Sonho embalado - BVIW
Zé Antônio conduzia a charrete com Luzia e seus três pequenos: Luizinho, no colo, Jorge e Francisco, sentados aos seus pés. Jorge segurava pela cordinha o Carrapicho, latindo de vez em quando pela excitação do passeio e contenção, enquanto a gata de três cores, Olga, ia no colo de Francisco. O resto da tralha amontoada por todos os lados. Ou era isso, ou morrer de fome, pois o sítio com suas cinco vacas já não rendia para alimentar a família. Uma vez na cidade, arranjaria emprego de pedreiro e as crianças poderiam ir para a escola. Luzia sabia costurar e poderia pegar algumas encomendas, trabalho que faria entre um serviço e outro da casa. Esse era o plano que costurou muito alinhadinho com Luzia. Sacrificaria seu gosto pelo campo, a música matinal orquestrada pela passarinhada na mata, o prazer de ver o sol nascer e se por, o gosto da chuva cheirosa e cantante. Mas a família era sua razão de viver. E Luzia era sua companheira de todas as horas, sua lua em todas as fases. Luzia era onde seu coração descansava. Valia a pena o sacrifício. A estrada poeirenta ligava o sertanejo ao novo homem que nasceria, depois de desembalado o sonho de uma família sobrevivente.