O conto da Falsa Esperança

Eu não estava procurando por ninguém em específico quando meus olhos encontraram seu rosto em meio daquela multidão.

Talvez fosse meu subconsciente que queria e conseguia reconhecê-la em qualquer lugar, talvez fosse apenas sorte.

Sorte.

Aquilo era irônico só de pensar.

Se eu olhasse para trás e visse tudo o que se passou com outros olhos, saberia que não havia mais nada a ser feito. E eu sempre soube que não daria certo. Desde o primeiro dia.

Aquela história era um conto de "talvez".

Talvez as coisas fossem diferentes se tivéssemos nos encontrado em outro momento da vida. Talvez teríamos sido grandes amigos se o universo tivesse nos colocado perto em um outro período. Talvez, se eu tivesse mais paciência, poderia ter tentado mais. Talvez se ela se permitisse, poderíamos ter criado algum laço afetivo. Mas, principalmente, talvez aquilo daria certo se fossemos outras pessoas.

Sorte foi exatamente o que eu não tive naqueles últimos anos. Nunca tive sorte quando se tratava de amor.

Não é atoa que um viajante é conhecido por vagar por todos os cantos. Eu ainda estava sem rumo, perdido entre meus próprios versos. Ainda procurava um sentido na vida.

E não queria mudar! Eu já havia mudado tanto por outro alguém. Já havia me perdido e me encontrado tantas vezes, que seria perigoso deixar-me cair em tentação e cometer os mesmos pecados de novo.

Ela era diferente. Eu sabia disso e era exatamente por esse motivo que exitei e recuei. No fundo, ela sabia que se quisesse, teria que me mostrar como ficar.

Mas o orgulho e o medo não permitem certas coisas. Nunca saberei ao certo qual dos dois sentimentos lhe prenderam naquele caos que a rodeava.

Naquele dia, observando-a em meio à multidão, por uma fração de segundos antes de trocar meu olhar de alvo, senti o coração pulsar mais rápido.

Não era amor, com certeza não era. Era algo diferente, era um sentimento de tristeza, de esperar algo que não iria acontecer.

Haviam noites passadas em claro, observando estrelas distantes e recitando poesia para o universo, pensando em como meu desejo era egoísta e imaturo. Haviam noites que eu havia me prometido que não teria a paciência de esperar por essa coisa que não iria acontecer. Eu tinha que fugir da possibilidade de outro coração quebrado.

Ela só não sabia que eu era um viajante. Que eu andava por terras e tempos. Passado e futuro. Que eu sentia coisas a todo momento e a toda intensidade. Então eu senti seus olhos sob mim.

Ela também havia me encontrado em meio daquela multidão.

Por coincidência ou não, seus olhos, de soslaio, me analisavam cuidadosamente.

E ela, naquele momento, mal sabia que uma simples ação me daria o pior dos sentimentos possíveis.

Ela mal sabia que aquilo me daria esperança.

Esperança era a última coisa que eu procurava naquele momento.

Porque no fundo, eu sabia que era só aquilo que faltava para eu não abandonar a ideia de que um dia ela poderia me amar de volta.

E eu me odiava por isso.

Viajante atemporal
Enviado por Viajante atemporal em 13/04/2024
Reeditado em 16/04/2024
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