O mundo de Alice!

— GABRIELLL, Alice nascerá logo?

— Sim, São Pedro. Em janeiro.

— Chama ela, temos que conversar.

— Pode deixar, chefe!

— Não sei quem deu títulos para esses molecotes. Anjo? Gabriel, nem sabe o que é santidade.

— Senhor, Alice.

— Mande a entrar.

— Oi, Pedro!

— Pedro?

— Ué, qual é o seu nome? Antônio?

— E o respeito, menina! É São Pedro.

— Desde quando chamá-lo pelo nome é desrespeito? Todos aqui são saudáveis. Ou seja, sãos. Santo, você foi na Terra, aqui há-o princípio de igualdade.

— Alice, é uma questão de respeito. Então me chame de Senhor!

— O S-E-N-H-O-R é chato, hein! Já pensou por que o crucificaram de cabeça para baixo?

— O que eu fiz? Para aguentar isso! Vamos lá! Alice, foi avisada que no começo de 2024, irá para à terra?

— Sim, S-E-N-H-O-R. Bom ter falado, quero nascer na Jamaica, adoro os “dreadlocks” do Bob. Ele é muito gente boa né?

— Marley, é foda, disse a ele ‘pare de pedir para nascerem na Jamaica’. Não é escolha. Deus é quem decide.

— S-E-N-H-O-R, estas palavras são indevidas. É só Deus que decide? E os outros? Ganesha, Buda, Jeová, Krishna, Shangdi, Mawu, Jah, Olorum, Zambi, Guaraci, Moisés e Muhammad? Esqueceu do Concílio?

— Onde aprendeu a ser tão impertinente ? Isso acontece a cada 500 anos e Deus nunca perdeu uma eleição para a presidência do conselho.

— Também né! Se perdesse, manda praga, inunda o mundo, mata, faz o povo andar 40 anos no deserto, crucifica o filho…

— Menina, quem te ensina essas coisas?

— Ah, então além de arrogante, o Santo Pedro é machista? Mulher não sabe ler? Não consegue pensar sozinha. Acorda!

— ALICE, pare de me irritar.

— Agora eu te irrito? Porque tenho opinião! Voltemos ao assunto, já que não posso nascer na Jamaica, quero encarnar na Inglaterra, em Liverpool.

— Anda com uma turminha bem barulhenta, não é mesmo? Também falou com o Lennon, não é?

— E a “Vossa Santidade” também não gosta do John?

— Não pode escolher o país que nascerá, ninguém escolhe. E tu vais para o Brasil.

— Terei que lidar com os brasileiros? Por quê? O que eu fiz?

— Ué, não gosta de lá?

— Mais ou menos, falei com o Pelé, com a Clarice, o Nelson, aquele velho é meio louco. Parece legal, mas o povo é meio besta né.

— Todos os povos têm bestas e gênios. Aqui também é assim.

— Eu sei, Pedro. Sei…Tá, já escolhi o meu pai brasileiro. Tenho uma lista, são três: Reinaldo Gianechini, Fábio Assunção e o Carlinhos Brown. Qualquer um desses pode ser. Ah, gosto do Lázaro Ramos também.

— Aliceeee! Você não pode escolher o pai. Isso é o livre-arbítrio da sua mãe. Ela escolhe com quem deve se relacionar. Você se diz tão feminista e quer decidir pela sua mãe? Não seria ilógico, “minha pequena”!

— Espero que pelo menos minha mãe transe, né? Porque tem outros por aí, que dizem, eu disse dizem, que a mãe era virgem quando nasceu, não é mesmo Pedroca?

— Oh, menina… é… não… sei lá! Continuemos aqui.

— Esse negócio de livre-arbítrio é uma balela. Não escolho o país, o meu pai… nada né.

— Não!

— Pedroca, deixa eu te fazer uma pergunta. Você pode me falar da minha mãe?

— Não. Este é um segredo sagrado. Mãe é o alicerce de todos. O pai é uma espécie de leite, do “Café com leite”, entendeu né? Ele é um complemento importante, mas não essencial.

— Tá, tá, não entendi porque você me chamou aqui. Deixa eu fazer outra pergunta.

— Depois. Quem está organizando a sua festa de despedida?

— Jesus. Ele é do “balacobaco”, como deve dizer minha futura mãe. Será uma “rave”, quero ficar muito louca. E quero ver você proibir alguma coisa? Ele é filho do presida. Se dependesse de você, iria ter tanta gente como uma reunião da família Kennedy.

— Tu é chata demais. Será psiquiatra, de tão chatinha que é…

— Pode ser, Pedroca. Vejo que pensar e questionar incomoda o “Santo”. Deixa eu fazer a minha pergunta. É sobre ele mesmo. Se Cristo é judeu, nasceu no Oriente Médio, por que o primeiro nome é porto-riquenho? Jesus não é nome árabe, palestino e muito menos judaico. Quase todo homem em Porto Rico se chama Jesus. Bom, pelo menos uma boa parte.

— Alice, Alice, VAZA, VAZA. Agora! Boa “rave” e seja feliz, respeite a mãe e o pai e não encha o saco deles, como encheu o meu.

— Valeu Pedroca, gosto de você. Deixarei a terra de ponta-cabeça. Entendeu!!!

— Rá, Rá, Rá. Tchau! Gabriel, tira Alice daqui.

— Alice, vamos? São Pedro precisa trabalhar.

— Vamos, Gabi. Você vai na “Rave”, né?

— Claro que vou. Vai ter uns “comprimidinhos” para deixar a gente louco né, não?

— Opa, claro. O Pablo tá vendo isso.

— SUMAM DAQUI…

— Tá bom, chefinho. Estamos saindo!

— Moleque boiola… Porto-riquenho… Porto-riquenho, é mesmo, esse nome é porto-riquenho. Ligarei para Deus.

— Alô, fala Pedro? O que quer?

— Tudo bem, Senhor? É rapidinho, uma curiosidade, por que o Senhor escolheu um nome de Porto Rico para o seu filho?

— Você falou com Alice…