Mensagem para você

 

— Então, Renata, conte-me como foi esse sonho e por que lhe deixou tão ansiosa.

Estou em frente a ele mesmo, ou será outro sonho? Irei responder com cuidado para não assustá-lo e eu acordar. Quero que esse sonho não termine…(caso seja um sonho)

— Dr., você já assistiu ao filme “MENSAGEM PARA VOCÊ”, aquele interpretado por Tom Hanks e Meg Ryan?

Esse Dr. dos meus sonhos, sempre tão sério, tão profissional, nunca me deu um motivo para voltar nessas sessões, com essa cara de poucos amigos, porém, eu continuo a sonhar com ele, sonhos que eu gostaria que se tornassem verdade. Percebo que se lembrou de alguma coisa, deve ter assistido ao filme também... ele não responde, apenas fica me observando, tenho certeza de tê-lo visto esboçar um leve sorriso, foi muito sutil, mas ele estava ali.

Eu continuo a falar do filme.

— Meg e Tom não se conhecem, apenas trocam e-mails durante as noites. Fazem confissões de suas vidas, conversam como se fossem velhos conhecidos e acabam se apaixonando. Um amor que começa pela cumplicidade e pela troca. Os dois descobrem que amam literatura e a cada mensagem trocada eles vão descobrindo mais e mais coisas em comum. E todas as noites eles ficam esperando as mensagens chegarem.

— Renata, você sonhou com o filme?

— Não, Dr., sonhei com o Murilo.

— Murilo? Quem é Murilo? — Esse Dr. perguntou mesmo quem é Murilo?

— Murilo é um escritor de contos de FC, terror, prosas poéticas, e, li alguns deles sobre cotidiano, num desses contos ele batizou uma personagem com o meu nome — coincidência? — Estou encantada com a escrita dele. Com suas palavras. Eu entrei em contato com ele. Mandei algumas mensagens, e ele me respondeu! Dr., você não tem noção de como ele foi gentil, educado e atencioso. Depois que ele falou comigo por mensagem, eu sonho todas as noites que somos confidentes iguais ao filme. Trocamos fotos de nossa infância, adolescência e mesmo agora, na idade adulta. E, Dr., acho que me apaixonei por um sonho, ou melhor, me apaixonei pelo escritor. Quero estar com ele todos os dias e se ele não me manda mensagem eu passo mal o dia todo.

— Renata, você sonhou que ele te manda mensagens ou realmente vocês estão trocando mensagens?

— Faz diferença Dr.?

Este Dr., deve pensar que sou louca! (será que não sou?)

— Em sua família tem algum caso de transtorno mental?

— Que eu saiba, não.

— Você já apresentou TCE?

— Dr., que é isso? Não entendi o que você está perguntando.

— Ah! Me perdoe. Você já teve um traumatismo crânio-encefálico?

— Se eu bati a cabeça? É isso que o Dr. está me perguntando? Parece que eu caí do berço quando era criança, penso que devo ter batido a cabeça sim, minha mãe fala isso sempre.

— Você já teve sonhos parecidos como esse com outras pessoas ou está condicionado apenas a esse escritor?

— Meus sonhos dessa natureza são exclusivos com esse autor, apenas com ele.

— Certo… se você não sofreu nenhum traumatismo, não tem histórico de transtornos mentais na família… faz uso de algum medicamento antidepressivo ou para ansiedade?

—Todas as respostas são negativas, Dr.

— Renata, podes me mostrar alguma das mensagens que vocês trocaram, me dar alguma evidência concreta dessa interação sua com ele?

Pego o celular e abro o aplicativo do e-mail, e mostro para esse moço a mensagem que Murilo respondeu.

 

“De Murilo”

“Renata, fico feliz por você ter gostado da minha escrita, é por leitoras como você que nós escritores continuamos a escrever.”

O Dr., me olha com espanto, as dúvidas somem de sua feição; agora observo que ele acredita em mim. Sonhei com o escritor sim, mas a nossa interação é verdadeira.

— Renata, já pensou na possibilidade desse autor ter sido apenas educado como ele deve ser com todos os leitores que entram em contato? Sobre os conteúdos desses e-mails, podes me dizer mais algumas coisas?

E agora, conto ou não?

— Okay, ontem conversamos sobre nossa infância, como foi a nossa relação com nossos pais. Mas já trocamos mensagens quentes.

— Quentes? Quando você diz “quente”, o que isso quer dizer ? Que tipo de mensagens são essas?

— Dr., desculpe-me, mas essa informação vou ficar lhe devendo. São mensagens pessoais e íntimas. Mas posso lhe dizer que foram essas mensagens que fizeram eu me apaixonar pelo Murilo.

Tive a impressão de que ele segurou outro sorriso. Não! Deve ser impressão minha. (“Çei” não).

— Perdoe-me a insistência, Renata, mas gostaria de saber sobre esse teor “quente” das mensagens, confesso que me aflige uma pequena curiosidade em saber como seria uma mensagem quente. Quero ter certeza de que você não estava sonhando, pois, nem mesmo você está acreditando que não foi sonho.

Será que ele não sabe ou está se fazendo de desentendido?

— O senhor já ligou alguma vez na sua adolescência para o telessexo? — Ele me olha com uma expressão estranha, como se eu tivesse duas cabeças, mas, para ele entender tive que dar uma resposta meio chula, um Dr. elegante como ele talvez nem saiba o que é hot. Se eu dissesse que nossas conversas são, às vezes, hot, o que será que ele pensaria de mim? Devo contar? Mas pela expressão que fez agora ele já sabe com certeza o que é quente.

— Hum, hum… não, senhorita Renata, nunca liguei para nada disso, perdoe-me a indiscrição.

— Dr., vou te mostrar uma das mensagens quentes, mas tudo que o senhor ler, eu gostaria que não anotasse nesse seu caderninho, que ficasse apenas entre nós dois, pode ser?

— Moça, nossas sessões são estritamente sigilosas, tudo que conversamos aqui é confidencial.

—Okay Dr. — Abro uma mensagem hot, não bem hot, mas foi o começo de tudo, onde começamos a sentir uma atração.

“De Murilo: Vamos brincar?”

“De Renata: Brincar de quê?”

“De Murilo: Eu digo uma palavra e você diz o que vem em sua mente sem pensar muito.”

“De Renata: Certo, vamos.”

“De Murilo: Amor”.

“De Renata: Tesão”.

“De Murilo: Casa”.

“De Renata: Cama”.

“De Murilo: Filhos”.

“De Renata: Fazer um”.

“De Murilo: Borboleta”.

“De Renata: Astronauta”.

“De Murilo: O que borboleta tem a ver com astronauta?”

“De Renata: Oras, Murilo, tudo. Cê já observou um voo de uma borboleta? Já percebeu a elegância e sutileza do voo dela? Para mim, é como se ela fosse um astronauta.”

‘‘De Murilo: Interessante você dizer isso, porque amo borboletas, elas me fascinam, são lindas e cativantes.”

“De Renata: Coração”.

“De Murilo: Apaixondo”.

“De Renata: Vida”.

“De Murilo: Você”.

“De Renata: Eu, Murilo?”

“De Murilo: Sim, amor, você se tornou minha vida.”

— Então, satisfeito Dr.? No sonho, quero dizer, em nossas mensagens, ele fala que me ama, que sou importante para ele. Outra coisa, Dr.: se fosse sonho, ele, como escritor de FC, diria no meu sonho que construiria uma máquina de se teletransportar, não é mesmo? (ele disse).

— E vocês já se conheceram pessoalmente?

— Não senhor, mas isso vai acontecer em breve, muito breve.

— Hummm! Como isso vai acontecer? Ou melhor senhorita, onde vai acontecer esse encontro?

— Já tenho tudo esquematizado, vou fazer uma surpresa em seu trabalho.

— Hummm — Repetindo esse “hummm”, será que isso quer dizer alguma coisa?

— Vou entrar no seu consultório de surpresa, estarei com esse vestido que estou usando. Vou sentar no seu colo, ficarei assim bem perto do seu ouvido, repetirei tudo que já falei nas mensagens. Direi que me apaixonei primeiro pelo escritor, e agora estou apaixonada pelo homem que descobri dentro do escritor. Assim, Dr., bem baixinho só para ele escutar.

— Renata, Você está sonhando agora?

— Diga você, Dr. Murilo. Isso parece um sonho? Estou delirando? Se for um sonho não quero acordar. Deixe eu realizar meu sonho com você.

 

 

 

 

Um agradecimento especial para  um amigo que a literatura me deu, Jota Alves. Suas sugestões e orientações foram importantíssimas, onde deixou meu texto mais rico e "verídico". 

Neyla Castor obrigada pela revisão do texto e maravilhosas sugestões.

Juliana Duarte Honorato e Revisão e imagem de Neyla Castor Contibuição na formaçao do texto de Jota Alves
Enviado por Juliana Duarte Honorato em 02/12/2023
Reeditado em 05/12/2023
Código do texto: T7945359
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