:O Uivar da Loba".

Hoje parece um daqueles dias típicos em que minha cabeça está recheada de ideias, imagens, músicas, sons, conversas...

A mente trabalhando arduamente tentando dar conta dos inúmeros pensamentos que

se cruzam e conectam-se como se fossem ingredientes de alguma receita qualquer.

As possibilidades vão surgindo tão depressa quanto eu as descarto.

Num tempo recorde que causaria assombro a qualquer ser humano normal, mas já não

faço parte dessa categoria há um bom tempo.

Sorte?

Azar?

Adoraria saber.

Nem sempre é fácil controlar a mente de alguém que analisa cada acontecimento em detalhes.

Essa tem sido uma das minhas dificuldades neste período de distanciamento.

Como analisar as situações que me envolvo, as reações das pessoas quando não tenho

a vantagem de olhá-las frente à frente?

Às vezes até um piscar de olhos pode nos indicar o que a pessoa sentiu ao nos ver ou ouvir.

Analisar as reações do outro a tudo o que lhe digo e que de certa forma nos envolve é algo que faço com uma naturalidade de psicopata.

Talvez não sejam todas as pessoas que tenham esse feeling, no entanto, é algo que não consigo evitar.

Estava eu tentando aplacar minha ansiedade com futilidades na rede social quando li algo que caiu sobre mim como um muro de concreto, como um raio a me resgatar desse emaranhado imenso que insisto em tecer, tecer e tecer.

"ARREPIO É O CORAÇÃO DIZENDO QUE SENTIU".

Automaticamente como que para validar o que acabara de ler, senti aquele choque que corre pela espinha e que dependendo da intensidade enrijece os bicos dos seios e chega até a raiz dos cabelos.

A quem estou tentando enganar.

Existe um motivo para toda essa minha inconstância e eu sei bem qual é.

Só que é tão mais simples fingir, se aquietar e esconder lá no fundo onde ninguém um dia sequer há de imaginar.

Aquela adrenalina que percorre o corpo inteiro e parece aquecer o sangue ao fechar os olhos e pensar em alguém.

A sensação louca de que precisa de algo ali naquele exato instante.

E essa ânsia é tão grande que o pulsar do coração acelera e você o sente na garganta, como para sufocar qualquer pensamento que venha lhe dizer que não existe nada com que se preocupar, que existe o autocontrole.

Você tenta dormir e toda vez que fecha os olhos é uma sucessão de momentos, misto de sensações e um ardor que aguça todos os sentidos e lhe faz sentir o cheiro e a presença de alguém que não está lá.

E nessa doce tortura você imagina olhares que se cruzam, mãos que se tocam, lábios que se buscam na tentativa de conceber um sabor que ainda não conhece e talvez jamais há de conhecer.

A fantasia lhe faz crer que será como o frescor da água descendo pela garganta sedenta após percorrer um longo caminho pelo deserto, ou quem sabe como a suavidade do vinho que aquece pedacinho por pedacinho do corpo a cada gole ingerido.

É só fechar os olhos e sentir o corpo vibrar de nervoso, emoção, tesão e um punhado mais de coisas que nem sei como descrever.

É o tudo e o nada numa dança louca e frenética que só uma mente insana consegue criar.

A insanidade está em mim e tem permeado meus dias e noites a procura do que não tenho e não posso ter.

Felizes são aqueles que conseguem manter seu lobo amarrado pela coleira.

A minha loba uiva cada dia mais alto.

Desejando que um dia o motivo dessa loucura toda

se desfaça.

Como as nuvens com o soprar dos ventos fortes em noites de inverno.

Blandos Vultus
Enviado por Blandos Vultus em 24/11/2023
Reeditado em 24/11/2023
Código do texto: T7939006
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