A história do Natal

A história do Natal

 

La estava aquele moreninho franzino a olhar o noticiário na TV, pela vitrine da loja de eletrodomésticos, era fatal dava oito da noite se postava em frente à loja onde ficava vidrado nos Jornais da TV, uma criança bem diferente, pois a maioria só ali parava para ver filmes ou seriados.

 

Carlinhos menino franzino, que nem sabia mais onde morava, pois fora abandonado pela Carla, mãe viciada em crack, um abandono não por ruindade e sim por amor, pois o abandonou na porta de um abrigo de crianças que poderiam ser adotadas. Carla já estava jurada de morte pelos traficantes a quem devia e ficou com medo de um dia matarem também seu filho que só tinha três aninhos.

 

Carlinhos hoje com dez anos viveu até os nove no abrigo, que teve que ser fechado por falta pagamento do aluguel do prédio, sendo então que os menores terem que serem levados para abrigos públicos, em bairros distantes de onde fora literalmente criado e nem sabiam se ele seria transferido também para outra escola e que mesmo com pouca idade dos internos já sabiam o que passariam.

 

Os que já haviam passado por estes abrigos públicos relatam os maus tratos, como os castigos impostos como surras e até sevicias sexuais e isso os apavorava de terem alguns que voltar e outros como Carlinhos que só sabiam por relatos dos amiguinhos que já estiveram num deles.

 

Então ao se confirmar o fechamento e a transferência marcada para semana seguinte, das trinta crianças do abrigo só sobraram mesmo umas quinze, pois a metade delas já com a fragilidade pela falta dos chamados cuidadores que eram todos voluntários a vigilância caiu e assim houve uma debandada de quase a metade das crianças internas que fugiram para viverem nas ruas.

 

Nesta leva estava Carlinhos, era um menino moreninho magrinho, com um olhar que mostrava vivacidade, tanto o é que quando estava no abrigo como todos os internos ia a escola e nela tirava as melhores notas de sua classe, realmente uma criança especial, mas infelizmente como era um fugitivo ele e os amigos nem voltaram à escola, alguns seguiram para bairros que sabiam um dia ter morado.

 

Já Carlinhos havia ficado sabendo que pelo pessoal do abrigo um pouco de sua história, pois haviam feito junto a policia diligencias e descobriram a identidade de sua verdadeira mãe, pois Carla era dada como morta pelo trafico, só ficou sabendo disso pelo fato de quando já com sete anos sem querer uma da assistentes social não notou a sua presença e relatou a um casal que foi ao abrigo tentar adotar uma criança que um dos meninos por eles escolhidos era filho de uma viciada em Crack e morta pelo trafico numa boca de fumo do centro da cidade onde vivia com o filho.

 

Como ele era diferente das outras crianças, pois já fazia um ano como morador de rua e fazia questão de levar nas duas mochilas suas roupas e sempre limpinhas, pois as lavava em um vazamento de agua constante no canal da Avenida Presidente Vargas e lá tomava um banho diário, logo além de estar sempre asseado suas roupas mesmo amarrotadas não eram sujas, algumas já rasgadas, mas limpas.

 

Quando o convidavam para subirem o morro da Providencia e pegarem drogas, ele se recusava, pois para ele era traumático saber do final de sua mãe que por sinal achava ele que deve ter sido assassinada em alguma comunidade pelo centro da cidade, então tinha pavor até de cigarros comuns imagina de maconha, saia de perto quando os amiguinhos estavam a fumar umzinho ou fumando crack.

 

Carlinhos nos fins de semana à tardinha tomava seu banho pegava a sua melhor roupinha, tentava de alguma forma desamarrotar ela com as mãos e ia andando até Botafogo em direção ao Shopping. Pois de outra forma não tinha como ver a novas noticias e ali se postava em frente à loja de eletrodomésticos situada em um dos luxuosos corredores, não se importava com alguns olhares repugnância de membros da dita sociedade pela sua aparência.

 

Por já estar fazendo isso desde quando fugiu do abrigo e pela sua postura, calma e educada, pois sempre dava boa tarde aos funcionários e pessoas que de alguma forma falava algo a ele, mesmo sendo um menino de rua, conseguiu ser digamos assim meio que aceito não só pelos funcionários da loja e até pelos seguranças a todos se dirigia com respeito e acatador de ordens, os chamando sempre de tios e tias e isso fez dele um menino diferente dos muitos meninos de rua, pois outros em sua mesma condição ao adentrarem quando conseguiam eram logo expulsos pelos seguranças.

 

Já chegando novembro as lojas de rua e do Shopping, começaram a se enfeitarem para o Natal, ao chegar a esta época desde ainda no abrigo, mesmo nele tendo de certa forma o amparo carinhoso dos atendentes voluntários Carlinhos se isolava em um cantinho bem próximo ao presépio e da arvore de natal, seu olhar era um olhar triste, ao ser indagado pelo pessoal do abrigo se sua aparente tristeza era a incerteza de que iria ganhar presentes ou não, ele afirmava que não e que não sabia porque sentia a vontade de estar só ali.

 

Nossa o Natal passado ele lembrou como ficou e o que passou, pois só estava vivendo na rua há poucos meses, na semana do Natal Carlinhos de tão triste que teve até que ser atendido em um Hospital publico, pois seus amiguinhos de agruras até pensavam que Carlinhos fosse morrer de tanta tristeza.

 

Já adaptado às nuances da vida, pois já estava na rua a mais de um ano Carlinhos ficou como ficava no abrigo, pois suas idas aos fins de semana ao Shopping ficava mais perto do lindo presépio armado do que vendo os noticiários na loja de eletrodomésticos, já bem perto do Natal, ou seja, na semana que antecede o Shopping aumentou a área do presépio até com um palco para encenação diária do nascimento do AMIGO MAIOR, tinha de tudo atrizes e atores representando desde o boi, o burrico e as ovelhas bem como Jesus, Maria e José, o anjo e a estrela, os reis magos e até os pastores. Culminando com um Papai Noel descendo em um trenó e flocos de neve ao seu redor.

 

Ai que Carlinhos se punha a sonhar ficava ali admirando a cena bem diferente do que via no abrigo e onde também pela historia contada pelos atores e atrizes tentava entender como aquele bebê na manjedoura se tornaria um homem santo. Em sua mente juvenil era questionamentos em cima de questionamentos.

 

Ficava sentadinho tendo em volta outras crianças, logicamente bem diferentes, mesmo assim criança e para elas não importava se elas estavam com roupas de grife e que Carlinhos, com as suas já gastas pelo uso muito embora em alguns casos ate mais limpinhas que as que estavam para os olhares da sociedade é o dito né criança não tem maldade.

 

Mais um fim de semana lá estava Carlinhos, quietinho com o olhar vidrado nos personagens e depois ficava com seus olhos fechados paradinho tentando decifrar como o bebê se transformou no que chamavam de Jesus, ficava ali horas e horas pensando nisso.

 

Era derradeiro para ele o dia de Natal ficava aquele ser melancólico, não pelos presentes e sim pelas mesmas histórias que ouvia no Natal desde época do abrigo, piorou depois de ter ido morar na rua, e ver tanta pobreza, depois de ver pessoas sendo mortas por ganancia de seres ditos poderosos ou gananciosos, pelo trafico, nas guerras pela TV, de pessoas passando fome e outras mazelas.

 

Nesta noite já na ultima apresentação pelo fato dele estar ali há horas meditando e se perguntando os porquês, acabou adormecendo e pelo fato de todos sempre o verem de olhos fechados nem se tocaram que na verdade Carlinhos estava dormindo.

 

Carlinhos ao cair no sono começou a sonhar que um homem que vinha ao se encontro com uma túnica branquinha, sentava ao seu lado e tentava explicar a ele os seus porquês, dizia.

 

Carlinhos a vida tem seus lados o dito ser humano tem seu lado bom e o ruim, ai depende de como ele ira agir, você fala de diferenças entre os seres, vamos a elas, tem muitos seres bons que teriam tudo para ser ruim você é um exemplo disso, e vice versa.

 

Falas muito da maldade do ser humano, de mortes, atrocidades que vê pela TV ai falo a ti que tudo na vida tem seu retorno, falas também pela maldade que se faz com crianças, mulheres e idosos que você vê nos noticiários como este de guerra onde por questão ideológicas ou por ganancia se mata pessoas inocentes, se bombardeia Hospitais matando crianças, mulheres e idosos a vida neste mundo é isso Carlinhos queria eu que todos fossem Carlinhos seria bem melhor o mundo.

 

Já horas depois da ultima encenação com o Shopping quase já fechando para o pessoal fossem para casa curtir a ceia de Natal é que se deram conta que no cantinho tinha um menino de rua deitadinho no frio chão do Shopping ao lado presépio que já iam desarmar, uma das atrizes e um ator justamente os que faziam os papeis de Maria e José disseram o conhecer, pois haviam notado todos os dias sempre ele ai sentadinho e foram carinhosamente o acordar.

 

Ao tentarem acordar Carlinhos sentiram seu frágil corpinho gelado, seus olhos bem abertos onde deles devia ter escorrido grossas lagrimas, mas estranho ele não tinha a aparência de que havia sofrido, pois seu rostinho aparentava tranquilidade quase que uma expressão de alegria, o casal de atores de imediato pediu socorro parta acudirem o menino, imediatamente veio a equipe medica de plantão no Shopping e ali constataram que o menino estava morto, segundo a equipe medica morte por um infarto agudo e falaram que por ser um menino de rua poderia ser portador de alguma doença cardíaca sem nunca ter chance de se medicar.

 

Na realidade foi que Carlinhos ao termino da explicação do homem que veio ao se encontro com uma túnica branquinha, sentiu uma paz que desde seu nascimento não havia sentido e do nada aparece sentado também ao seu lado Carla sua mãe, agora com a expressão doce, tranquila e carinhosa que toda mãe tem e não com aquela aparência que o deixou na porta do abrigo desesperada em o abandonar ele pra salvar sua vida.

 

Carlinhos não morreu simplesmente, teve a resposta de seus questionamentos e encontrou sua felicidade em outro mundo ao lado de sua querida mãe...

 

"Só seremos adultos, quando soubermos respeitar uma criança,

principalmente em uma data como a do nascimento do AMIGO MAIOR"

 

Djalma Pinheiro

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Imortal da Academia Mundial de Cultura e Literatura – Cadeira:13.

 

Djalma Pinheiro
Enviado por Djalma Pinheiro em 24/12/2023
Reeditado em 03/02/2024
Código do texto: T7960791
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