Conto de fadas
Era uma vez Joana e Anderson.
No início da sua juventude, Joana conheceu Anderson em uma das aulas de teatro.
Como ela mesma dizia, ele era a personificação do príncipe que lhe daria filhos dignos de capa de revista.
Ele era loiro, tinha sobrancelhas um pouco mais claras que os cabelos, olhos verdes que em dias frios se tornavam azuis. E aquela boca? Joana descrevia como se fossem morangos vivos.
Sempre quando se beijavam, em momentos de êxtase, ela nunca perdia a oportunidade de dar uma mordida.
O casal começou a namorar bem no início de suas carreiras artísticas.
Joana, com seus 22 anos, e Anderson, um ano mais velho, sonhavam em se casar e viver felizes para sempre.
Contudo, Joana lidava com problemas emocionais que só depois de uma década foi dar nomes a eles, com ajuda de um neuropsicólogo, claro.
Ariana, com ascendente em touro e lua em peixes, ela era um furacão em pessoa.
Devido à sua mente e desejos montanha-russa, o casal vivia terminando e voltando.
Mas a culpa não era do taurino Anderson, coitado, que fazia de tudo para deixar sua mulher acolhida e feliz.
Dentro dessas idas e vindas o relacionamento durou 6 anos.
Numa das pausas, na última para ser mais exata, Anderson se refugiou no seu mundo virtual e jogos eletrônicos.
Joana entendeu como um sinal de que eles não estavam mais caminhando na mesma trilha. Pois na bifurcação passada, ele foi para um lado e ela para outro.
Apesar de ainda se verem, pois as trilhas estavam do lado uma da outra, o destino era em lugar diferente.
Eles terminaram, e de fato toda a história mudou.
Anderson se casou, Joana ficou noiva, se separando depois, e no meio de tantos namoros platônicos e decepções vindas de pessoas também traumatizadas, Joana teve um sonho.
Em uma noite qualquer, sem ter Anderson em seu radar, ele simplesmente apareceu em seus sonhos.
Era como se ele tentasse contato com a Joana do futuro. Uma mulher construída debaixo de muito trabalho psicológico, ginástica, estabilizador de humor.
Eles estavam em uma cidade grande em outro país.
Ela descia as escadas do que parecia uma universidade. Ele a esperava sentado no banco da parada de ônibus.
Ela ficou espantada com aquela cena. “Anderson aqui? Como assim”?
Ela simplesmente se aproximou, o abraçou forte por longos minutos. Parecia que estavam reconectando Anderson do presente com a Joana do futuro.
Sem falar nada, eles voltam a se sentar, ela coloca sua cabeça em seus ombros.
A noite estava gelada, havia chovido naquele inverno. Os dois usavam casacos quentinhos, luvas, e ainda assim conseguiam sentir o calor um do outro.
Então ela quebra o silêncio e começa a contar como ela chegou até o futuro, como ela se transformou na mulher que deveria ter sido naquela época. Uma mulher emocionalmente independente, profissional consolidada, com talentos culinários ocultos.
Anderson havia se divorciado, ela ainda não sabia, mas abria seu coração para reconhecer que ambos não estavam prontos naquela época para viver um conto de fadas.
Vivendo em tempos diferentes, eles precisavam amadurecer.
E foi no casamento que Anderson aprendeu isso.
O fato de Joana também se perder no caminho para depois se reencontrar, a ensinou o que é estar num relacionamento duradouro.
Ali, mesmo em silêncio, naquela parada de ônibus, ambos estavam preparados para pegar o mesmo transporte que os levariam para o mesmo lugar: para o novo lar.
FIM