Um caso Real de Amor

Já beirava a segunda metade dos anos 70 quando me via acuado entre um universo do interior e a cidade. Deixei pra trás um algoritmo de lembranças para encarar outros encantos.

Era uma escola com mais de 300 alunos, num bairro qualquer de minha cidade. Fiquei assustado com tanta gente, mas fui encarando a nova realidade entre um sorriso e uma angústia.

Ela vinha caminhando rodeada de amigas. Era alta, passos de modelo, olhar no horizonte, cabelos loiros e um ar de arrogância. Fiquei observando o compasso de seus passos e percebi minha insignificância naquele espaço escolar.

Naquela época, na minha escola havia três turmas: turma “A” (inteligentes e estudiosos); turma “B” (purgatório) e turma “C” (umbral). Eu, (talvez pelo sobrenome) estava no purgatório, mas meus colegas estavam todos no inferno.

Maria, com seu olhar impiedoso era filha da classe média local e estava na turma dos inteligentes. Confesso que minha timidez não permitia alcançar seu olhar e talvez de nada adiantaria.

Concluído o ensino fundamental, cada qual seguiu seu caminho. Agora, já adulto e com uma filha no ensino fundamental, encontro Maria levando sua filha no mesmo colégio que a minha. O passado estava ali, presente, com todas as características pretéritas. Minha filha estava na mesma sala da filha de Maria. Parece-me que o destino é uma artimanha de Deus, (para os crentes). Para mim, o destino é fio único, flexível no estilo.

E o tempo segue. Agora com as filhas já formadas e graduadas. Num destes dias, no fim do expediente, entro no elevador para ir embora do trabalho e encontro Maria. Ela diz: - Boa tarde! Como você está? - E assim começou um diálogo expressivo de uns dois minutos. Foi apenas um recorte que me deixou perplexo depois do abraço de despedida recebido. Minha cabeça girava perturbada com o evento. Interrogações e exclamações seguiram-me. Em casa, comentei o acontecido com minha filha. – Lembra da Maria? Mãe da tua colega de colégio? – Sim pai, lembro! – A encontrei e conversamos. Minha filha respondeu: - Pai, ela está com câncer!

Um diálogo, um abraço e Um caso Real de Amor!