Empatia
Em uma terra miserável a jovem Marta olhava pela janela de seu quarto curto o pai tentar em vão cavucar a terra seca para plantar alguma coisa. Um caminhão chegou. O motorista era um homem alto, forte e sem camisa. Ela prestava atenção aos movimentos do rapaz enquanto ele esvaziava a boleia carregando os sacos com sementes. Ajeitou o vestido e o cabelo. Saiu daquele quarto e foi ao encontro do pai.
– Tarde.
– Tarde.
– Painho precisa de alguma ajuda?
– Precisar preciso, mas faz tempo que peço e não vem. Agora vai dar uma de boa moça...
Ela abaixou a cabeça envergonhada.
– Mas agora a moça tá se oferecendo, não é verdade? Então é porque quer ajudar. Como se chama, moça?
– Marta.
– Eu sou Pedro, seu criado.
Ele estendeu a mão, que ela apertou com vontade, embora estivesse com a cabeça baixa e o rosto vermelho. Levantou levemente os olhos para ver o peitoral do rapaz.
– Arre, vai lá buscá água na cisterna, menina.
– Sim painho.
Marta saiu, mas não sem antes virar a cabeça para espiar o belo físico de Pedro.
Ele voltou outras vezes, para trazer adubo e novas sementes. Os dois conversaram um pouco mais nessas vezes e em uma delas a menina passou um papel pelas mãos dele marcando um encontro. Passaram a se encontrar todos os dias. A princípio no mesmo local. Com o tempo ela começou a frequentar a casa do rapaz e conheceu sua família. Aqueles encontros, que eles acreditavam serem secretos, duraram quase dois anos.
Certo dia Pedro chegava com seu caminhão quando viu uma briga entre pai e filha. A menina havia respondido e o pai corria atrás dela com o cinto em mãos. Marta caiu no chão e o pai conseguiu alcançá-la. Pedro desceu correndo do caminhão e se postou em frente à jovem, que agarrou sua perna.
– O senhor não encosta um dedo nela.
– Quem é ocê pra dizer como devo educá essa moleca?
– Pra bate nela o senhor vai te de bate em mim primeiro.
O homem jogou o cinto no chão. Marta levantou com a ajuda do rapaz, mas ainda permaneceu abraçada as costas dele se escondendo do pai.
– Desde que a mãe dessa aí morreu que eu tenho de sustentá ela. Uma fracote, que não me ajuda em nada. Só dá despesa e ainda se acha no direito de levantar o nariz pra mim. Menina desaforada. Queria ver se ocê aguentava essa daí, um dia siqué... Defende ela porque não conhece.
– Conheço sim. E ela é uma boa moça e prendada também. Só não gosta de sê mandada. E tem mais, se ela incomoda tanto o senhor eu levo ela embora comigo.
Os olhos de Marta brilharam.
O pai virou para a filha e disse:
– É isso que ocê quer?
– É sim painho...
– Arre...Pois saiba que se sair daqui não tem mais volta. Não vou mais te dar guarida.
Ela balançou a cabeça em afirmativa e foi arrumar suas coisas. Foi embora no caminhão com Pedro e só voltou à casa do pai para visitar.