ANJO LEDO.
"Os sonhos são pontes suspensas entre o mundo dos desejos e as nossas memórias, sonhar é ligar esses dois mundos e transitar por eles, desfrutando de seus mistérios."
O meu nome é Conde Olafec Orcam, sou um poeta apaixonado, sobre mim basta isso e nada mais. O relato que vou lhes contar é de grande relevância; refere-se a certo anjo ledo, que surgiu em minha vida há alguns anos, quanto ao título, deve-se ao fato dela ser uma mulher belíssima, muitíssimo especial, ainda não encontrei na terra beleza que eu possa fazer comparação. Nada é mais vívido, nada é mais dócil, nem todas as flores do mundo tem semelhante perfume, nada, exatamente nada neste mundo se compara a beleza desse anjo ledo, ela é simplesmente divina. Esses relatos desrespeitam a minha vida e história, confesso que, fiquei pensativo em como começar a contar, mesmo porque o anjo ledo aos meus olhos tem qualidades divinas, que supera em muito o reles mortal que sou, não é só pela beldade magnífica, vai muito além disso, esse anjo ledo tem algo simplesmente mágico, um poder conquistador irresistível.
Os seus negros olhos falam ao coração mais duro, a graciosidade se seu sorriso toca a alma mais distante. Eu nunca fui de crer em histórias sobre personagens mitológicos, pelo menos não era antes de conhecer o anjo ledo, conhecendo-a agora, eu posso afirmar categoricamente que ela é a própria Afrodite personificada, eu não estou exagerando ao afirmar que ela é a deusa do amor e da beleza, por esse motivo a chamo de anjo ledo, anjo que arrebatou-me a alma com apenas um olhar, e que aprisionou-me o coração com apenas um sorriso.
Eu sempre ouvi dizer que o amor é forte e arrebatador, e também sempre pensei que já o havia conhecido e o experimentado, mas em um belo dia, esse anjo ledo surgiu no horizonte dos meus olhos, tudo então mudou, percebi que eu ainda não tinha conhecido o verdadeiro amor. Aos poucos o meu coração foi se rendendo a sua beleza, ao brilho intenso do seu olhar, ao sorriso cativante, de forma despretensiosa ela foi me conquistando, dia após dia, no início tentei resistir, tentei fugir desse amor, confesso que não tive forças, algo dentro de mim dizia que esse era o grande amor da minha vida, e, por mais que eu tentasse impedir, seria simplesmente inútil, nada é mais poderoso que esse amor, não há como fugir dele. Quando estou próximo dela, fico observando-a; na verdade admirando o que ela faz, o jeito dela se sentar e cruzar as pernas, o jeito como ela arruma os cabelos, aquele olhar de canto de olho, os sorrisos em momentos de descontração, o jeito charmoso e sexy de andar, a sonoridade da sua voz, enfim, tudo nela é maravilhoso demais. Quando me atenho a estas cenas, confesso que choro por dentro, isso mesmo, eu derramo rios de lágrimas na minha alma, até quase me afogar em um descontrolado desejo de abraçá-la e beijá-la, de tocar aquele corpo, de possuí-lo em meus braços, de sugar a seiva virgem daqueles seios, de sentir a maciez de seu sexo.
Como é difícil controlar os meus desejos, como é difícil te amar desmesuradamente, como é difícil mirar os teus lábios imaginar os teus beijos sabendo que não está no alcance desse pobre mortal, não posso desfrutar das delícias que se esconde nestes pequenos lábios, neste corpo nu, esse é, e sempre será o meu eterno desejo, impossível desejo. Amar o anjo ledo não fazia parte dos meus planos, mas o destino quis que acontecesse, e quer saber de uma verdade; foi a melhor coisa que já me aconteceu, este divino sentimento me renova a mocidade todos os dias, a magnífica e glorificada beleza do anjo ledo me revigora.
Os dias foram se arrastando no palco da minha vida, e sem tê-la ao meu lado, os dias não passavam, se arrastavam lenta e dolorosamente. Enquanto no mais profundo da minha alma a saudade flagelava o peito em chagas incuráveis, doi muito saber que nunca a terei, doi ter tanto amor dentro do peito e não poder dividir com ela.
Depois de mais uns dias vieram os sonhos, como se fosse uma forma de castigo imposta a mim, quero lhes falar sobre esses meus sonhos, pelo menos um deles, se eu fosse contextualizar a todos, certamente daria um livro enorme, mas vou lhes narrar o que mais mexeu comigo, digo isso pela forma como ele pareceu-me real, tanto que chorei ao despertar, eu queria que aquele sonho fosse eterno.
O sonho deu-se da seguinte maneira:
“Era noite, e estávamos em um quarto muito bonito por sinal, mas não era quarto de hotel, nele havia uma cama enorme e redonda, havia também um espelho no teto enorme, eu estava deitado totalmente nu, quando ela entrou de repente, o seu perfume tomou todo o ambiente, quase enlouqueci, aquele corpo nu, os seios redondos, pele morena, mamilos endurecidos, a pele brilhante, sua intimidade como a flor de açucena, úmida, pedindo que eu a penetrasse, uma música tocava baixinho, então ela se aproximou, eu senti o calor daquele corpo juvenil, e aqueles lábios de mel tocaram os meus em ardentes e descontrolados beijos, e desceu até meu sexo. As minhas peregrinas mãos tocaram cada centímetro daquele corpo, sentindo aqueles mamilos vermelhos, endurecidos, esfregando-se em mim, a sua umidade latejante escorrendo em mim, o espelho no teto refletindo a sua nudez, nossos corpos suados, ela por cima de mim, nossos corações acelerados, foi incrível, parecia real."
Ainda agora consigo sentir o sabor de seus lábios, o meu corpo inflama só em lembrar-se do sonho; depois de despertar chorei de tristeza por ser apenas um sonho, um desvario da minha imaginação enlouquecendo.
Eu te amo anjo ledo, com todas as forças do meu coração, mesmo sabendo que você nunca será minha, ainda sim te desejo, sou um reles mortal, indigno de possuí-la, divino ser dos meus sonhos noturnos. Permita-me falar um pouco mais de você, o quanto admiro sua beleza. O que eu mais gosto em você é esse seu jeito inocente e despreocupado, é o seu jeito de seduzir sem saber que está seduzindo, a sua inocência angelical me faz esquecer que vivemos em um mundo caótico e preconceituoso, amo você. Os teus ideais tão bem definidos, a tua candura, o teu jeito de encantar até mesmo as flores, te amo anjo ledo. Seu corpo, se me permite dizer, é perfeito; esplendoroso. Os negros olhos conseguem penetrar no mais profundo da minha alma, os teus pequenos lábios tão bem desenhados arrancam da lira do amor os suspiros e as notas mais ardentes, os seus belos seios, me faz perder em mil imaginações e desejos de amor. As tuas pernas formosas tão bem desenhadas, tem no diâmetro a perfeição do pecado, não estou exagerando quando digo que na face desta terra, não há beleza maior, me tornei poeta somente para ser seu escravo, um servo fiel desse platônico amor, amor de minha salvação.
Um pedido ousado tem a lhe fazer, anjo ledo de meus sonhos de amor, embora eu saiba que tal pedido é impossível; mesmo assim eu te suplico.
“ Desnuda-te da sua divindade, renegue o seu alto trono, desfaça de suas asas, e torna-te mortal tal como sou, despe de sua glória e faça parte desse mundo mortal e pecador, meu coração já é teu, permita que o seu coração, nem que seja por um minuto apenas, seja meu também. Permita que os meus lábios tenham os teus beijos, e os meus braços os teus abraços, nem que seja por um minuto apenas, basta esse minuto para que tudo se torne eterno.
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“É difícil explicar as coisas do coração, quando a razão está dizendo que é loucura; da mesma forma, é impossível de explicar a razão, quando o coração diz que é loucura, uma se opõe a outra.”
Eu sou apenas um poeta solitário, sem destino certo, caminhando pela cidade, tendo como tesouro apenas as palavras, e a disposição em lhes contar mais esses pormenores. Talvez eu seja um louco, talvez cada leitor me julgue como louco, seja como for, de certa forma talvez eu seja mesmo louco, e aceito tal sentença. Eu já lhes contei sobre certo anjo ledo, que surgiu em minha vida, de repente, sem avisar ela surgiu e sem piedade ela enlouqueceu-me. Desde então, do momento em que meus olhos viram aqueles belos olhos brilhantes, minha vida virou do avesso.
O amor foi crescendo dentro do meu peito, crescendo como uma erva, envenenou o meu coração, tomou a minha alma, escureceu a minha razão. O que vou lhes contar me sobreveio pouco depois daqueles primeiros dias, o anjo ledo que se mostrava oculta e inacessível, respondeu aos meus anseios e aos meus pedidos.
Era uma bela tarde de domingo, Sorocaba, primavera, as flores desfilavam toda a sua beleza no jardim próximo a minha residência. Na tarde daquele domingo eu resolvi caminhar, buscar novos ares, sentir o perfume de outras flores em um jardim mais próximo, levantei-me de onde estava, e lentamente fui à outra praça. Perdoe-me, mas não me sinto à vontade para lhes revelar mais do que já foi dito. Lá estava este poeta, no ofício de sua labuta, buscando no âmago do coração a inspiração de cada verso. Desde que comecei a escrever, sempre risquei meus textos e poemas em um modesto moleskine, somente depois que os passo para a máquina de escrever, isso antes do advento da modernidade, agora, neste tempo de modernidade, existem computadores, essas maravilhas da tecnologia, que na verdade são máquinas de escrever glorificadas, mas o meu processo criativo segue sempre a mesma sequência. Naquela manhã, uma inspiração inesperada tomou meu coração, a minha cabeça estava cheia de palavras de amor, o motivo, - foi certo sonho com o anjo ledo -, seguido de uma mensagem, ardente mensagem de amor. Ela havia correspondido, e respondia positivamente, meu coração parecia explodir dentro do peito.
Cheguei a praça da matriz, silencioso, poucos transeuntes passavam ali, no pensamento, o sabor do sonho, o sabor daqueles lábios de mel na memória, o sexo ardente, queimando a pele como fogo, a lembrança daquela mensagem, o sabor do pecado estava ao alcance dos meus lábios, a minha razão conflitava com o meu coração, a razão dizia que não, o coração dizia que sim. Eu não sabia a quem ouvir, eu desejava e muito o anjo ledo, mas era um amor proibido, impossível, mas que se configurava possível. Minha idade, minha posição social, meus compromissos políticos, tudo se opunha a esse amor, mas o meu coração, que por tanto tempo a desejava, me dominava naquele momento. Sentado no banco da praça, eu comecei a rabiscar algumas palavras, era a forma que eu encontrava para descarregar o excesso de sentimento em mim.