Sonho de uma tarde de Verão (Shakespeare que me perdoe)
Ela estava visivelmente deprimida, passara a noite inteira acordada, rolando de um lado para o outro na cama e nada de receber a visita de Morfeu.
Quando amanheceu, tinha os olhos vermelhos - um misto de sono e lágrimas. A vontade era nem tirar a camisola e ficar ali deitada, imaginando por que raios a sua vida andava em círculos.
Ela sabia que precisava levantar. Hoje sua vida já não é só sua, os afazeres, os cuidados do cotidiano obrigaram-na a levantar e tomar um banho. Se alguém prestasse atenção nela na rua, pensaria que tinha saído da última temporada de The Walking Dead. Ficou se perguntando "por que não me lembrei dos óculos escuros?"
Fez tudo que precisava, cuidou dos seus, cumpriu suas tarefas... Mas nas horas mortas da tarde, como diria Clarice, o incômodo crescia dentro dela.
Tentou deitar-se um pouco. A cama parecia um caldeirão, mas permaneceu ali. Fechou os olhos e começou a divagar nas próprias ideias, perdida no mar dos seus próprios pensamentos, até que finalmente adormeceu...
E o sonho veio, em meio a uma tarde estupidamente quente. Lá estava ele, sentando num sofá qualquer, vestindo uma bermuda jeans e uma camiseta azul, lindo na sua simplicidade. Em alguns momentos a tristeza em seus olhos o fazia parecer muito mais velho do que realmente era.
Ela ficou observando... Os olhos tristes, escondidos atrás de uma aparente carinha de alegria, nunca o abandonavam. Por incrível que pareça, era justamente isso que mais atraía a atenção dela.
De repente, como num passe de mágica - ou como num sonho,né! - o sofá virara as raízes de uma grande árvore e ali ele estava sentado. A cabeça sempre baixa, o olhar perdido no horizonte, uma tristeza cercada de muito mistério.
Ela se viu parada diante de um lago, olhando para o rapaz sentado na árvore... Ficou olhando atentamente, pensando se deveria ou não se aproximar. Como faria? Embora se conhecessem de vista, não tinham intimidade, não queria assustá-lo. Os sentimentos se misturavam na cabeça de Lia, uma forte atração, uma curiosidade imensa, um medo de se machucar...
Resolveu se aproximar, chamou-o pelo nome, pra tentar quebrar um pouco o clima tenso... "João!"
Ele levantou a cabeça e sorriu, dizendo "Oi, Lia! Como eu esperei por você!"
Lia se assustou com aquela frase, mas não teve muito tempo pra pensar, perdida naquele sorriso lindo. Os dois se aproximaram lentamente, entrelaçando as mãos... João trouxe Lia cada vez mais perto, olhando em seus olhos, sorriu novamente e disse "Você é exatamente o que eu mais precisava nesse momento".
Lia sentiu o ar faltar, parecia um sonho (infelizmente era mesmo), teve medo, vontade de sair correndo, mas os braços de João na sua cintura não lhe permitiam a fuga. Deixou-se levar pelo momento e permitiu que ele a beijasse de uma forma que era ao mesmo tempo forte e doce, com um misto de carinho e desejo intenso... Ficaram assim por alguns longos minutos... Até que ele a afastou um pouco, olhou nos olhos de Lia e sorriu novamente de uma forma única " Era exatamente como eu esperava, talvez até melhor"
Mas era apenas um sonho... Lia acordou ainda com o sabor daquele doce beijo nos lábios, mas infelizmente era tudo um sonho, um intenso sonho de uma tarde de verão.