Paixão: Confesso Que Vivi
Lá pelo meio da década de 1970 existia um programa de estágio para menores estudantes em algumas empresas e órgãos públicos.
A disputa era grande e eu tive a sorte de conseguir uma vaga.
Estava todo entusiasmado, ia começar a trabalhar, ter meu dinheirinho e os funcionários públicos naquela época tinham status. Pertenciam ao melhor nível social de uma cidade, principalmente as do interior como a minha.
Lá fui eu me sentindo muito importante.
Cheguei e fui encaminhado para o setor onde iria trabalhar.
Na época tinham chegado as primeiras funcionárias na agência da cidade.
Antes, ali só trabalhavam homens.
Fui recebido por uma dessas funcionárias. Era linda, um corpão que chamava atenção de todos, um sorriso do tamanho do mundo. Era uma mulher centrada e inteligente, mas também alegre e desinibida. Conversava e brincava com todos. Eu me encantei à primeira vista. O batom vermelho na boca acentuava ainda mais os maravilhosos lábios.
Eu era um meninote de quase quinze anos, ela tinha os seus trinta.
Era uma mulher maravilhosa e eu não entendia como era solteira e sozinha. Será que nenhum homem jamais enxergou aquele monumento?
Ela percebeu que eu ficava babando e sorria quando eu olhava com admiração.
Aos poucos eu fui me aproximando dela. Conversávamos, embora eu nem soubesse o que conversar com uma mulher como ela. Ciente disso, ela falava banalidades comigo.
Embora eu tivesse certeza que ela jamais me daria trela, comecei me sentir apaixonado.
Eu não pensava em mais nada, ficava ansioso pra chegar a hora de estar perto dela.
Nos finais de semana eu ficava perdido e morrendo de saudade. Sabia que era uma loucura, mas era mais forte que eu.
Ela percebia o que ocorria comigo e alimentava meus sentimentos. Ficava me provocando discretamente. E eu louco de paixão. Sonhava com ela acordado e dormindo.
Passava dias e noites sonhando com ela. O tempo passava e começamos a nos envolver.
Ela, que não era da cidade, morava sozinha em uma pequena casa.
À medida que a temperatura entre nós foi subindo, não dava mais pra segurar a vontade.
Numa sexta-feira saímos juntos da repartição, fomos caminhando até à casa dela.
Ela me chamou pra entrar e eu não me fiz de rogado.
Eu estava tenso pois apesar de ter quase dezessete anos ainda não tinha nenhuma experiência. Naquela época era comum os rapazes se iniciarem bem jovens com as prostitutas do lugar.
Nós ficamos conversando, mas a vontade era de se enroscar. Aos poucos ela foi me provocando e perguntou se eu tinha experiência. Eu menti dizendo que sim.
Quando nos enroscamos ela soube que eu não sabia nada de nada e sorriu:
-Meu menino! Você quer perder a sua virgindade comigo?
Eu sussurrei:
-É tudo que eu quero.
E foi a coisa mais maravilhosa que aconteceu em toda a minha vida.
Ela era uma mulher fantástica, com quem eu aprendi todas as manhas do amor, do prazer, da lascívia.
Vivíamos um romance em segredo por causa do cargo dela e do meu estágio.
Era um intenso caso de amor, paixão e desejo que eu queria mais que tudo na vida.
Quando meu estágio já estava quase terminando, consegui passar no concurso e permanecer trabalhando na mesma agência, agora como funcionário. Como eu já tinha dezoito anos não fazíamos mais questão de esconder nosso relacionamento. Aos poucos todos souberam do que na realidade já sabiam, mas fingiam desconhecer.
Quatro anos depois ela foi transferida para uma outra cidade para assumir um cargo.
Quando soube, eu faltei morrer de tristeza. Decidi que ia com ela, mas ela se recusou:
-Já passa da hora de terminarmos esse romance que você sabe muito bem, nem devia ter começado.
-Por que não devia?
-Oh! Meu menino! Nós não podemos ficar juntos. Quinze anos nos separam. Pra você eu sou uma velha.
-Pra mim você é uma mulher, a mulher que eu amo.
Ela sorriu:
-Siga sua vida, Adriano. Você vai encontrar uma garota, se apaixonar, casar, ter sua família. Comigo você não terá nada disso.
-Por que não?
-Eu não quero me casar, não quero compromisso e nem essa coisa de família com papai, mamãe e filhinhos. Eu sou uma mulher livre, independente e gosto de ser assim.
-Eu nunca disse que quero uma vida assim. Vamos ficar juntos enquanto der.
-Não. Não quero ser acusada de desviar do bom caminho um rapazinho de família.
-Eu não sou um rapazinho, sou um homem.
Ela riu:
-Pra mim você sempre vai ser aquele rapazinho assustado diante de uma mulher, mentindo que era experiente sem nunca ter experimentado o sexo. Aquele menino que eu tomei nos braços e fiz aprender tudo sobre a arte do amor.
-Eu te amo, Cíntia!
-Você vai me esquecer mais rápido do que imagina. Você ainda vai conhecer um amor que vai preencher a sua vida.
-Deixa eu ir com você.
-Não tem a mínima possibilidade. Você, menino, foi um sonho bom em minha vida. Este tempo que estivemos juntos foi maravilhoso. Mas está na hora de acabar.
Eu chorei. Ela secou minhas lágrimas com seus beijos e naquela noite de despedida nós nos amamos com tanta paixão e entrega que eu nem me lembrava que no dia seguinte ela já estaria longe e eu ali perdido de paixão, saudade e tristeza.
Ela não queria mais saber de mim, seguiu sua vida.
Eu tentava seguir a minha, mas só sentia tristeza em minha alma.
Por alguns anos eu não quis saber de mais ninguém.
Ela estava fazendo sua carreira, galgando cargos mais altos
Depois de um longo tempo conheci uma garota. Começamos a namorar, tempos depois nos casamos e eu segui minha vida. Sou feliz em meu casamento, como ela dizia, formando uma família com papai, mamãe e três filhinhos, dois meninos e uma menina.
A minha história com Cíntia ficou no passado como uma bela história de amor que acabou. Passou e só deixou boas lembranças que ficam arquivadas lá no fundo da alma e vez por outra voltam à mente e me faz rir sozinho…