Estrela do Mar

Estavas na praia, debulhando-se em lágrimas,

suplicando por um amor que lhe acolhesse,

clamando por um amor que a enxergasse na plenitude,

orando por um amor que cuidasse de suas feridas,

afinal, o que pensara ser amor no passado a havia maltratado,

havia retirado sua dignidade humana de sonhar, de se encantar,

ah, eles, os homens que estiveram em seu caminho lhe fizeram tão mal,

abandonos, grosserias, furtos, tristezas, humilhações, preconceitos,

logo você que desejava viver contos de fadas, histórias de filmes,

logo você que se entregara tanto e recebera quase nada,

logo você que ficara com duas crianças para prover, sozinha,

por isso, naquela noite, naquela praia, olhando para o céu de estrelas,

convocou o destino, os deuses, a natureza a lhe darem uma resposta,

alguém afinal poderia lhe amar por inteiro?

Alguém seria amor para você e as meninas?

Alguém a veria finalmente depois de tantos cegos sem tato?

Então, uma das estrelas, ouviu suas preces, seu canto, seus pedidos,

a estrela se apaixonou por aquele pequeno ser fragilizado na praia,

a estrela desistiu de sua eternidade no universo e assumiu-se um cometa,

rumou para a terra, para aquele oceano e nele aterrissou como estrela do mar,

por amor, por amor, por amor, por amor, por amor.

Como estrela do mar nadou até a costa, até a praia e se manifestou à jovem,

se declarou, se comprometeu a atender todos os seus desejos mais profundos,

mas a jovem a olhou horrorizada, não era capaz de unir-se aquele ser do mar,

se ainda fosse um marinheiro, um mergulhador, um pescador, um ser humano,

seus princípios, suas crenças, sua fé em milagres humanos não podia aceitar,

todavia a estrela do mar apaixonada ofereceu seu amor incondicional,

lhe propôs uma tentativa e a partir daí imaginava conquistar o sentimento da jovem,

mesmo ressabiada e cheia de senões a jovem concordou e todas as noites retornava,

vinha a praia e encontrava poesias, conchas com músicas profundas,

vinha a praia e encontrava iguarias alimentícias deliciosas para si e suas filhas,

vinha a praia e encontrava enfeites e brinquedos para suas meninas,

vinha a praia e encontrava unguentos para curar dores, feridas, mágoas,

vinha a praia e encontrava ostras com pérolas e baús de tesouros de navios naufragados,

e todas as vezes a estrela do mar a iluminava como um farol que direciona sua luz,

a jovem brilhava como uma estrela, reluzia como uma coroa de ouro puro,

mas com o passar do tempo a jovem passou a vir somente uma vez por semana,

depois uma vez por mês, sempre apressada, para buscar suas prendas,

dava uma desculpa e retirava-se sem sequer olhar a estrela do mar,

percebendo o distanciamento, a frieza da jovem, a estrela do mar sofreu,

mesmo assim insistiu em ficar, em continuar cuidando de sua amada,

e um dia reuniu todos os seus poderes celestiais e oceânicos e transmutou-se,

tornou-se uma figura humana, mas apenas por 24h, todavia, o fez mesmo assim,

e a jovem ao chegar a praia não gostou da aparência da figura humana,

não era uma estética que lhe agradava os gostos pessoais, não lhe atraiu,

olhou, virou as costas e foi embora inventando uma desculpa qualquer,

e a estrela, agora figura humana, debulhou-se em lágrimas, sozinha, abandonada,

sem razão para continuar, sem ter mais como voltar aos céus do universo,

a figura humana se lançou ao mar e nadou até as profundezas, até a exaustão, até se afogar,

no dia seguinte, pescadores encontraram a estrela do mar flutuando, sem vida,

levaram-na para um Oceanário onde se encontra em exposição,

mas nenhum dos visitantes conhece a sua história, permanece na indigência.

A jovem? Enriquecida com as prendas, encontrou outros amores,

viveu outras experiências com marinheiros, mergulhadores, pescadores,

até que dilapidada pelos amantes atrativos e conforme suas crenças, voltou à miséria,

voltou a ser magoada, a passar necessidade com suas filhas, a sentir-se sozinha no mundo,

e novamente voltou a praia e começou a suplicar ao universo

Porque não consigo ser feliz? Porque ninguém me ama como mereço?

Porque ninguém me aceita sem preconceitos? Porque ninguém consegue me ver?

E ali ficou, voltando e clamando, todas as noites até o fim de sua vida.

Andretti
Enviado por Andretti em 09/12/2023
Reeditado em 09/12/2023
Código do texto: T7950360
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