A beleza criada para si: uma dádiva do Alto
Deitados no Ibirapuera, toda a agitação de São Paulo acontecia sobre nossos ouvidos, mas por esses instantes, qualquer barulho, sem ser a respiração do outro, realmente importava. As horas passaram despercebidas, enquanto o mundo agitado ao nosso redor desaparecia, e nós éramos os únicos habitantes de nosso pequeno refúgio verde, no meio de folhas caídas do céu. Apesar do barulho constante de uma cidade movimentada, as nossas palavras se tornaram dispensáveis, porque parecia que estávamos em um constante diálogo silencioso.
O sol lançava seus raios através das folhas, criando um manto luminoso que dançava sobre nós, como se a própria Natureza estivesse nos contemplando. Meus olhos vagavam pelo rosto dele, capturando todos os detalhes que eu queria guardar para o resto da semana que passariamos mais uma vez distante.
Foi quando mergulhei nos seus olhos cintilantes e percebi que suas pupilas se dilatavam, como duas órbitas infinitas, refletindo a eternidade se desdobrando ao nosso redor. Naquele instante, tudo o que pude enxergar foi isso, a eternidade. Por que, afinal, esse não é o fim último de tudo?
Com o L sempre é fácil reconhecer o que Nosso Padre disse: “O amor humano, o amor aqui embaixo na terra, quando é verdadeiro, ajuda-nos a saborear o amor divino.”. Mas especificamente, quando estou simplesmente perdida no olhar dele, é concreto degustar desse amor divino. Olhar pra ele me faz contemplar toda a beleza que o Altíssimo Senhor criou, não unicamente para mim, mas para Si. E o quão sortuda me sinto de saber-me predileta dEle, por ter o privilégio de experimentar um pouco de todo Amor que sentiremos lá no céu, quando o Senhor for tudo em todas as coisas.
Olhar para o L, naquele olhar demorado, foi como se nossos pensamentos se entrelaçassem como ramos dessa uma mesma árvore, conectando nossos sonhos, nosso passado, futuro… e toda a Vontade dEle.
O amor que transbordava dos nossos corações já não era mais um silêncio reconfortante, onde duas criaturas d'Ele sentiam a presença uma da outra; era uma visão clara, naquela clareira verde, de que fomos moldados por Ele para esse momento. Para amá-Lo, acima de tudo, olhando para a pupila um do outro. Para amá-Lo, apoiando-nos como pilares de uma catedral celestial, sustentando o teto do nosso maior sonho com a firmeza d’Ele. Para amá-Lo juntos, como galhos entrelaçados dessa árvore que guardava-nos no meio do mundo, em uma dança eterna sob o olhar atento do Criador. Amá-Lo, sentindo esse pulsar de dois corações humanos que vibram em harmonia.