Entre Acordes E Sussurros
Será possível resistir a uma paixão ou quando ela cega não há remédio?
A atração é incontrolável ou é possível evitar a entrega total?
Os desejos e os prazeres da carne são fatais, alucinantes e irresistíveis?
Caminhavam na noite vazia.
Silêncio.
A cidade dormia calmamente.
Apenas se ouvia os sons dos habitantes da escuridão da noite.
Abraçados, era como se nada mais existisse além deles.
Mais uma vez, depois de caminharem e conversarem muito, ela não foi capaz de dizer adeus e mais uma vez abriu mão de seu sonho de se tornar uma pianista conhecida.
Voltavam para casa e ela sabia que mais uma vez ele a tomaria nos braços e se amariam como na primeira vez e ela se sentiria a mais feliz das mulheres.
Ele sempre a convencia a ficar. E ela não sabia se realmente valia a pena ir realizar seu sonho e morrer de saudade daquele que pra ela sempre seria o menino, o rapazinho que conheceu um dia.
Lisandra dizia que já nasceu cantando e ouvindo música. A música pra ela era como o ar que respirava.
Começou a tocar piano aos nove anos. Aprendia com uma facilidade incrível. Aos quinze anos já tocava vários instrumentos e compunha canções.
Escolheu fazer universidade de música.
Criou uma escola onde ensinava canto e a tocar instrumentos, sobretudo o piano.
Aos trinta e um anos, morava sozinha e na mesma casa montou sua escola.
Teve alguns namorados, até foi feliz, mas dizia que não havia conhecido aquele que tocou seu coração se uma maneira que a levasse a trocar sua solidão por uma vida a dois.
Um dia chegou em sua escola um novo aluno, Felipe. Ele tinha dezesseis anos, era tímido, meio atrapalhado, muito inteligente e amante da música tanto quanto ela.
Lisandra olhou para ele e sorriu. Recebeu seu novo aluno de braços abertos e, como sempre, faria tudo para que ele se saísse bem e aprendesse a tocar piano divinamente.
Ele olhou para ela e sorriu admirado. Pensou que sua professora fosse uma mulher mais velha. No entanto se deparou com uma linda jovem que aparentava ter pouco mais de vinte anos.
Uma magia se espalhava no ar e os arrebatava.
E começaram a aula.
Duas vezes por semana ele chegava para sua aula. E semana após semana ele se sentia encantando com as aulas e com a professora.
Aula após aula eles se sentiam mais constrangidos com os sentimentos inconfessáveis que nutriam um pelo outro.
Até que em uma aula eles estavam muito próximos e foi impossível conter um beijo.
Meses de atração e desejos contidos foram extravasados. Ali mesmo na sala de aula eles transaram num frenesi de vontades. Ele ainda inexperiente, ela se sentindo culpada.
Ele foi embora e o arrependimento bateu. Ela queria sumir, queria que ele nem voltasse mais, mas só pensava em seu menino e naquela paixão que nunca sentira antes.
Felipe voltou. Lisandra mal conseguia olhar pra ele. Ele tímido evitava olhar pra ela.
E eles não conseguiam se concentrar na aula.
E acabaram se enroscando numa sinfonia de suspiros e gemidos. Num embalo de desejos e prazer.
Na próxima aula ela disse que não podia continuar lhe ensinando a tocar. Que ia indicar uma outra escola pra ele continuar seus estudos.
Mas ele a tomou nos braços como se fosse um homem experiente e ela se derreteu toda.
Entre músicas, sinfonias, acordes, murmúrios, sussurros e gemidos eles foram levando.
Cada vez mais apaixonados eles nem se lembravam que ele era um adolescente e ela uma mulher feita, que ele era o aluno e ela a professora, que aquela paixão louca estava totalmente fora do contexto.
O que importava tudo isso se nos braços um do outro eles encontravam todo o sentido da vida, todo o prazer que um homem e uma mulher podem sentir.
Juntos eles ouviam a mais linda sinfonia que se pode compor, a sinfonia da vida, do prazer, da paixão.
O tempo passou e Felipe aprendeu a tocar piano divinamente e aprendeu a satisfazer cada vez mais a sua companheira e a se satisfazer plenamente nos braços dela.
Ele crescia como homem e como amante.
Concluiu seus estudos e foi trabalhar.
Continuava a se aperfeiçoar no piano e no amor.
Ele quis assumir aquele romance e se casar com ela. Lisandra se recusou. Não queria se prender a ninguém pois sonhava ser uma pianista famosa. Mas cada vez que surgia uma oportunidade ele a convencia, com beijos carinhos e amor, a desistir.
Viviam seu amor abertamente e sem nenhum pudor. Sem compromissos e cobranças. Apenas se dando por querer e por prazer.
Lisandra continuava com sua escola e vivendo seu romance tão improvável, mas que a fazia feliz como nenhum outro romance certinho e convencional foi capaz de fazer.
Felipe não ligava para o que diziam de seu relacionamento. Sempre respondia que idade é coisa secundária e sem importância, que o que importa mesmo é o amor e o prazer que vive com sua pianista.