"Em uma tarde de calor e chuva"
Apressei meus passos em direção a plataforma do metrô ao perceber que o trem ainda estava parado.
Ouvi o apitar característico que sinaliza que as portas serão fechadas e corri segurando a bolsa.
Uffa.
Consegui entrar um segundo antes do necessário.
Percebi olhares sobre mim e decidi ignorar.
Não gosto de chamar a atenção assim, mas tenho certeza que minha ansiedade ficou evidente pela maneira esbaforida com que entrei ali.
Enfim.
Eu não sentei-me apesar de existirem inúmeros bancos vagos.
São apenas duas estações.
Hoje a tarde está quente demais.
Colaborando para minha ansiedade ir a mil por hora.
Será que ainda me espera?
Penso e pego o telefone que na correria tinha esquecido da existência.
Abro no aplicativo de mensagens e leio várias.
A mais importante diz que cansou de esperar e foi.
Que seja em outro dia, você diz.
Sinto meu rosto queimar numa mistura de calor e fúria.
A essa altura eu já estava do lado de fora do trem, na plataforma indicada para o encontro.
Percebo algumas pessoas passando e me olhando.
Tento serenar.
Não acredito,
Respiro, fecho os olhos e decido então, responder as mensagens.
Mando uma, duas, três, quatro.
Sem retorno.
Opto por ligar.
Ligo por diversas vezes e nada.
Já estou à ponto de voltar de onde vim quando dá sinal de vida.
Hoje penso que ali já era o destino agindo e eu devia ter respeitado.
Nada acontece por acaso.
Não deveria ter insistido.
Deveria ter aceito seu ponto de vista e ter dado meia volta para o lugar de onde vim.
Reflito que as coisas seriam tão mais fáceis para mim se simplesmente fosse assim.
Daquelas que aceitam tudo.
Entretanto, não sou dessas.
Depois de um diálogo em que notei um certo incomodo de sua parte eu apenas fiquei te aguardando.
Aguardei seu retorno enfrentando olhares curiosos e desejosos sobre mim.
Estava em uma via pública de grande movimento, e sendo horário de almoço dá para imaginar que a circulação só aumentava.
Será que estão pensando algo sobre mim?
Uma inquietação fazia-me sentir o corpo pegar fogo.
Que calor, meu Deus.
Será que imaginam algo sobre mim?
O que será que ela faz aqui há tanto tempo parada?
Até faria o mesmo questionamento se não estivesse eu naquela situação.
Esperei pacientemente o tempo preciso até você chegar.
Você chegou e nos olhamos.
Nossa conversa girou em torno de um impasse sobre esperar, ser paciente e afins.
Não como discussão, apenas um diálogo engraçado e amistoso ao qual nenhum de nós abriria a mão de sua razão, mas nos ouvimos com respeito.
No caminho ao olhar o céu percebi que estava carregado e escurecendo.
Dando um vislumbre de que a chuva chegaria muito em breve.
Paramos e já estávamos no lugar onde desejava.
Uau.
Privacidade e ar condicionado para aplacar o calor.
Tudo o que eu queria.
Entramos e olhei ao redor com apreço.
A primeira coisa que pensei foi que precisava tirar minhas botas.
Sentei na cama e foi o que fiz.
Por incrível que pareça sentia-me naturalmente tranquila em sua presença num lugar íntimo.
A conversa inicial fluía enquanto eu conhecia mais sobre você.
Olhava seu rosto procurando memorizar reações e emoções a nossa proximidade, ao toque sutial de minhas mãos sobre o seu rosto ou as palavras ditas por mim de tão perto.
Quantas surpresas vindas de ti.
Sorria a cada descoberta e perguntava com genuíno interesse, desejando saber ainda mais.
Nossas bocas se tocaram com maior intensidade.
Sentia o desejo.
Meu e o seu.
O beijo gostoso deu espaco as mãos que experimentavam tocando.
Desvelando parte dos nossos corpos e nos fazendo gemer.
Seu corpo nu colado no meu ainda vestido.
Suas mãos puxavam minha calça tentando eliminar aquela barreira.
Me levantei e tirei.
Permaneci com minha blusa de renda e alças finas.
Voltei a cama e voltamos a nos beijar.
Você apertando minha bunda enquanto me beijava.
Me deixando com vontade de mais.
Tentava abrir meu sutiã e eu decidi ajudar.
Tirei e senti os bicos duros dos seios roçando na renda.
Você me pediu;
- Sobe em cima dele. Coloca todo dentro.
E eu obedeci.
Coloquei a calcinha de lado e estava molhada quando desci o fazendo entrar.
Que delícia.
Subi e desci devagar.
Te ouvia falar, mas não prestava atenção ao.que dizia.
Gemia a cada rebolada, a cada descida.
Sentia seu pau ajustado a mim como se fosse o melhor lugar para ele estar.
Até pensei que fosse.
Sai de cima de você.
Nossos corpos já estavam suados.
Agora era você sobre mim.
Metendo com força.
Ouvi dizer quê eu não sabia o quanto estava desejando àquilo.
Ficamos nesse brincar gostoso.
Pedi para colocar a camisinha e foi o que fez.
Confesso que odeio isso porque impede a sensação deliciosa do atrito entre peles.
Mas, é necessário.
Você seguiu empenhado.
Olhava você, ouvia em meio aos meus gemidos, sentia o suor tomando conta de seu corpo.
Nosso primeiro contato foi bom.
Dali a pouco já estávamos conversando novamente.
Gosto da sinceridade com que responde ao que pergunto.
Só não gosto de ser curiosa demais, as vezes existem coisas que nem precisamos saber.
E eu preciso controlar melhor isso.
Evitaria muitos dissabores.
Falamos sobre diversas coisas e a conversa me dizia o quão interessante você é.
Adoro uma conversa onde a pessoa me desafia.
E foi o que você fez o tempo todo.
Até mesmo quando falou sobre ela e a única razão que o fazia estar distante da outra metade de seu coração.
Ficou nítido pela emoção na voz, pelo brilho em seu olhar que é ainda algo doloroso e recente.
E foi aí que descobri que aquele momento, que eu estar ali contigo era um teste sobre esquecimento.
Não há substituição quando trata-se de sentimentos.
Eu estava ali pelo alívio da carne, pelo sexo gostoso com alguém bacana.
E você queria um apagador de memória ou talvez não, só desejasse ver se conseguiria dar um passo a frente.
Em determinado momento você já estava em cima de mim novamente.
Beijando minha boca e depois me virando de costas.
Enfiou seu pau inteiro dentro de mim.
Com força.
Tirou e ficou de pé pedindo;
- Vêm, fica de quatro aqui ao pé da cama, se abre.
Colocou seu pau e ele deslizou gostoso.
Eu subia e descia devagar.
As vezes rápido e depois devagar.
Gemia porque estava gostoso.
Você me fodeu com força e quando desejou gozar tirou e jorrou sobre minha bunda.
Senti o líquido quente e sua voz falando algo num timbre rouco.
- Vamos tomar banho?
Fui primeiro e já tinha notado ali que algo mudou, só não sabia o que.
Nos banhamos cada um em seu lugar.
Nos falávamos, mas existia ali uma barreira invisível que foi construída em minutos.
Já estava dando nossa hora.
Fui organizando minhas coisas e me preparando para ir.
Você parece inquieto e finjo que não notei até começar a me pedir desculpas.
Ali sei que pela primeira vez eu cometi um grande erro de ir além depressa demais.
Mas, sou uma pessoa que respeita a posição do outro assim como a minha, e apenas disse que não aceitava as desculpas por não haver motivo para elas.
Vou terminando de me arrumar.
Só penso em sair dali porque as desculpas já tinham acabado com o clima bacana de conexão.
Vai ver que nem existiu a tal conexão e eu a criei sozinha, com a mente fértil que tenho.
Olho para você e sinto como se houvesse uma bruma espessa que me mantém no limite.
Penso no paradoxo desses limites neste exato momento quando não ultrapassá-los sempre foi desejo apenas meu.
Recordo-me de você exaltando seu intento de me fazer estar aberta a lhe sentir.
Intriga-me o fato de quê fui preparada para fazê-lo.
Coloquei-me no limiar entre o sentir e o querer.
Dentro de mim tudo se agita numa intensidade que se assemelha a um mar revolto.
Como ondas que vão e voltam.
Hora com força exuberante.
Hora com leveza de um ondular que cativa.
E eu me pergunto:
- O que aconteceu alí conosco naquelas poucas horas de uma tarde chuvosa e quente?
Para além da vontade de estarmos juntos.
Muito além da necessidade de sentir o toque entre nossos dedos, bocas e peles, que molhadas de suor exalava nossos cheiros.
Que ao se misturarem se tornava único, latente, desejoso e penetrante.
A conversa interminável.
O apreço e a sensação de empatia que o diálogo nos proporcionou antes e depois do febril desejo a ser saciado.
Fez-me refletir sobre conexão.
Lembro-me de como repetiu tantas e tantas vezes antes desse encontro deradeiro que não lhe importava a medida do meu sentir, pois já tinha ciência do seu querer.
Nada como a experiência colocada em prática para nos fazer perceber que não temos certeza de nada na vida até a entrega que antecede o momento presente.
E ao focar em seus olhos depois da satisfação da carne, notei que você estava no lugar certo com a pessoa errada.
Não deveria ser eu ao seu lado.
Pode ser que seu coração tenha lhe pregado uma peça da qual nem você tinha se dado conta.
E eu apenas recolhi agora dentro de mim tudo àquilo que estava disposta a entregar.
As sábias palavras ditas por você para encerrar o.que até aquele instante tinha sido a meu ver um
começo promissor, fez com que sentisse o estilhaçar de nossa energia.
Como se fosse uma parede de vidro que se rompe, quebra e se espalha em milhares de cacos pequenos.
Cacos que fere ao menor toque para que não haja oportunidade de se recompor.
Respirei fundo.
Controlei todo meu instinto de luta e fúria.
Porque não sou uma ilha, apesar de por vezes parecer.
E estava alí doando o que de melhor eu tenho a oferecer: tempo, atenção e zelo.
Decidi que era hora de semicerrar a porta anteriormente aberta.
A mágica só funciona na junção de dois lados.
E por entre as frestas de luz que teimaram em escapar e nos aquecer cada qual em sua aparente necessidade existe um alguém parado.
Intrínseco, no entanto, fundamentado em essência.
A presença não é surreal.
Seja física ou mental é palpável, verdadeira demais.
Nem mesmo a bruma a camufla, ao ponto de nos fazer questionar o inquestionável que os quereres eram idênticos e as possibilidades infinitas.
Entretanto, nós não estávamos preparados para estarmos ali.
Senti a brisa da aceitação triste soprar sobre mim.
E procurei dissipá-la como quem afugenta um inseto perturbador.
Não sou de sentimentos fáceis, mas eu os tenho.
E o principal deles e que ouso alimentar sempre mais é o do amor próprio.