O ENCONTRO

Tinham jantado juntos pela quarta vez, e teria sido muito mais agradável se Tomás não estivesse sempre na defensiva. Sandra insistia, chegou a pegar-lhe na mão… Ele retraiu-se, esquivou-se ao contacto. Estava contrariado, pois chovia e ele tinha o carro na oficina, sentia-se dependente.

Depois, como já fosse um pouco tarde e aquela hora os transportes públicos não fossem frequentes, para mais estando o tempo ruim, ela ofereceu-se para o levar até perto de casa.

Chegados ao local, ela estacionou o carro e ficaram em silêncio durante algum tempo. O frio e a humidade provocaram o rápido embaciamento dos vidros, do exterior mal se distinguiam os dois vultos.

Sandra olhava-o de soslaio, ele de olhos fechados, a cabeça apoiada no encosto.

- Porque me evitas, Tomás? O que vês de mal em nos relacionarmos? É por eu ser bastante mais nova que tu? Esse preconceito não deveria existir, mesmo em pessoas da tua idade…

Tomás olhou-a e depois desviou o olhar. Após uma pausa, em voz baixa retorquiu:

- Não é isso. Eu já tive vários relacionamentos. Um houve, há já algum tempo, que me marcou fortemente. Apesar da idade, pasme-se, este foi na realidade o meu primeiro e grande amor… Senti mesmo amor, paixão por ela, mas de repente sumiu, perdi-lhe o rasto. O desgosto foi tão grande que jurei não mais me envolver com ninguém.

Sandra teve um assomo de carinho quase filial e afagou-lhe a face e o cabelo já raiado de branco.

- Então achas que a vida para ti acabou? Olha… Eu já tive vários namorados, quase sempre pura desilusão… E sobrevivi, sabes? Não morri, fiquei mais forte - fez uma pausa. Não sei o que vi em ti, apenas que quando nos despedimos o meu coração bate mais forte e pede-me para não te deixar ir… Tenho medo de te perder… Como amigo, sei lá? Talvez até seja mais do que isso… Queres mesmo saber a verdade?

Ele olhou-a, meio curioso.

- Acho que te amo… - disse ela em voz sumida. Os seus belos olhos castanhos ficaram rasos de água e desviou o olhar para o nevoeiro que se formara nos vidros…

Tomás fitou o vazio, ficaram assim durante algum tempo. Depois olhou-a, só então reparou que as lágrimas escorriam, teimosas, pelo belo rosto de Sandra.

Ele aproximou-se mais e beijou-lhe a face.

- Não quero que chores. Se choras é porque sentes algo por mim… Eu também sinto algo por ti. Não sei se é amor mas confesso sentir algo forte, que também faz bater o coração mais rápido quando nos encontramos, quando me dás um beijo na face, quando nos despedimos.

Ela olhou-o, segurou-lhe o rosto entre as mãos e num impulso irresistível beijou-o suavemente. Depois fixou-o enlevada, com muito carinho. Beijaram-se de novo, longamente, com candura, esquecidos do tempo.

Sandra suspirou, limpou os olhos e depois encostou o rosto ao peito dele, apertando ao mesmo tempo a mão de Tomás na sua. Perguntou-lhe:

- Queres ir ficar hoje comigo? Ai, meu Deus, como te quero…És o homem que mais desejei em toda a minha vida e acabo de te dar os dois primeiros beijos de sempre…

- Sim, quero - disse Tomás. E beijou-lhe a mão.

Sandra ligou o ar condicionado e os vidros desembaciaram rapidamente. Pôs o carro em movimento e sem largar a mão dele, com um sorriso de felicidade estampado no rosto, dirigiu-se a casa. Talvez dessa vez tivesse acertado…