E ele criou coragem e... ?

Álvaro não imaginava a surpresa que iria ter ao chegar ao seu trabalho naquela manhã de segunda-feira. Ah as maldita segundas- feiras! Pensava ele, no seu trabalho de auxiliar de estoque, de uma loja da Voluntários da Pátria. É sempre a mesma coisa: a semana começa, naquela correria, arrumar o estoque, controlar saída e entrada de mercadorias, reclamações do gerente etc.

Era um saco! Ver aquela multidão de pessoas andando nas ruas, esbarrando-se umas nas outras, batendo-se, as vezes xingando-se, outras sendo importunadas ou roubadas por algum ladrãozinho do centro. Nunca mudava, todas as segundas começavam do mesmo jeito, pensava Álvaro que já estava acostumado com aquela monotonia de sempre.

Porém , nessa segunda- feira, ele teve uma surpresa, e foi bem na primeira hora da manhã. Vinha o gerente da loja chamado Cláudio acompanhado de uma menina,uma moça aparentemente de uns 17 ou 18 anos,a qual, ele ia mostrando a loja .Álvaro que estava com umas peças de roupas nas mãos fez pouco caso, somente deu uma olhada de rabo – de - canto – de - olho pra ela, pondo as peças nos cabides da loja.

De repente, quando Álvaro estava de costa pra frente da loja, os dois aproximaram-se dele, que surpreso voltou-se pra atendê-los.

- Bom dia seu Álvaro, tenho novidade pra você, essa é a Michele sua nova colega de estoque, peço-te que mostre-a tudo e ajude-a no que for preciso, ensine-a, assim como te ensinaram.

- Sim senhor! E ele meio nervoso foi logo pro estoque apresentá-la aos demais funcionários. Por aquela ele não esperava, uma nova colega! Ainda por cima uma moça pra trabalhar no estoque, que diga-se de passagem precisava de uma mãozinha feminina em meio aquela bagunça. Quando Álvaro e Michele chegaram no deposito da loja, Michele abriu a boca de pavor com tamanha desordem e quantidade de roupas fora do lugar. Álvaro dera um sorriso e foi logo apresentando o local pra ela.

- Não se assuste a gente sempre começa a semana assim, mas lá pela quarta-feira já dá uma melhorada no aspecto.

- Assim espero. Replicou Michele, que aparentava ser uma menina organizada e séria, pois apavorara-se com a desorganização do depósito.

E assim, os dois começaram a trabalhar no estoque. Primeiro, Álvaro foi mostrando-lhe o lugar onde ficavam o armário dos funcionários, depois o refeitório, e por último apresentando as prateleiras com suas respectivas etiquetas: de calças, moletons, camisas, vestidos etc. Tudo, mas tudo relativo ao estoque foi passado à Michele que ouvia atentamente, com um olhar de perito. Os dois levaram algumas horas pra organizar as prateleiras, pondo as roupas no seus respectivos lugares. Michele ia bem quando, por acidente caiu sobre ela, uma montanha de roupa da prateleira, a qual estava abarrotada de roupas mal guardadas. Álvaro prontamente, foi socorrê-la, pois ela estava esmagada por tantas peças. Rapidamente, Álvaro pegou naquela mãozinha que estendia-se da montanha, ele sentiu aqueles leves e delicados dedos tocar o seu. Ficou um pouco segurando, depois puxou-a para levantá-la.

- Ufa obrigada, quase morri!

- É você tem que tomar mais cuidado, as vezes as prateleiras estão frouxas e podem cair sobre a gente. Tudo bem com você? Não se machucou?

- Não, não, eu to legal. Vamos continuar?

- Vamos! E terminaram de arrumar o estoque antes do almoço. Na verdade tiveram pouco trabalho na manhã, mas a tarde iria ser longa.

Terminado o almoço, veio a hora do intervalo. Todos os funcionários estavam no refeitório, exceto a Michele que fora comer no seu primeiro dia num restaurante na rua, pois não havia trazido comida. Em meio ao intervalo, os funcionários comentavam sobre a nova colega; como era educada, atenciosa e organizada, diziam as vendedoras. Vocês viram essa menina é linda hein! Comentavam os rapazes da segurança da loja, junto com os outros meninos. O Álvaro tirou a sorte grande, está de responsável por ensinar tudo pra ela, que privilégio! Álvaro somente ouvia sem dar muitos ouvidos aos comentários, mas dentro de si começava a sentir um certo prazer em ouvir aquelas lisonjas. Em meio as garfadas em seu bife acebolado, venho a cena da manhã, quando ele pegou-a pela mão, sentira aquela mãozinha delicada nas suas e aquele cabelo moreno todo despenteado depois de ser soterrada por aquela avalanche de roupa. Foi uma cena engraçada e única pra ele, ganhara a manhã, pensava consigo.

O intervalo acabara e viera o turno da tarde. E a tarde passou voando, devido a correria do abastecimento da loja, que estava sendo constantemente suprido, devido a enorme saída de produtos, pois o povo estava comprando a beça. Aquelas horas pareciam minutos, os funcionários nem sentiram as horas passarem e já estava na hora de fechar a loja. -Que segunda-feira boa, conjeturava Álvaro pra Michele, que já estava de saída para pegar seu ônibus no terminal.

Como a segunda-feira, fora a terça-feira, a quarta-feira, a quinta-feira até que chegara a sexta-feira. E os dois já estavam extenuados de tanto trabalho, o bom, pensava Álvaro era que com a agilidade de Michele as coisas andaram no estoque, pois os outros estagiários não aguentaram a carga de trabalho imposta, não durando uma semana de teste. Mas a Michele, essa sim era osso duro de roer, pegava no batente sem reclamar!

- E aí Michele que achou da semana?

- Puxa corrido trabalhei como uma louca, estou exausta, com as pernas bambas, mas estou feliz, acho que estou me saindo muito bem, não?

- É sim , você está indo muito bem, continue assim, que vai longe.

- Pode deixar, não vou te desapontar chefe!

Aquela sexta-feira fora a mais rápida que teve para Álvaro, pois não parava o abastecimento da loja, e os dois mal puderam comer devido o entra e sai de clientes, tiveram que revezar o almoço para o estoque não parar. Mas no fim da tarde venho à recompensa. O gerente Cláudio parabenizara toda a equipe da loja, pelo recorde de vendas que tiveram naquela sexta-feira. Como recompensa ele deu folga para o pessoal no sábado, era ordem do chefe da loja. Isso fora recebido com festa entre o pessoal, que já estavam extenuados de tanta correria. Álvaro e Michele ficaram muitos felizes, até abraçaram-se pelo prêmio recebido, deram tão duro que ganharam essa merecida gratificação.

Na noite de sexta- feira, lá por umas 21:00 horas da noite, depois que Álvaro tinha ido para casa tomar um banho, resolvera dar um role no centro da cidade pra ver uns shows, beber, e quem sabe encontrar alguém para dar uns lances. Álvaro era do tipo tímido, mas gostava de sair nas noites para relaxar. E ele foi para o centro em direção a um bar dançante na Praça XV onde tocava música até de manhã. Passou pela revista, pagou a entrada e se sentou numa mesa para beber um pouco. De começo pediu uma Skol, depois outra, e outra. Bebeu os três latões sozinho na mesa enquanto via a mulherada entrar na casa noturna. Era muita gente, e a noite estava apenas começando. A noite ia ser longa. Chegada as 23:00 a casa já estava lotada de gente e o DJ pôs o som pro pessoal cair na pista. Começou com musica Charme, depois passou pro funk pancadão. Fora aí que a mulherada foi a loucura, requebrando até o chão. A pista estava pegando fogo, mas Álvaro estava de canto, sentado curtindo só na bebedeira, vendo elas e eles ali se divertindo, enquanto ele, bebendo que nem um condenado, sem ânimo pra levantar. De vez em quando vinha na mente, a imagem de Michele, aquele sorriso, aquela pele morena clara, aqueles cabelos negros e lisos, mas o que fazia ele delirar era os dedos dela, quase teve um extasia ao tocá-los. Tinha que admitir, dizia pra si mesmo, que tocar nela fora a coisa mais maravilhosa que lhe ocorrera na semana. Como poderia esquecer aquela cena? Iria carregar ela por muitos dias ainda, talvez, iria sonhar muitas vezes com a mesma cena, repetindo-a, e repetindo-a, não importa quantas vezes fosse preciso, ou melhor, quantas vezes lhe dessem prazer. Pensou em convidá-la pra sair, mas ele nunca houvera saído com alguém antes. Como faria pra convidá-la? E se ela dissesse não? Não melhor não arriscar, mais vale viver de fantasia, do que desgosto. Ademais, ela nunca sairia com cara como ele: cafona, sem assunto, sem presença, um simples auxiliar de estoque. E na certa, uma menina linda como ela deveria ter algum namorado. Quem sabe muitos pretendentes. Não adiantaria entrar na fila. Não ia ter nenhuma chance com ela pensava, segurando seu latão na mão. Triste e já meio bêbado acabara o latão em poucos segundos, porém não estava satisfeito e foi logo no balcão pedir algo mais forte, para tirar aqueles maus pensamentos que vinham como uma enxurrada em dias de chuva. Pra acabar com essas desilusões somente uma bebedeira, e pediu uma garrafa de Natasha pra mandar de vez a tristeza embora. Pegou-a e sentou-se novamente na mesa. A essa altura a pista estava ardendo, fazia um calor dentro da casa, faltava oxigênio, era difícil de respirar de tão lotado que estava o lugar. Mas isso não importava para Álvaro que só estava observando se havia alguém interessante na pista. Por ironia do destino, Álvaro após abrir a garrafa de vodca, avistou uma moça de costas que dançava de uma maneira atrevida, junto com duas amigas que acompanhavam-na nos movimentos. Essa moça vestia um lindo vestido branco, apertado é claro, quase transparente, deixava transparecer a calcinha preta de renda. Aquilo chamou logo a atenção de Álvaro, que por não acreditar esfregava o olhos para ver se não estava vendo miragem. Aquele cabelo negro não lhe era estranho. Não podia ser, estava bêbado, já estava vendo coisas. Daqui a pouco um cara chegou nela, sussurrando-lhe algo em seu ouvido, depois agarrou-a pela cintura arrastando-a pra pista junto de si. Os dois começaram a se esfregar, ela na frente e ele atrás, ele esfregando-se nela, e ela sorrindo e balançando numa dança sensual. Ao olhar isso, Álvaro começou a beber aos goles a garrafa de vodca. Não suportava ver aquela cena. O mais estranho era que ele não tinha visto o rosto dela por causa dos cabelos que já tomavam a frente do seu rosto. Tinhas uns lábios pintados, e cabelo familiar.

Quando a música fizera uma pausa, ela foi sentar-se numa mesa praticamente de frente à sua, que já estava quase caindo de porre. O inesperado foi quando ela deu-lhe uma mirada, e fez um sinal de oi em direção sua, que com a vista meio embaçada, fixou bem no rosto e não acreditara, não era possível. Era a Michele que estava dançando com aquele cara. Sabia, aqueles cabelos não eram-lhe estranho. Deu um gole a mais em sua Natasha e retribuiu-a com um aceno de mão. Ela dera um sorriso, e voltou pra conversar com as suas amigas, como se ele fora nada mais que um simples conhecido. Aquilo revoltou-o. Ela só me aceno com a mão, por que não me convidou pra sentar com ela? Talvez ela esteja esperando que eu tome uma atitude, ou está fazendo jeitinho, não quer dar o braço a torcer. Que indecisão! Morria de vontade por tocar nela mais uma vez, nem que seja pela última vez. Ela parecia fácil, dançara com aquele cara na pista. Mas ele já estava em outra aos beijos. Então Michele está disponível, conjecturava consigo. Quê fazer? Na próxima chamaria ela pra dançar, mas ele mal sabia dançar, e já estava cambaleando. Mas e daí se não sabia dançar? O importante era o momento, decidiu não deixar passar. Quando ele foi levantar-se para ir em direção a mesa dela, um negão aproximou-se dela, tomou-a pela mão sentou-se à sua mesa. Que merda! – Dizia Álvaro pra si mesmo, que a essa altura já estava com a cabeça nas nuvens. A Fila andou e ele não entrou. Nem notara e a garrafa de vodca já estava vazia somente tirava ar de dentro. Com o fim da vodca, começara a vir uma grande queimação no estomago, junto com uma vontade de vomitar. Mas pior era ver aquele negão conversando com ela, acariciando seu queixo, pegando em sua mão e sussurrando no seu ouvido como o outro. Aquilo começou a deixar-lhe com uma revolta que se misturava, com dores e queimação de estomago e suor na testa. A estas alturas já sentia seu corpo queimar. O negão após uma longa conversa, deixou-a só se despedindo com um beijo no rosto. Foi o sinal verde para Álvaro, que tomara a decisão de se dirigir para a mesa da Michele.

Criou coragem, mas as dores foram intensificando-se, seus passos começaram a ficar devagar, suas pernas pesadas, e sua visão estava tão embaçada que ele esbarrava em todo mundo que lhe dava de frente, uns empurrava-o, outros desviavam-se dele. Mal podia dar um passo, parecia que a mesa da Michele estava a quilômetros de distância, pois nunca chegava à mesa, sempre, sempre tinha alguém na frente. Somava-se a isso a música que tinha aumentado de volume, dava um tormento a mais em sua cabeça. A Michele que estava conversando com as amigas, mudou a direção do olhar para Álvaro que vinha ao seu encontro. Ela franziu um pouco a testa, disfarçou. Depois cochichou no ouvido de uma das amigas que estava sentada ao seu lado. Enquanto ele vinha, cambaleando, como os pinguços da rua, que bebem até cair, sem rumo, sem saber pra onde vão, onde vão parar.

Quando chegou, primeiramente, tentou recompôs-se, pois estava com um mal estar daqueles, suando como se estivesse numa, sauna. Ficou quieto uns instantes, depois falou um pouco baixo, mas a Michele fez um sinal de que não estava ouvindo, daí Álvaro de repente começou a piorar, as amigas de Michele começaram a assustar-se até que a Michele resolvera manifestar-se:

- Oi Álvaro, o quê você tem? Bebeu demais. Por que não se senta?

- É que tenho uma coisa pra te dizer. Não queria te incomodar, se que está com tuas amigas e tal...

- Sem problema pode, falar. E ela levantou-se, aproximando-se dele. Aquela aproximação fora pra ele de matar, sentira aquele perfume forte adentrar em suas narinas, e a mãozinha dela tocar-lhe carinhosamente. Finalmente sentira de novo sua pele tocar na dele. Mas o perfume causara um efeito colateral em Álvaro que já estava a ponto de cair aos pés de Michele.

- Desculpe, eu queria te falar uma coisa, o melhor te pedir.

- Pode pedir Álvaro sou todas ouvidos.

- É difícil, to meio confuso pra dizer.

- Mas diga.

- Você me dá um papel higiênico se tiver na sua bolsa? É que estou com uma enorme dor de barriga e vontade de vomitar.

- Nossa tenho sim. Michele foi correndo pegar um pequeno rolo que tinha na bolsa dela e deu-a a Álvaro que agradeceu-a, saindo correndo em direção ao banheiro masculino. A Michele e suas amigas caíram na risada, choravam de tanto rir. Enquanto ele tinha uma enorme diarreia por causa da bebida. Sentado no vaso passou a ter alucinações com o papel higiênico. Cheirava o rolo, sentia o cheiro dele e da Michele , um perfume penetrante, que fazia-o delirar daquela maneira. Um cheiro tão forte que abafava o fedor da bosta. A noite passou, o dia amanheceu e Álvaro adormecera ali, sentado no vaso, acordado somente pelo segurança da casa. Pensara que fora um sonho, mas não, como prova tinha um enorme fiou de cabelo preto no seu ombro.

Cheval Du Napoléon
Enviado por Cheval Du Napoléon em 24/07/2023
Código do texto: T7844827
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