O criador de vaga-lumes e o colecionador de folhas
O criador de vaga-lumes e o colecionador de folhas
Essa história vai muito além do que vocês podem imaginar, pois se trata do resgate de um pequeno vaga-lume que lutava heroicamente para manter sua luz da vida brilhando.
Eu passo o tempo me questionando quanto aos poderes e efeitos que uma história pode causar a uma pessoa dependente de ajuda. É nesses momentos que a história realmente cria vida e penetra com um poder quase medicinal para o corpo se tornando um poderoso antídoto fortalecedor da alma, logo a autoestima ressurge fortalecida e presente na face. À medida que a imaginação do pequeno vaga-lume passa a brilhar novamente a vida em seus olhos também cria brilho.
O quarto do hospital, o silêncio, as máquinas, a imobilidade, o medo, a solidão, a tristeza, o labirinto, o vazio, o quase fim na falta de forças para reagir. Realmente a história é poderosa, pois levou o criador de vaga-lumes exatamente para aquele quarto.
Vagarosamente a porta abriu e entrou dois caras vestidos de palhaços dizendo:
- Hoje é o seu dia de sorte! Pois você ganhou a visita da história.
A recepção foi apenas um pequeno olhar de alguém que estava incapaz de responder uma só palavra. Um olhar que mais parecia um pedido de socorro agarrando e abraçando em busca de conforto.
- Eu sou o criador de vaga-lumes e ele é um vaga-lume! Você quer ser um vaga-lume também?
Aquele olhar já parecia bem mais confortado. O criador de vaga-lumes olhou para o menininho e falou:
- Assim não vale! Só você pode ficar careca! Eu quero ficar careca também!
Percebendo que o menininho deu um pequeno sorriso, o criador de vaga-lumes chegou pertinho dele e perguntou:
- Você quer brincar na história comigo?
A cada palavra o olhar do menininho parecia bem mais próximo. Parecia querer viver.
- O nome da história vai ser: “O criador de vaga-lumes e o colecionador de folhas” assim quando você estiver forte e pegar as folhas na mão, verá que elas são lindas e especiais. Imagine a folha de um abacateiro, de uma goiabeira, do sapé, da roseira, são todas diferentes e dão uma vontade louca de tocá-las de tão lindas. Na história você vai ser o colecionador de folhas!
Tanta proximidade transformou aquele olhar em mais um amigo.
“O criador de vaga-lumes e o colecionador de folhas”
A imaginação poderosa abraçou aquele garoto e lançou os dois juntos num conto sem limites, tão distante que as barreiras do corpo seriam incapazes de penetrar.
Os dois garotos entraram correndo na casa da vovó, eles estavam fugindo do galo Galinzé que corria atrás deles com as penas arrepiadas.
O galo Galinzé é muito bravo e não aceita que ninguém entre no quintal sem a vovó por perto.
Tente imaginar um galo bem bonito! O Galinzé é o galo mais bonito de todos.
- Colecionador de folhas! Vamos jogar bola na rua? Mas temos que correr até o portão para o galo não nos pegar.
A vovó olhando pela janela falou:
- Cuidado com o Galinzé!
- Vou contar até três e a gente sai correndo!
- Um!...Dois!...Três!...Corre!
As pernas do garotinho até se movimentaram de tão intensamente penetrado que ele estava no conto.
Os dois meninos correram com toda sua velocidade, pareciam até estar apostando corrida com o galo, que quase voava tentando alcançá-los.
Numa situação desesperada de fuga atravessaram e fecharam o portão rapidamente bloqueando assim a passagem do galo, que ficou cacarejando de raiva com as penas arrepiadas num lamento por não ter alcançado os garotos.
Os meninos começaram a brincar e num chute mais forte a bola caiu no meio do quintal da vovó e logo foi atacada pelo galo galinzé, que descarregou toda sua raiva naquela intrusa.
O vento chacoalhava os enormes pés de eucaliptos lançando uma enormidade de folhas em formatos diferentes ao ar.
Enquanto o criador de vaga-lumes admirava a beleza daquelas árvores gigantescas, o colecionador de folhas corria para apanhá-las encantado com seus formatos e cores diferentes.
Algumas folhas planavam ao vento, enquanto outras rodopiavam feito bailarinas entregues à liberdade de dançar. Não resisti e corri atrás das folhas também. Eram tantas folhas voando de tantas formas, que tudo ali parecia estar transformado no mundo das folhas.
Foi naquele momento, que eu entendi realmente porque o colecionador amava tanto as folhas, pois além de belas, elas possuem um dom de transmitir a vida pintando as montanhas de verde, bailando ao vento quando estão felizes e enfeitando o chão num tapete lindo para encantar o olhar. Quando a chuva chega, ainda levam seus nutrientes para fortalecer a terra.
Enquanto uma chuva de folhas caia sobre nós, ainda demos uma última olhada para o quintal da vovó e vimos o galo Galinzé ao lado da bola. Bem no momento em que a porta abriu novamente e uma enfermeira entrou no quarto falando:
- Chegou a hora de tomar remédio! Seus olhos estão brilhando como luzes de um vaga-lume feliz. A história deve ter feito muito bem para você!
O criador de vaga-lumes falou:
- Chegou a hora de ir embora! Mas quando você quiser brincar um pouquinho é só pensar em mim que eu estarei aqui para brincar. Você promete ir me visitar quando melhorar?
O olhar do garotinho se transformou no olhar de um grande amigo com lugar certo no coração.
- Você prometeu! Agora vai ter que ir.
Os contadores de história saíram do quarto deixando um pouquinho deles no coração do menininho, transformando-o num pequeno vaga-lume, que com seu brilho voltou a ver a luz da vida.
Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes
Iluminando pensamentos
Vruummm….Zuummmm...