Disfarce... #M#
Naquela missão de revanche ela devia manter o controle absoluto. Riscos, emoções eram inimigos. Uma ameaça aos seus planos. Até porque, amor construído com mentiras seria sempre uma estória árdua. E quando paixão e traição se encontram, dissolução, inevitavelmente começa.
Ivy bufou.
Todo o relacionamento, mesmo aquele que em que se acreditava fatalmente, morria.
Na sala da presidência ouviu pela enésima vez as gravações no dispositivo espião que plantara bem debaixo do móvel secular - a mesa de jacarandá - onde seu maraido comandava seu império nas reuniões de negócios. Onde fazia amor com ela e a traía com as vadias.
Num espasmo involuntário de dor e raiva soltou um riso sarcástico, dorido.
"O que ia doer mais nele ?"
"Armar pra ele presenciar o seu “melhor amigo”, que sempre dera descaradamente em cima dela, fazendo amor com ela? E justamente naquela mesa, objeto do seu desejo?"
O coração de Yvy, dividido entre a emoção e a razão, acariciou a ideia.
"Ia doer, ah, se ia!"
A respiração bem perto de suas costas a desnorteou.
Podia sentir o calor daquele corpo. A sensação a deixando tonta.
Manteve os olhos fechados.
Numa fraca reação interpôs as mãos sobre aquelas mãos. Inútil. Elas continuaram a massagear seus ombros. Saciando loucuras, aliviando tensões.
“Ahhh", suspirou.
O suspiro satisfeito incentivou o intruso que a tomou nos braços.
Ela tinha consciência da atração. O fator luxúria era um risco com o qual não contava.
Ele a girou entre os braços. Reteve-a. Beijou-a.
Seu toque amava-a como ela o amava.
Fechou os olhos. Expressão mais sincera, sim. Como a mostrar que o amor vence e nunca exerce vingança.
Importa que lá fora o tempo vai mal?
Louca, crédula, idiota?
Existem recantos n'alma que não carecem de serem exibidos, nem compartilhados. Nem bons, nem maus, nem vergonhosos, nem indignos. São seus... Apenas!
Quando o amor decide, deixar a chuva cair é sábio.
Sentidos só sentindo, amores suspirando, Ivy se entregou ao faz de conta.
Ela tinha sonhos. Quem não os tem? Tudo canta e sorri às almas que sentiam paixão como a dela.
Deslizes (Fagner)