensei comigo, é agora, ou terei que admitir que fui um covarde e não me arrisquei por amor. Notei que o noivo nem se mexeu, olhava sério para o padre, mas ela virou levemente a cabeça, como se esperasse por algo, notei a decepção em seus olhos. E foi assim, como a cena de um filme, bem clichê, quando o padre iria recomeçar a falar, sai do fundo. Gritei, eu tenho tudo contra esse casamento. Senti os olhos recaírem sobre mim, não me importei, agora era tarde para isso.

As lágrimas em meus olhos, o nervosismo da insanidade. Prossegui em direção ao altar, disse que com ele, ela não poderia se casar. Ele estava a exibindo como um troféu, e que ele poderia até gostar dela, mas amor... O amor dela era eu. E que se ele quisesse me bater, eu não iria nem me defender, por ela valeria a pena. Eu exibiria o olho roxo como uma prova do meu amor. Mas eu só iria sair de lá, com ela ao meu lado. O murmúrio era difícil de distinguir, eu estava tão nervoso, e agora que comecei, não parava de falar, de declarar o meu amor. Olhando para ela, eu a recordei da minha promessa, admiti que a deixei partir, mas não a esqueci. Disse em bom tom, que não deixaria ela ir, uma segunda vez... Envelheceremos juntos. Teremos filhos, netos e bisnetos. Serei seu, e você será minha. De hoje e para sempre. Ela não se segura, com lágrimas borrando sua maquiagem (ela não se importou) e ainda assim era a mulher mais linda. Se jogou em meus braços. E eu a recebi. A abracei, com os braços em volta de sua cintura, e com os braços em meus ombros... O tempo parecia parado, o ambiente vazio... Por um instante, senti pena do coitado, eu estava roubando dele, a melhor mulher do mundo. Não, não é verdade. Eu não estava roubando dele, pois ela nunca foi dele para início de conversa. A beijei. Sem me incomodar com o lugar, com o noivo e os convidados. O melhor dos beijos: o do recomeço. Escutava aplausos entre falas condenatórias. Eu tinha que tira-lá dali. Perguntei se ela confiava em mim, com meus lábios entre os delas, ela só balançou a cabeça. Segura em meu pescoço, passei o braço em suas pernas, a tirei do chão e sai da igreja sem olhar para trás. Apenas com aquele olhar castanho, brilhando de lágrimas... Lágrimas de felicidade, me olhando. Eu sabia naquele instante, não conheceríamos mais o fim, era destino. Mais que isso, era amor. Sempre foi. A coloquei ao meu lado do carro, e partimos rumo ao horizonte. Prontos para reescrever a nossa história.