Aula x tua abstrata presença
Interrogações ocultas transformam a crosta cefálica num caos primordial. Todas as estruturas psicóticas e neuróticas interagindo compulsivamente.
Estado desordenado dos neurônios.
Às vezes eu sou tua...
Eletricidade desarmônica do corpo.
...e às vezes do vento (...)
Pensamentos involuntários.
Ora choro compulsivo...
Movimentos mecânicos.
...ora riso histérico (...)
Ah, deixa-te disso Luana! Amanhã tens um seminário a apresentar. “Cadê a linha de raciocínio?”, questiona o colega ao lado. Voltemos ao juridiquês.
1º tempo Ao som da professora velha, repetitiva e arrogante, recito-te: Sr. J.L.D.N., Réu confesso, estás subjugado às grades cardíacas. Este teu crime foi hediondo, assim, não terás sanção abrandada. Infringiste uma lei do Código Penal, quando sequestraste o meu segmento contrativo que bombeia o sangue. O Código Civil também foi violado, à medida que furtaste o único bem que me era valioso: o direito de ser indiferente ao amor... O problema são os adjetivos satíricos que as pessoas irão me dar... Vejas a situação constrangedora em que me colocaste! Condeno-te por danos morais. Conquanto, a ti concedo o Habeas Corpus, porque que autoridade tenho, eu, nessa simples condição de humana apaixonada? Que força tenho diante desta invasão brutal contra meu peito? Que cavalaria seria capaz de derrotar esta cruzada implacável, que investisse contra meus sentidos, com um beijo? Estás absolvido! Ouviste? Deixo-te livre. Os devaneios, vertigens e delírios que me causaste são tão-somente crimes prevaricadores, assim como também a causa irrecorrível da tua liberdade. Todavia, suplico, prenda-te por vontade própria a esse meu órgão cativo. Porque neste momento ele te grita: amo-te tanto meu amor... E desconfio que não haja - de modo algum-veja bem! Duvido que haja premissa mais verdadeira. Pode compará-la com as premissas da epistemologia, da norma jurídica, e pobre do empirismo kelsiano se tiver a ousadia de tentar suplantar este silogismo da minh`alma. É só dizer: amo-te tanto meu amor... E esse órgão sensível dispara. Uma frequência cardíaca bem modesta- 1.000 batimentos por segundo - Acaso consegues sentir?! Estás remido.
2º tempo
O professor de ciência política esbofeteia a lousa pedindo concentração: “Pessoal, presta a atenção!” Maquiavel é o tema da aula, e eu questiono-me, a respeito da explicação, se de fato ele não teria sido “maquiavélico”. E duvido que nosso renomado mestre da política me revele o poder de governar a mente.
Por que, quando não estás por perto, tudo se torna tão monótono? Qual a explicação do magnífico bem-estar que causa teu calor humano em minhas mãos frias?...
“Alguma dúvida, gente?”, indaga o professor.
Um milhão de perguntas em poucos instantes, mas eis a dúvida-mor:
“Qual a lógica de pensar em alguém e desorientar-se em relação a si mesma?”, digo. Oh que mulher passional tu me tornas!
3º tempo
História do direito na Índia, “vejo que, hoje, os futuros operadores do direito estão bastante compenetrados!”, comenta a professora. A que casta ou subcasta seríamos submetidos num casamento indiano? Planejo algo inovador para o sábado, que tal experimentar um peculiar modo de vida indiano, por um dia?!
Atitudes psicóticas. Desejos eufóricos... Alteração comportamental.
Ora aspiro mordidas sádicas...
Sentimento avassalador.
...ora aspiro beijos suaves (...)
4º tempo (fim de aula) Profª.: Auri Donato, doutora em antropologia jurídica, desmorona seus livros sobre a mesa. “A visão etnocêntrica do homem...” Eu me pergunto quantos dias faltam para eu me atirar em teus braços; num passeio mitológico, numa praia erótica, num lugar primitivo, enfim, num fim de semana hilário.
Ainda bem que estas minhas excentricidades já foram muito bem apresentadas a ti, entre teus olhares e risos. Ah, perdoa-te o fato de namorar um ser louco!
Órbitas dos planetas desalinhadas.
Jamais esquecerei o dia que me recitaste Nash, em meio ao gozo de paixão. Ora, Nash não é poeta, tu não és poeta, e a mim não me cabe a qualidade de poetisa. Oh doce sofisma da minha vida! Legítimas são as hemorragias líricas que tu- exclusivamente - me causas. Temos, em comum com Nash, algo que nos torna imortais: somos loucos e completamente servos-aprendizes do amor. “Só estou aqui por sua causa... Você é a razão pela qual eu vivo... você é toda minha razão.”
Tempestade mental. Inundação de delírios... O controle da mente desfigura-se em metamorfose, quando penso nele.
Ainda bem que isso se trata apenas de sentimentos. E sentimentos passam e acabam.
A – CA – BOU, meu amor de uma noite só!