Germinal
Emílio ouviu sua voz pela primeira vez enquanto perscrutava as roliças coxas que iam de lá pra cá em direção ignorada, aceleradas como o canto da graúna na véspera da catástrofe para alcançar uma necessidade além da compreensão, acusada, no entanto, pela natural vontade de sentir, ainda que sem saber o que.
O tom era auspicioso e moderno, acalentado por uma espécie de tradição romântica que já havia chegado ao fim de um movimento sustentado pela ilusão mais humana.
Num esforço intestino, Emílio logrou êxito com sua proprietária, ao levar paroxísmos de elogios como se um livro romanesco de galanteios estivesse lendo em seu discurso. Como o herói anônimo nas linhas ainda na aurora do imenso gênio russo.
Seus dois filhos haviam fenecido à tísica antes da primeira estação. O pai e a mãe num esforço digno de Héracles para superar, caíram no fracasso. A bebida, aliada da dor e ao mesmo tempo sua serva abjeta esteve presente em todas as entrevistas de suas existências miseráveis, a partir de tão horrivel acidente do destino.
As mãos estavam dadas, dedos, todos, entrelaçados em comunhão celestial, alegaram.
Na sarjeta mais fétida, Emílio e seu grande e inefável amor derretiam-se na triste imagem de um história que negou a indústria dos vaticínios que nascem da esperança, mas findam apodrecendo na experiência .
A gazeta em sua nota de rodapé, limitou-se: lástima.
A vida era uma puta que não cobrava pela trepada, mas exigia respeito pela iniciativa.