Barro Incandescente
Acordo, e a vontade de colocar os dedos nas teclas é enorme. Sentir a textura das letras e poder moldá-las, tal como argila mole a tornar-se vaso no movimento do rodopio sobre a bancada do artesão.
Uma argila que vai aparecendo na tela pixelada e consegue caracterizar o que se passa dentro. Símbolos que se aglutinam para descrever um pensamento, uma reflexão e vários acontecimentos: partilha de barro, num vaso comum, onde nossas luzes vão sendo depositadas e aglutinadas. Bola de fogo incandescente, que carrega uma luz forte, amarela e brilhante, mas com núcleo que vai passando do âmbar para o azulado e, enfim, o prateado. Uma esfera cintilante, que reflete nossos seres por dentro e que carrega nossas essências.
Em nossos olhos, o reflexo do brilho - passamos a atravessar o barro e a enxergar por dentro. Olhos de fogo e olhos de mar. A luz amarela e a luz prateada saltam de cada átomo da esfera construída a quatro mãos e, como um canhão de luz, atinge nossas retinas com toda a força: nossos olhos ficam estáticos observando o brilho que se revela sobre nossas peles e reflete no outro.
A luz atravessa, as palavras permeiam, os olhos se fecham e as pálpebras se encontram, suavemente. Enfim, o sono chega e permanece, a respiração leve e suave, pequenos espasmos do globo ocular. A conexão continua: agora, são nossas almas que saem para passear e vislumbrar, deitadas num gramado, a bola de fogo no céu de nossas existências.