Afinal, o que é a perfeição humana?
Tu que te emocionaste a me ver emergir do fruto inesperado...
Tu que me olhaste com a face encantadora ao ver o meu sorriso ainda sem enfeite, infinitamente ingênuo...
Tu que me velaste o sono, tantas, tantas, e tantas noites, em madrugadas incansáveis...
Tu que me acudiste quando eu gritava aflita com medo do escuro...
Tu que demonstras teu amor por mim, todas as vezes que eu me sinto indefesa...
Tu que me observas como um animal selvagem a proteger sua cria...
Tu que me corriges sempre que me ver errante...
Tu que és a força propulsora da minha luta infindável...
Tu que és a causa principal da minha relutância a morte...
Tu que és a mais linda flor dos homens...
Tu que és forte, magnífica, guerreira, aparentemente, frágil, mas eu sei que tens a força de Aquiles!...
Tu que és a dádiva mais humana e divina que uma criança pode receber...
Tu que sempre és capaz das atitudes mais altruístas...
Tu que és a magia do sol, a força do vendaval, o brilho das estrelas...
Rezo em silêncio, todas as noites, para que um dia eu tenha, ao menos, a terça parte da tua honra... Neste mundo, asseguro, não há alguém mais honrado!
Tu que tens ataques de histeria, grosserias, stress, medo, exaustão...
Tu que tantas vezes me fizestes chorar e eu também te fiz chorar, bem como choramos juntas. Mas, ainda assim, digo: “és a obra-prima feita de carne e osso que mais se aproxima da perfeição”. Ah! És a perfeição desenhada!
A figura da perfeição pressupõe algo abstrato... A imagem da perfeição para nós mortais é Deus, ou qualquer outra divindade das várias espécies de crenças. Contudo, eu falo de alguém que também é um ser humano; cuja face possui fortes e bonitos dentes, os quais transmitem um sorriso honesto, mostra um caráter imaculado, uma dignidade incontestável e um pudor de mulher oriental.
Perfeição humana?! Sim, isso sugere algo contraditório, inexistente... Mas, revelarei, a quem interessar possa, o meu monumento humano perfeito...
Tu que me acalentas no colo quando a dor do inexplicável toma conta do meu peito...
Tu que atendes por três fonemas interligados, que juntos formam uma agradável sonoridade, a fonética dos deuses, a palavra mais suave do dialeto universal:
M
Ã
E
A ti, mulher, gostaria de deixar no dia da minha partida, ainda que aqui tu também já não mais estejas, uma espécie de epitáfio, onde, na verdade, tu serias a grande homenageada, assim, eu mostraria – pelo menos um pedacinho - da importância que foi te ter ao meu lado, durante minha vida, através das seguintes dedicações:
“Aqui jaz esta criatura humana, que foi fruto de teu ventre, amou-te deveras... E é como símbolo do amor eterno que tem por ti; que te deixou o quadro ‘Madonna Litta’ de Da Vinci; a canção lírica, “Ave Maria”, na voz de Maria Callas, com fundo musical de Mozart, o sincero pedido de perdão pelos seus erros, e estes versinhos que ela aprendeu na infância e ainda sabe de cor:
‘Mãe, você me deu a vida...
Você me ensinou a amar
Obrigada!’
Tudo isso é um pedaço das suas recordações sublimes, que ela levou desta vida, e deixou para ti, por seres uma mãe muito digna, como legado de lembranças do que foi o convívio contigo, sua maior ventura. E sabe que tu, onde quer que habites, também há de guardá-los com muito zelo.”
Vês, sem ti a minha existência não seria tão elegante! Amadurecer sem ti seria muito ácido para uma vida que, muitas vezes, já me é tão acrimônia... Ao teu lado eu me torno mulher-criança, nada parece ser tão doloroso quando estas por perto...
Bendito seja o dia em que Deus me fez brotar de teu ventre...!
Tu és, entre os seres humanos, o meu único paradigma de perfeição!