A luz
Eu sentia que estava em um quarto escuro. Por um tempo, tateei em busca das paredes e senti a maçaneta da porta, mas tudo se resumia ao escuro. O breu. Então me sentei rente à parede em frente à porta e fiquei lá, me acostumando com a escuridão e a solidão.
Nem sei dizer por onde ele veio, como entrou. Vi uma pequena chama aparecendo e meus olhos doeram, me afastei e apertei os olhos desconfiado. Ainda não podia enxergar nada, mas me acostumei com aquela pequena vela acesa quando outra se juntou à primeira. Foi tão rápido, mas logo havia um castiçal, então dois, três... Meus olhos que iam se acostumando com a claridade também foram se arregalando de euforia.
Logo eu estava gargalhando, o peito aquecido e com a visão de grande parte do quarto.
A porta então se abriu. Ele a segurava e pela primeira vez desde sabe-se lá quando tempo, pude olhar para fora e ver. Eu vi o futuro, vi tantas coisas bonitas, o sol brilhando quente e convidativo. Mal reconheci minhas pernas quando tentei me levantar e correr para alcançar o calor de fora, eu estava tão feliz que o tropeço mal fez cócegas, principalmente porque lá estava ele me estendendo a mão, apoiando-me quando levantei. Meus olhos nem conseguiam mais ver a escuridão daquele quarto.
Então, como uma tempestade que chega de repente, ele se foi. Sua mão soltou a minha e ele recolheu cada uma das velas ainda no quarto, as apagou e então foi embora, fechando a porta em meio ao meu estupor. Nada fez sentido naquele momento, as lágrimas chegaram primeiro que a compreensão. O sol havia ido embora também, meus olhos protestaram com aquela escuridão repentina novamente, e um ruído quebrado escapou da minha garganta quando me joguei na porta.
Bati com tanta força que meus dedos ficaram doloridos ao ponto de não passarem pelo meu cabelo sem me fazer estremecer. Gritei tanto que minha garganta se recusava a pronunciar mais alguma palavra. E eu chorei tanto que meus olhos ficaram inchados demais para se importar com qualquer nova chama. Eu estava de volta ao início, mas de alguma forma, tudo parecia ainda pior.
(Se você desliga as luzes para dormir, seus olhos protestam de primeira, mas logo vão se acostumando e relaxando para que pegue no sono. Porém, se uma luz é acesa, seus olhos vão doer como se tivessem areia e será ainda mais difícil se acostumar quando tudo voltar a escuridão. Vai continuar vendo aquele vestígio de claridade por um tempo, e quando tudo se ajeitar, não vai querer nenhuma chama nova.)
Ainda vejo o vestígio das velas. Dele.
Mas não quero uma chama nova.
Agora eu me sento de costas para a porta.