CARTAS (continuação de "Domingo de sol")
Depois de quase vinte anos, supostamente, no controle de sua relação com Débora, Gustavo agora precisaria submeter-se a essa nova condição: ela, honesta e decididamente, tinha assumido as rédeas do destino. E manter-se nessa condição passou a ser o maior desafio. E isso era ao mesmo tempo intrigante, desafiador e cansativo.
Quando o cansaço pesará mais que seu gosto pelo novo? Seu prazer em viver cada dia diferente do outro será suficiente para superar o extenuante pensamento de não ser mais o exclusivo objeto do desejo de Débora?
Somado a isso, o estranhamento de não mais reconhecer sua mulher quando ela estava na companhia da namorada. Era como se a Débora e todas as faces que ele tinha aprendido a ver nela tivessem colapsado nessa visão agora de uma mulher totalmente dominada por uma paixão.
"Pode reservar o chalé, Thalya vai conseguir folgar no sábado", pede Débora do outro lado da linha, sem se dar muita conta do estado sentimental de Gustavo. Para ela o fato de o ter incluído era absolutamente suficiente para que ele "levante suas mãos para os céus e agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você". E o pacto inicial era esse: não vou deixar de viver essa paixão. Se você quiser participar, serei dela e sua, - mais dela do que sua e talvez em algum momento, somente dela. Se não aceitar e estragar tudo, vai ser pesado, mas vou me reconstruir, mas não vou me afastar um minuto de Thalya.
Não vai ter milagre, estava claro agora quem dava as cartas.