Doutora Carol e Doutor Severino

Doutora Carol ( parte 1 )

Carolina não desapontava os pais e só tirava nota 10 desde o início dos seus estudos . Cresceu num ambiente sadio com apoio e cheio de certeza nas coisas que fazia . Tornou-se uma jovem linda de olhos castanhos claros e cabelos castanhos escuros . Seu corpo escondido sob um habitual vestido longo muito discreto , ainda assim deixava transparecer um corpo esguio de coxas grossas e bumbum volumoso. Ela não gostava de se ver apenas como uma jovem bonita , um pedaço de carne ... era super inteligente e tinha um desejo escondido de se formar em medicina . De certa forma , até já tinha certos dons nessa área ,porém a jovem sabia que seus sonhos não poderiam se realizar devido a ser um curso caro e sua família jamais teria condições de custear ,pois seu pai trabalhava na ferrovia como maquinista e sua mãe era costureira .

Muito jovem com 16 anos e consciente da sua situação financeira, não falava nada para os pais , então decidiu fazer vestibular para enfermagem e passou de primeira para estudar na UFPB ( UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA ) com uma das maiores notas , o que causou muito orgulho para os pais .

Iniciou o curso e começou, como sempre , compenetrada nos estudos até conhecer o Higor , um rapaz de família rica que morava na orla num palacete . Higor cursava engenharia e foi por acaso que conheceu a Carol numa das diversas vezes que ela visitava a imensa biblioteca universitária . Higor , por ser rico , tinha diversos amigos , um dos quais , que conhecia a Carol , indicou-a para que o rapaz a pagasse para fazer um trabalho escolar que era para ele já ter entregue . Carol tinha facilidade de resumir trechos ou textos completos e era perfeito para o ricaço que não tinha muita vontade de estudar - tinha tudo às mãos! Era um rapaz de corpo atlético que conseguiu a atenção da reservada Carol que o achou um gato , muito bonito , mas se conteve em só fazer o trabalho e entregá-lo e receber o bônus do seu labor . Por sua vez , Higor que tinha tudo às mãos, estranhou que aquela jovem tão bela não estivesse interessada por ele como as outras que ele saía . Esse foi um desafio para o riquinho. Então, ele decidiu conquistar a linda pobretona e depois deixá-la na rua da amargura . Não foi fácil, mas o que não faz o dinheiro? O Dom Juan a levava para sua casa , a dela ; a convidava para ir a restaurantes luxuosos e até dizia que estava apaixonado. Fazia de tudo para ganhar a confiança da jovem . Até comprar flores, que detestava, o janota comprava para quebrar o escudo daquela armadura inquebrável.

No início, Carol , uma menina super equilibrada e determinada no que queria , resistiu , mas com as diversas tentativas do vadio , a menina ainda com 19 anos decidiu seguir os conselhos dos pais que via ali , naquela união, uma forma da moça se dar bem na vida . O pai pedia cautela e a mãe lhe dava liberdade.

Passou-se o tempo e o relacionamento entre os jovens já chegava a ser visto como que ia dar casamento. A moça estava apaixonada e o rico se sentia vencedor ao lado do seu troféu. Para ele ,ela era apenas mais uma conquista e, para ela ,que nunca tinha namorado , ele era o tudo na sua vida .

Seis meses se passaram nesse namoro e a jovem já o tratava como seu homem e até relaxara nos estudos e daí, quis fazer uma surpresa para seu amado e foi visitá-lo na praia de Manaira , em seu palacete . Ao chegar no endereço num táxi telefonou para ele do seu celular e ele ficou muito irritado com aquela atitude e disse para ela que ainda não era hora dos seus pais conhecê-la . Assim , pediu para que ela retornasse e na segunda-feira seguinte eles se veriam na Universidade. Ela estranhou aquela atitude partindo do homem que jurava lhe amar e que nem descer para vê-la quis descer .

Ela voltou chorando e não disse nada aos pais sobre isso e a desculpa foi que ele não estava em casa . Passou a noite do domingo pensando no que iria fazer e decidiu trancar a matrícula e arrumar um trabalho. Ela já era uma mulher e deveria ajudar aos pais com as despesas .

No dia seguinte, na segunda-feira pela manhã ,como era de sua personalidade forte e decisiva , chegou ao centro de ciências decidida a trancar a matrícula, mas a primeira visão que teve foi a de Higor com uma outra moça loira aos beijos na praça da alegria , como os jovens chamavam o centro de convivência o C.C.M.S. ( CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SAÚDE) . Até fazia de propósito aquelas cenas ciumescas . Aquilo foi uma bofetada no rosto da jovem que , por ser muito forte de caráter, nem olhou novamente para a cena que se desenrolava a sua frente.

Decisivamente, Carol fechou a matrícula já no quinto semestre faltando mais três para fechar o curso. Até os estágios em hospitais da capital paraibana ela decidiu cancelar e ao sair do Centro , uma professora que a admirava , chamou-a para uma conversa . Viu a tristeza nos olhos da garota e disse :

--- Por que você não tenta medicina . Eu lhe ajudo com os materiais . Você tem futuro. Não se abata com uma derrota, porque haverão outras derrotas em sua vida e todas serão ensinamentos. Vá para casa e deixe o tempo se encarregar de fazer desse momento um passado longínquo. Vai , minha filha , não desanime nos estudos .Levante a cabeça e se concentre nos seus objetivos. Sei o que a decepção pode fazer na vida das pessoas . Quando você estiver pronta venha conversar comigo . Estarei aqui esperando por você.

Essa professora era médica cirurgiã no hospital universitário e em outros hospitais . Sua especialidade eram as cirurgias plásticas e bariátricas . Tinha visto na jovem Carol um talento natural nas aulas práticas com cadáveres e uma ânsia insaciável de aprendizagem enquanto os outros alunos tinham um certo receio , ela anotava , perguntava , se interessava .

Logo quando chegou a casa , Carol contou aos pais o que havia acontecido e eles a apoiaram como sempre e tentavam lhe confortar . O pai lhe falou para voltar à universidade para falar com a Dra. Magda , a que lhe tinha oferecido ajuda . Ela ainda sofria com aquele sentimento insano pelo Higor e aquela cena que tinha visto na praça da alegria era constante . Ele não podia ter feito isso com ela , dizia para si própria.

O tempo passou e a moça viu que era besteira ficar trancada dentro de casa por conta de homem. Decidiu sair e se abrir novamente para a vida e trancar de vez seu coração para qualquer homem enquanto não tivesse seu futuro assegurado . Foi conversar com a professora e falou para ela que iria fazer novo vestibular , desta vez para medicina .

A doutora Magda ficou muito feliz com a jovem e assegurou-lhe ajuda como havia prometido.

Carol prestou vestibular novamente passou como sempre com uma das maiores notas e a professora ,muito feliz, sabia que ia investir numa futura baita médica .

Muitas disciplinas do curso de enfermagem que a Carol não tivera concluído , serviu para encurtar o novo curso que com 25 anos terminou sem repetir um semestre .

Foi trabalhar no Hospital Santo Antônio depois de formada , um hospital que só atendia particular e a quem tivesse plano de saúde.

Fazia um ano que a cirurgiã geral , doutora Carol , dava os seus plantões nesse hospital e era muito respeitada pela sua habilidade com o bisturi nas mãos. Alguns médicos a admiravam e outros , por ela ser mulher , tinha esse sentimento de machismo dizendo que ela não era tão boa médica assim .

Certa noite , depois de um plantão de 12 horas,a doutora Carolina voltava para casa e ia pegar seu carro no estacionamento do hospital quando ouviu um gemido de dor . Esses gemidos vinham de uns matos que havia além do estacionamento privado do hospital . Carolina pergunta :

--- Quem está aí? Você está bem ? E foi chegando perto de um mendingo o qual tinha barba e cabelos brancos emaranhados e compridos ; roupas rotas e sapatos com solas estouradas . O mendingo todo sujo , fedia a podre ,a sujeira e a doutora foi se chegando perto para examinar com cuidado o pobre coitado, o qual estava com uma expressão de dor insuportável.

Ela examinou o idoso que sofria gemendo sem poder dar uma palavra .

Ele colocava a mão abaixo do abdômen pressionando como se quisesse parar a dor e ela entendeu que aquilo era grave .

Por experiência a doutora Carol comprimiu o lado direito do velho , próximo ao figado ; viu o inchaço exagerado do abdômen e sentiu que se não fizesse a cirurgia logo , aquela pessoa não resistiria.Era uma colistite alistiasica , deduziu . De imediato, ela telefonou para a enfermeira de plantão e pediu uma maca no local do achado, pois era um caso de urgência.Se pensassem em levá-lo a outro local a inflamação iria se agravar e o paciente poderia vir a óbito.

Alguns minutos se passaram e veio o maqueiro junto com a enfermeira e a maca achando que o caso era com a doutora , mas ao se depararem com um mendingo velho e todo sujo ,hesitaram e a enfermeira falou para a doutora:

--- Doutora Carol, a senhora não pode fazer isto porque esse senhor não tem dinheiro para ser tratado neste hospital. Temos que chamar o SAMU para o levarem ao hospital do SUS .

A doutora insistiu e pediu ao maqueiro para colocar o velho na maca , pois não teria outra forma de salvar aquele senhor se não fizessem uma cirurgia urgente .

O maqueiro obedeceu e ao adentrar novamente no hospital com o velho todo sujo em cima da maca o médico que havia rendido a doutora Carol no plantão se recusou a fazer a cirurgia e disse que ela deveria estar descansando e não criando problemas para a vida dela .

A doutora não ligou e pediu para

Preparar uma sala de cirurgia onde ela faria o procedimento.Levaram o velho para lá e a doutora começou a cirurgia às 19:30 h. quando foi 23:30 h. terminou o procedimento cirúrgico .Ela mesma cortou todos os pelos do paciente , cortou a barba e cabelos e arrumou uma roupa para o mendingo o qual estava sedado e dormia ressonando tranquilamente sobre uma cama quentinha . Quando ela chegou a casa dos pais , os quais estavam muito preocupados, era quase 01:00 h. Contou o ocorrido aos pais e a mãe preocupada com o que iria ocorrer disse que ela não deveria arriscar o emprego dela para ajudar um velho mendingo.Já o pai, como sempre lhe dava razão, disse que se ela perdesse aquele emprego com certeza iria arrumar outro e ela estava cumprindo a sua missão: a missão de um médico era salvar vidas . --- Filha , não se importe com isso que depois tudo se arranja.

No outro dia , Carol estaria de folga , mas foi ao hospital para acompanhar a recuperação do seu paciente .A polêmica estava no ar e ao chegar ao hospital, foi alvejada por olhares de pesares e outros olhares de admiração. A enfermeira chefe comunicou para ela que o diretor financeiro do hospital estava querendo falar com ela . Ela foi ao gabinete do chefe , por nome de Arnaldo. Era um sujeito insensível que só pensava em dinheiro apesar de também ser formado em medicina, mas a sua habilidade pendia para a administração e não para curar ninguém :

--- Pode entrar , doutora. Sente-se .

Estou sabendo o que a senhora fez . Trouxe um mendingo doente para cá e fez procedimentos cirúrgicos de emergência. Acho isso muito bonito e emotivo , mas como a senhora sabe , o hospital vive do dinheiro que ganhamos com os atendimentos. Pagamos os salários dos funcionários com esse dinheiro e esse senhor não tem dinheiro nem plano de saúde. A pergunta que não quer calar é: quem irá pagar essa intervenção cirúrgica? É a senhora ? Esse senhor está causando transtornos para os nossos outros pacientes e quem iremos processar , haja vista que só hoje retiraram do nosso hospital 5 pacientes porque as famílias não queriam pegar bactérias desse mendingo? Vamos processar ele ou a senhora?

Há um outro agravante que acho que a senhora não sabia : estou esperando fiscais do Ministério da Saúde junto com o auditor fiscal da nossa rede hospitalar . Estão para chegar aí e com certeza seremos rebaixados na nossa qualidade de excelência.Quem vai sofrer essas consequências, o hospital? Por isso, doutora, a senhora está despedida por justa causa por não seguir os padrões da nossa rede de hospitais.

Carol encarou o doutor , baixou a cabeça e disse :

--- Eu vim aqui para ver se o paciente teria condições de ser removido para um hospital público, só que ainda está muito fraco e o hospital público mais próximo é o hospital universitário. Só que ele não tem condições de ser removido sem que seu quadro não se agrave . A cirurgia foi feita com o mínimo de material possível.

Arnaldo diz:

--- Não se preocupe, doutora , estamos providenciando essas coisas e o que quero agora é que a senhora vá embora. Passe no RH da empresa e faça as contas com os descontos da cirurgia . Quanto ao mendingo iremos chamar uma ambulância do SAMU e o enviaremos com o máximo cuidado para o hospital público. Não precisa a senhora se preocupar.

Era 11:00 h. de uma manhã ensolarada com um céu azul brilhante. Carol se dirigia para casa no bairro de Miramar , a casa dos pais onde se sentia segura e confortável. Não se sentia arrependida do que tivera feito até estava aliviada com a sua demissão, pois não tolerava a cara de fuinha do Arnaldo, um médico puxa-saco , que adorava oprimir seus subordinados para impressionar a direção da rede de hospitais Santo Antônio . Ele tinha interesse de chegar a um cargo mais alto.

Carol chegou a casa dos pais calmamente tirara um peso das costas e se sentia mais leve .O semblante agora era de liberdade e despreocupação com empresa alheia . Queria ser médica no sentido do juramento de Hipócrates e não uma escrava do dinheiro. Tinha sua personalidade forte e nada compraria sua ideologia.

Assim que entrou em casa , sua mãe corre para dizer que haviam telefonado do hospital querendo falar com ela . Era um médico por nome de Arnaldo e Carol passou direto para seu quarto sem dar importância para esse aviso. Estava se sentindo livre , leve e solta .

................................................................

Doutor Severino Feitosa Tavares ( parte 2 )

A doutora tinha se despedido dos colegas de trabalho dos mais chegados , mas não gostava de se despedir, achava um saco , então, saiu pela porta de serviços para não se demorar naquele local . Não ter que ficar conversando, explicando, se despedindo . Enquanto isso ,pela porta principal entrava um grupo de fiscais do Ministério da Saúde junto com o auditor da rede Santo Antônio de hospitais e na frente ia o puxa-saco Arnaldo mostrando as dependências do hospital em pauta. Estava tudo como manda o figurino de higiene, porém ele ainda não tinha tido tempo de enviar o velho mendingo para um hospital público e falou para um técnico que agilizasse essa transferência com urgência . Isso ao pé do ouvido.

Arnaldo ia mostrando como aplicava o dinheiro e quanto eram os lucros ao auditor. A quantia era alta e o hospital tinha muito lucro . Era um dos hospitais dessa rede que dava muito certo . O auditor que era paraibano , mas vivia viajando direto pelo enorme país pediu que enviasse o balancete semestral via Internet para analisar a prestação de contas . Não tinha tempo para ficar olhando esses processos no momento e os fiscais da saúde iam de sala em sala conferindo e anotando as melhoras e o que tinha que mudar . Era um serviço chato , porém tratava-se da saúde do cidadão e de repente um dos fiscais observa uma cama sendo empurrada pelos fundos do hospital:

--- Ei , senhor , posso dar uma olhada no paciente que vai aí?

O técnico em enfermagem parou e disse que estava fazendo uma transferência:

--- Estamos fazendo a transferência deste senhor porque ele não tem condições de pagar as custas médicas e hospitalar . Estamos transportando para o hospital geral do SUS .

O fiscal pediu para ver o paciente e anotou alguma coisa no seu questionário.

O auditor que vinha atrás conversando com o Arnaldo parou surpreso com o paciente o qual estava com a cabeça à mostra e perguntou surpreso :

--- Quem é este senhor aí?

Arnaldo falou a verdade:

--- É um mendingo que uma doutora que trabalhava aqui, encontrou na rua com um estágio avançado de colistite alistiasica . Ela fez sem consentimento uma cirurgia de emergência no nosso hospital e como ele não tem plano de saúde ou dinheiro estamos fazendo a transferência dele para um hospital do SUS . Por conta dessa quebra de regras despedimos essa doutora.

O auditor , por nome de doutor Severino Feitosa Tavares , pergunta onde está a doutora , pois queria saber qual o quadro de saúde do paciente. Todos ficaram surpreso pelo interesse do auditor pelo doente .

--- Faça o paciente voltar , disse o médico.

Ocorre que dois anos antes um empresário por nome de José Feitosa Tavares tinha sofrido um acidente automobilístico. Seu carro tinha descido sem freio a serra da Borborema entre Galante e Campina Grande no interior da Paraiba e seu corpo não tinha sido encontrado no local . Procuraram o corpo por todo o local . A polícia fez uma varredura na vegetação e não obtiveram êxito na localização do corpo . Só encontraram o que havia sobrado da mercedes .

A polícia científica , através de exames mecânicos, constatou que o freio do carro havia sido adulterado .

Havia muitas hipóteses sobre o desaparecimento do corpo do velho , mas a família Feitosa Tavares que é grande e poderosa nos Estados do Ceará, Pernambuco e Paraiba , naquela região Nordeste , não perdia a esperança de um dia encontrar seu pai . Tinham até contratado investigadores particulares para achar o velho vivo ou morto e as investigações pendiam para o neto do velho por nome de Higo Feitosa Tavares como um dos prováveis assassinos . Se desconfiava que o neto tinha mexido no freio do carro , pois ele estava com o avô na cidade de Campina Grande no dia do acidente . Tinham ido construir um outro hospital na tal cidade . Ele estava sendo vigiado dia e noite e até haviam rastreadores nos seus carros , pois a família tinha interesse de fazer um enterro descente para o descendente da cearense Antônia Alves Feitosa, a grande heroína da Guerra do Paraguai 1848 a 1867 . José Feitosa Tavares o qual estava desaparecido ,era um dos bisnetos mais novo dessa figura lendária .

O auditor, doutor Severino Feitosa Tavares , pediu para o Arnaldo colocar o velho no melhor apartamento do hospital e exigiu a presença da doutora no local para saber qual o quadro geral do paciente.

O doutor Arnaldo cansou de telefonar de vários telefones dos servidores do hospital e inclusive o doutor Severino Feitosa também tentou , mas nessas horas , doutora Carol tinha desligado seu celular . Não estava querendo se comunicar com ninguém. Estava curtindo as férias e iria mais tarde conversar com a amiga doutora Magda para contar as novidades e veria se a colega lhe ajudaria . Também pesquisaria se tinham colocado o velhote que ela havia salvo para o hospital universitário . Dormiu a tarde toda como nunca e foi acordada pela mãe dizendo que havia um senhor alto de bigode a chamando para uma conversa. Era umas quatro horas da tarde .

A doutora levantou-se curiosa sem saber quem era e o motivo pela importunação. Abriu a porta e viu um senhor de uns quarenta e poucos anos , de bigode, sentado num dos sofás de sua humilde casinha de bairro . Perguntou:

--- Olá, senhor , em que posso lhe ajudar ?

O doutor surpreso com a beleza da jovem doutora , passou a mão ajeitando o grosso bigode , falou :

--- Pensei que a senhorita fosse mais velha pela façanha de ter detectado uma doença tão grave num paciente . Porém , vim aqui não foi para falar da sua idade, foi para lhe perguntar ,doutora , como é o quadro de saúde daquele sem-teto que a senhorita trabalhou nele ontem a noite . Estou interessado.

--- Doutora Carol, surpresa com a visita, pergunta :

--- Posso saber quem é o senhor e o que quer comigo ? Já fui despedida e possivelmente aquela pobre alma já deve ter ido para o céu. Hoje pela manhã fui ver se ele tinha condições de ser transferido para um hospital público, porém o estado dele é muito grave . Percebi que havia uma cicatriz no lóbulo frontal , o que pode indicar uma pancada muito forte que ele recebeu e por isso pode estar com amnésia, porque ele nem sabia o nome e está sem documentação . Não tenho mais interesse nessa história. Por favor , não me pergunte por algo que me sai do poder .

--- Senhorita , desculpe por ficar surpreso com a sua idade , pois médicos mais experientes não fazem esse tipo de avaliação sem exames e a senhorita na hora viu que o paciente precisava de uma cirurgia . Parabéns! Eu sou o doutor Severino Feitosa Tavares . Sou auditor da cadeia de hospitais Santo Antônio . Meu pai é o doutor José Feitosa , médico muito competente que iniciou essa rede de hospitais no Brasil. Fez uma sociedade com outros médicos e o primeiro hospital foi o de Fortaleza no Ceará. Hoje faço parte da diretoria da sociedade, porém meu pai continua sendo o diretor presidente.

Enquanto a conversa entre os médicos se desenrolava , a mãe de Carol vinha da cozinha com um café fresquinho nas melhores xícaras que tinha na casa e ofereceu ao doutor e à filha . Ela pegou sua xícara, queria que o sono , o cansaço passasse , queria conversar com a colega , doutora Magda mais tarde e, começou a relatar o ocorrido da noite passada quando encontrou o mendingo sofrendo com muita dor no lado direito do abdômen, acima do fígado. Ela encerrou dizendo que houvera deduzido que era uma inflamação na vesícula biliar , pois o paciente apontava para o local e gemia muito quando ela apertava no local . Nada de mais . Só um médico sem noção não teria percebido.

O doutor Severino perguntou a idade dela por ter ficado muito impressionado com a decisão dela e disse que se ela quisesse poderia voltar a trabalhar novamente no hospital e queria que ela, pessoalmente,tratasse daquele senhor que ela havia salvo .

A doutora desconfiada e sem vontade de voltar atrás disse :

--- Nunca mais porei os pés naquele lugar. Isso se não mudarem algumas coisas como por exemplo , despedir aquele doutor Arnaldo que é um pobre coitado que vive puxando o saco da direção para ter um lugar ao Sol. Aquele doutor é difícil de engolir, dá nojo... outra mudança é que o hospital admita que os médicos exerçam a sua profissão sem pressão vindo do alto . Os servidores trabalham com medo de tudo . Sem pressão as coisas seriam mais fáceis e tudo fluiriam mais a contento ... mas não estou a fim de voltar a este hospital , não. Se o senhor puder transportar o paciente para outro hospital quando ele estiver em condições de ser transferido e pagar os meus honorários, irei . Lá não!

Doutor Severino diz :

--- Entendo a senhorita , mas o Arnaldo faz o serviço dele muito bem na direção do hospital . Só tenho a impressão de que ele não é um bom médico, mas é um ótimo administrador e acho que a senhorita não voltará como uma simples médica. A senhorita será a chefe médica, a direção médica ficará ao seu encargo e a direção financeira do hospital será do Arnaldo. Seu Salário será quadruplicado e a senhorita terá linha direta comigo . Liguei para a senhorita diversas vezes durante o dia e o meu número está gravado no seu telefone. Se a senhora quiser a partir de amanhã cedo estarei no hospital junto com o Arnaldo para explicar exatamente qual será a função dele .

Carol surpresa perguntou se aquilo era sério e o doutor disse que sim . Apertaram as mãos e ficou certo para ela começar no outro dia.

O homem saiu da humilde casa dos pais da Carol e a mãe dela que naquele momento escutava tudo por trás da porta da cozinha , abriu- a a sorrir , dizendo que Deus escreve certo por linhas tortas .

Carol que acompanhara o senhor médico até a porta , apertou a mão dele novamente e confirmou o acordo de estar às sete no Santo Antônio . Viu quando o motorista abriu a porta da Range Rover deixando o patrão entrar e saíram .

............................................................

Carol e Severino ( Parte 3 )

Sete horas de uma sexta-feira fria e nevoada Carol desce de seu carro e é recebida pelo doutor Severino na porta do hospital :

--- Bom dia , doutora . Vamos à sala da administração.

Ao adentrar no local , o Arnaldo estava lá,sentado numa das pontas da mesa . A doutora sentou-se num dos lados e o doutor acomodou-se de frente para ela . Começou:

--- Doutor , Arnaldo, eu sei que estou desfazendo uma decisão correta sua , mas no momento em que o senhor falou sobre uma médica ter feito uma cirurgia pelo sintoma sem ter que fazer exames e ter salvo uma vida , foi o motivo maior de eu me interessar pelo retorno da profissional ao nosso quadro de servidores. Não se deve jogar fora um talento nato . Então, a partir de hoje a doutora Carol será chefe médica e o senhor será o médico administrador do hospital . Ambos irão trabalhar em conjunto e eu gostaria de ver harmonia nessa união.

Doutor Arnaldo que era o manda-chuva da área , baixou a cabeça, pigarreou e disse :

--- Não entendi, senhor auditor, pois até hoje este hospital sempre foi um dos melhores e tenho me esforçado para isso .

Eu serei agora só o administrador do prédio e dos materiais que entrarem e sairem do hospital?

Doutor Severino:

--- Sim , senhor e a doutora Carol ficará na sala que era da doutora Sofia , a que o senhor demitiu por contenção de gastos . No caso , ambos estarão ligados diretamente a mim , ao meu telefone . Espero que não haja desavenças entre vocês. O que precisarem poderão combinar entre si e a doutora poderá começar ou desistir se quiser amanhã . Por enquanto, gostaria de bater um papo em particular com a senhorita a sós.

O senhor pode sair doutor Arnaldo.

Doutor Severino que estava sentado, levantou-se e disse :

--- A senhorita deve estar muito curiosa sobre todos esses acontecimentos e vou lhe contar em partes : aquele sem-teto que a senhorita salvou pode ser meu pai o qual desapareceu há dois anos atrás depois de um acidente automobilístico . Há suspeitas de que houve uma tentativa de assassinato provocado por pessoas da família e esse acidente foi tão distante daqui que ainda duvido que este senhor seja o meu pai , pois ele está muito magro e acabado . Por isso eu gostaria que essa conversa não saísse daqui e que a senhorita quem especialmente cuidasse dele . Pode ser meu pai , mas há tanta gente parecida uma com a outra que ninguém tem certeza de nada . O que a Senhorita puder fazer para ele se lembrar das coisas , vou lhe ser muito grato .

Há muitas controvérsias no acidente em que ele se envolveu e suspeitas de conspirações . Não deixe essa conversa se espalhar ,por favor . Se houve alguém que queria assassinar , meu velho , poderá tentar novamente se souber que encontramos ele novamente .

Estavam conversando na sala e Carol foi se levantando em direção às enfermarias e apartamentos. Conversava com um ? Acenava para outro ... Ao chegar no apartamento do sem-teto ela entrou e o Severino entrou atrás . Carol examinou o velho olhando a cara do velhote como se fosse algo especial que tivesse a ajudado , mas procurava traços do velho no médico. Enquanto isso o doutor Severino continuava a falar sobre a situação e

a doutora Carol ouvia-o ,atentamente e, quando ele falou na suposição de alguém poder vir terminar o serviço , ela ficou aflita e disse :

--- Doutor Severino ,se é para correr risco , não é melhor retirá-lo daqui para um local seguro? Alugar uma casa e montar uma estrutura para que ele fique bom logo ? Colocar pessoas que não saibam de nada e nunca tiveram ligação com a sua família para tomar conta ?

Doutor Severino diz:

--- Concordo com a senhorita , mas como lhe disse : pode ser meu pai que hoje estaria com 72 anos , mas esse aí está muito acabado .

A doutora pegou um mata-borrão e um papel pegou as digitais do velho que ainda sedado de vez em quando abria os olhos e foi uma das vezes que ele abriu os olhos e olhou a beleza de um anjo que estava a seu lado .

Carol falou :

--- Pronto ,as digitais para saber se estamos com ele , e logo em seguida colocou um cotonete na boca do paciente. Esfregou o cotonete nas gengivas do velho e o colocou num saco plástico e disse :

--- Se o senhor quiser fazer exames para comprovar estão aí o DNA e as digitais. Muito fácil saber . Enquanto o senhor vai lá fazer esses exames estarei aqui com ele e colocarei um guarda discretamente para que ninguém venha perturbar....doutor, se confirmar que o paciente é de fato seu pai , a polícia deverá ser avisada .

Doutor Severino diz que já havia retirado amostras de DNA para confirmar suas suspeitas e já tinha enviado para o laboratório. Estava esperando o motoboy chegar com o resultado

Doutor Arnaldo costumava controlar tudo naquele nosocomio e colocava câmeras e fones em tudo que era lugar . Assim que saiu da sala de reunião administrativa, foi para a sua sala onde ficava o controle geral dos eletrônicos e ouviu a conversa toda . Ele já tinha ouvido falar sobre o desaparecimento do velho José, mas tinha quase certeza que seu amigo e confidente Higo teria enterrado o corpo do velho no agreste paraibano . Telefonou para Higo :

--- Olá, bom dia amigo . Faz tempo que a gente não se vê e eu tenho uma noticia para você. Talvez você queira pagar por essa notícia, pois é de suma importância para a sua liberdade , acredito.

Higo desconfiado com aquela cobra , pergunta :

--- Que notícia você tem e o que é?

Arnaldo fala como se o gato brincasse com o rato :

--- Acho que encontraram o corpo do seu avô e ele está bem vivinho . Sei onde ele está e só darei essa localização por cem mil reais . Nada mais nada menos.

Higo diz:

--- por que eu lhe daria cem mil reais para saber onde está meu avô? Posso simplesmente pedir ao meu tio para despedi-lo por tentativa de suborno e ocultação de vítima de um atentado.

Arnaldo muito irritado diz:

--- Então, tudo bem . Não vou dizer onde ele está e você será preso quando ele se recuperar .

Higo :

--- É aí no hospital?

Arnaldo ri como nunca ,nessa hora, dizendo:

--- Cem mil reais . É só depositar na minha conta e direi onde ele está.

Nesse meio tempo, já era onze horas,Higo chega à porta principal do hospital entrando para falar com Arnaldo. Ao passar pelo apartamento que o velho estava , Carol viu o infeliz que a fez desacreditar em homens através do vidro da porta e ficou lívida . Mudou de cor .

...................................

Higor Feitosa - engenheiro ( parte 4 )

Fazia 8 anos que Carol havia visto o mal-caráter do Higor e foi justamente naquela manhã em que ela o viu beijar uma loura na praça da CCMS . Naquela ocasião, Carol tinha trancado a matrícula no curso de enfermagem e foi curtir sua dor que durou alguns meses , mas ao vê-lo aquele maldito sentimento reavivou do passado : um misto de ódio e amor , um mal-estar se apossou do seu sentimento que o Severino percebeu .Severino olhou para onde Carol tinha olhado e percebeu pela fisionomia da moça que ela ficou perturbada com alguma coisa e ao mirar para a porta de vidro , disse :

--- Precisamos tirar o nosso paciente logo daqui . Ele também ficou preocupado e Carol percebeu.

--- Quer dizer que o suspeito de ter tentado matado o seu pai foi esse Higor aí? Esse aí já o conheço a tempos .

Carol começou a contar sobre o envolvimento que teve com Higor tempos atrás e a decepção sentimental que teve .

Severino levanta-se de onde estava e começa a preparar o velho para uma transferência de emergência. Chamou uma ambulância particular .

Enquanto Higor estava conversando com o Arnaldo e tentava convencê-lo a dizer onde o velho estava . Arnaldo firmou seu preço em cem mil e teria que ser depositado na sua conta . Deu o número da conta , mas Higor ficou nessa de tentar convencer na conversa e Arnaldo não disse onde o velho estava .

Enquanto isso a ambulância chegou e Carol telefonou para sua amiga , doutora Magda, para colocar o paciente dela no Hospital das Clínicas que é da Universidade. Naquele hospital o paciente ou quem o procurasse iria se perder , pois tinha 14 andares e milhares de enfermarias .

No trajeto para o HC , Severino começou a contar :

--- Esse meu sobrinho é filho de um irmão meu que morava nos Estados Unidos. Nós temos casas por lá e ele com a esposa e o filho moravam lá nos anos 90 . Um dia quando eles estavam viajando para Los Angeles houve um acidente numa auto-estrada no meio do deserto. Minha cunhada sobreviveu por alguns dias , meu irmão veio a óbito na hora do acidente e , por incrível que pareça, Higor não sofreu nada . Ele vinha na cadeirinha todo amarrado . Alguns dias depois a minha cunhada faleceu com a pancada forte que levou na cabeça . Meu pai foi buscar o menino que foi criado por avós e neto sendo criado por avós não tem limites . Cresceu sem ter limites . Tudo o que ele fazia de ruim passavam a mão na cabeça e assim ele cresceu mal-caráter.

Se formou às duras penas em engenharia, mas queria que o velho montasse uma construtora para ele . Os velhos o tratavam como se ele ainda fosse criança e dizia que ele não precisava trabalhar por enquanto.

Acredita-se que ele tenha mexido no fluído de freio do carro do velho o qual nunca gostou que ninguém dirigisse para ele . Na época em que houve o acidente com meu pai , eles se encontravam na cidade de Campina Grande. Tinham ido tratar da construção de mais uma enorme ala do hospital Santo Antônio de lá. Higor ficou na cidade e o pai vinha sozinho para João Pessoa. A polícia desconfia dele e por isso , acredito que ele veio procurar o pai aqui.

Carol , segurando a cabeça do senhor que ia sacolejando em cima da maca da ambulância, diz:

--- Se ele veio procurar seu pai aqui é porque alguém ouviu a nossa conversa e passou para ele .

Severino segurando os pés do velho , fica pensativo e diz :

--- Tem razão, doutora ! Quem poderia ter escutado nossa conversa?

Carol responde :

--- Arnaldo . Dizem que ele colocou câmeras e microfones por todo o hospital para observar e ouvir as conversas entre os trabalhadores.

Higor ficou regateando com Arnaldo e ambos não perceberam que Carol e Severino tinham retirado o velho do hospital. Quando acertaram os termos , Arnaldo desceu com o amigo até o quarto no qual havia estado o velho e ficaram a ver navios . Aí viram pelas imagens que uma ambulância tinha levado o velho , Carol e Severino.

Higor pergunta:

--- Como é o nome dessa doutora?

Arnaldo diz:

--- Carolina , mas a chamam de Carol .

Pensativo no que faria , Higor decide ir até a casa da ex para bater um papo de reconciliação. Porém, não falou

Epílogo

Higor saiu do hospital pensando no que fazer . Talvez tirar uma foto junto da mãe dela e enviar pelo WhatsApp para fazer medo a Carol e foi com esse plano na cabeça até chegar a casa da doutora.

Chegando lá bateu na porta e a dona Luiza o atendeu temerosa , mas com toda a gentileza possível:

--- Bom dia , seu Higor . O senhor nunca mais apareceu . Que fim levou ? Lembre-se de que somos amigos . O que o senhor deseja , seu Higor?

Higor em pé na porta observava se havia alguém mais na casa . Não havia ninguém. Seu Ferreira estava ainda trabalhando ate às 19:00 h. na estação Varadouro que é a estação ferroviária da capital João Pessoa e como sempre a senhora Luiza cuidava da casa até a chegada do velho o qual faltava pouco tempo para se aposentar.

Higor diz:

--- Eu gostaria muitíssimo de falar com a Carol . Tenho um trabalho pra ela . Foi a primeira pessoa que me veio à mente , foi ela.

Dona Luiza diz:

--- Pois , seu Higor , ela não mora mais aqui . Ela vem nos visitar toda semana, mas está morando perto do hospital que trabalha . O hospital é o Santo Antônio. Talvez se o senhor tentar se informar por lá deve ter alguém que saiba onde ela mora porque eu não sei .

Depois que vocês terminaram ela fez novo concurso para medicina e passou também. Enquanto ela estava estudando estava aqui conosco , depois arrumou esse emprego e me parece que se deu bem , graças à Deus. Ela vem por aqui só para nos vê, tomar um café... por falar nisso , o senhor aceita um café?

--- Sim , gostaria . Eu ja tô sabendo que ela trabalha nesse hospital, porém , parece que ela está de folga ... Dona Luíza a senhora tem o número do celular dela ?

Dona Luiza:

--- Meu filho , eu nem sei pra onde vai esse tal de celular . Na verdade nem tenho celular. O senhor quer sentar ? Quem sabe mexer nessas coisas é o Ferreira e a Carol .

--- A senhora sabe se a Carol tem alguma amiga ? Talvez ela possa passar mais informações ,pois eu queria muito me desculpar com ela e oferecer um emprego que ela nunca iria encontrar. Sei que ser médica é bom mas ela iria ser uma das diretoras da minha empresa . Ela é muito inteligente.

Dona Luiza diz:

---- Tem a doutora Magda que trabalha no H.U. Essa doutora além de ser professora é cientista e é diretora geral de uma das enormes alas do H. U. Higor terminou de tomar o café e se pôs a pensar no que faria e agora tinha uma pista de onde o velho poderia está. Agradeceu a Dona Luiza e pediu para que ela avisasse a Carol sobre o emprego . Entrou no seu mustang e se mandou para o colossal hospital universitário onde cada banda do hospital era um tipo de doença e ainda tinha uma sala de emergência onde entrava e saía ambulância a todo momento. No décimo segundo andar de um lado do hospital ficava a ala dos queimados cheios de bandagens e gazes para conter as terríveis feridas. Haviam pacientes nesta ala que não dava para saber quem era e foi justamente nesta ala que colocaram o velho o qual estava todo enrolado de gaze para ninguém reconhecer . Na outra ala ficava os acidentados no trânsito e nos acidentes de trabalhos .

Carol tinha ido com Severino pegar o resultado do exame na enorme recepção do hospital e não viu Higor entrando pelo lado contrário e perguntou se havia algum José Feitosa internado.

A atendente procurou na lista de internado e não encontrou . Então o facínora disse que queria conversar com a sua amiga doutora Magda . Disse que tinha uma boa notícia para ela e iria aproveitar e dar um abraço nela .

A atendente disse que ela estava em cirurgia mas estava pra terminar . Pediu para ele ficar aguardando sentado numa poltrona e quando a atendente tirou os olhos do maligno ele adentrou ao hospital direto para a sala em que seu José estava , parece até que o demônio o encaminhava como se fosse um imã contra o ferro , e começou a procurá-lo. Quando viu o velho sorriu e sentou perto do soro . Não viu ninguém e achou que foi como tirar doce de criança. Começou a falar que queria todas as propriedades dele e queria construir uma construtora , mas não, o velho pateta queria dividir tudo sendo que todos os filhos já estavam bem de vida e ele que era o filho mais novo precisava mendingar por qualquer coisa que quisesse . Isso era porque ele não era filho legítimo do velho e por isso ele não iria escapar pela segunda vez . Levantou -se com um seringa cheia de veneno e quando ia enfiar no soro apareceram Carol que gritou para ele não fazer uma barbaridade dessas , Severino e uma patrulha de policiais militares que apontaram as armas para ele , o qual ficou muito surpreso e queria correr , mas não tinha como fugir . Só se ele criasse asas e o prenderam no flagrante.

Os exames comprovaram que o sem-teto era doutor José Feitosa descendente da Antônia Alves Feitosa , uma heroína anônima do Brasil império e o Hospital Santo Antônio era em homenagem a bravura dessa mulher brasileira .

Doutor Severino chamou o doutor Arnaldo para perguntar onde ele tinha colocado todos os microfones e câmeras. Doutor Arnaldo branco igual a cera mostrou o painel que controlava todos os funcionários.

Severino disse :

--- Não quero lhe prejudicar , mas existem muitos crimes que o senhor cometeu . Levo em consideração os tempos de lucros que nos deu , mas é uma sacangem ficar ouvindo e vendo o que o funcionário faz além do que o senhor negociou a vida do meu pai . Por isso , peço que o senhor peça demissão. Não quero lhe prejudicar. Siga a sua vida e nunca mais passe aqui na frente .

Passou-se cinco meses e Carol cuidava do doutor José como da primeira vez , com todo o carinho , enquanto Severino vivia fiscalizando os outros hospitais da rede e viajava muito , porém quando tinha uma folga queria ficar perto da doutora e foram se afeiçoando um ao outro . Uma noite ele criou coragem e a chamou para jantar e falou do seu sentimento por ela . Ela por sua vez também disse que sentia o mesmo por ele e ,no outro dia quando ele chegava com um buque de flores para entregar à sua amada , o velho abriu os olhos e falou :

--- Severino, meu filho querido . Onde estou?

Carol e José que se olhavam de uma maneira especial se surpreenderam e disseram ao mesmo tempo :

Carol

--- Doutor José!

Severino:

---- Pai !

A alegria foi incontrolável e terminaram num beijo sem querer .

Severino tinha 43 anos e Carol apenas 27 anos , porém quando o amor acontece não existem barreiras para a felicidade. Casaram-se seis meses depois com as bênçãos dos pais e estão felizes . É isto o que importa.

Fim

PORTO VELHO 25/05/2024

Professor J Silva
Enviado por Professor J Silva em 26/05/2024
Reeditado em 26/05/2024
Código do texto: T8072035
Classificação de conteúdo: seguro