O Conto da Mudança
O Viajante não era de ter medo. Não mais. Já haviam passado muitos anos onde ele vivera recluso e quieto, uma alma receosa perdida no vasto mundo dos homens.
Mas aquilo havia mudado. Era, pelo menos, o que ele achava até então.
Não sabia o motivo a princípio. Achou que estava ficando doente. Uma palpitação aleatória, mãos geladas e, de repente, a pior das sensações: medo.
Medo do quê? Ele se perguntava a todo momento. Não havia motivos, pois o pior já havia passado. Ele superou tanta coisa até aquele momento, que era até injusto ter que sentir aquilo de novo.
Mas quando menos se esperava, ali estavam as piores sensações de volta. Então o Viajante tentou descobrir o porquê depois de tantos anos, o medo ainda lhe assombrava.
Primeiro, ele pensou nas possibilidades. Fez, mentalmente, uma lista de motivos que podiam e conseguiam lhe tirar o sono. Depois, decidiu andar sem rumo durante um tempo, para achar as respostas no acaso.
Eventualmente, ele descobriu. Foi em uma caminhada matinal, em um dos reinos mais distantes em que ele frequentava. Naquele dia, ele sentiu seu coração disparar quando seus olhos encontraram uma donzela conhecida.
O Viajante sempre brincava com as palavras. Fazia poesia para todos aqueles que passavam por sua vida. Entregava rosas para todos seus amores. Ela não era diferente, pelo contrário, ele já sabia como lhe agradar. Ou era, pelo menos, o que ele pensava.
Eles se conheciam a anos. O que era irônico, sabendo-se que o Viajante não era apegado à ideia de espaço e tempo.
Então porque agora era diferente? Porque agora parecia que ele havia retrocedido e, de repente, o Viajante era apenas um jovem tímido e inseguro consigo mesmo?
Não haviam respostas fáceis para aquela pergunta. Haviam apenas mais dúvidas e vontades quando o assunto era o amor. Naquela manhã, o Viajante havia deixado seu coração, em receio, lhe guiar até aquele caminho. O destino havia colocado ele frente à frente com aquela bela mulher.
Ele olhou para ela e pensou.
Pensou nas palavras que queria usar.
Depois pensou de novo.
E por fim, nada disse.
O medo de ser rejeitado era maior do que a coragem de dizer o que sentia.
Então o Viajante foi embora.
Mas disse para si mesmo que amanhã seria um dia diferente. Ele desejou encontrar sua coragem perdida e, quem sabe, tentar novamente.