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FOTO: ROBIN WRIGHT

 

 

 

 

 

O ENCONTRO

 


Tinham jantado juntos pela terceira vez. Teria sido mais agradável se Tomás não estivesse sempre na defensiva. Juliana insistia, chegou a pegar-lhe na mão… Ele retraiu-se, esquivou-se ao contacto.
Depois, como já fosse um pouco tarde e aquela hora os transportes públicos não fossem frequentes, para mais estando a chover, ela ofereceu-se para o levar de carro até perto de casa.
Chegados ao local que ele tinha indicado ser a sua morada, ficaram em silêncio durante algum tempo. O frio e a humidade provocaram o rápido embaciamento dos vidros, do exterior mal se distinguiam os dois vultos.
Ela olhava-o de soslaio, ele de olhos fechados, a cabeça apoiada no encosto.
- Porque me evitas, Tomás? O que vês de mal em nos relacionarmos? É por eu ser mais velha que tu? Esse preconceito não deveria existir em pessoas da tua idade…
Tomás olhou-a e depois escondeu a cabeça entre as mãos. Após uma pausa, em voz baixa, retorquiu:
- Não é isso. Eu tive um mau relacionamento há algum tempo. Foi o meu primeiro amor… Senti mesmo amor, paixão por ela, mas de repente sumiu, perdi-lhe o rasto. O desgosto foi tão grande que jurei não mais me envolver com ninguém.
Juliana teve um assomo de carinho quase maternal e afagou-lhe o pescoço, o cabelo.
- Então achas que a vida para ti acabou? Olha… Eu já tive vários namorados, quase sempre pura desilusão… E sobrevivi, sabes? Não morri, fiquei mais forte - fez uma pausa. - Não sei o que vi em ti, apenas que quando nos despedimos o meu coração bate mais forte e pede-me para não te deixar ir… Tenho medo de te perder… Como amigo, sei lá? Talvez seja mais do que isso… Queres mesmo saber a verdade?
Ele olhou-a, meio curioso.
- Acho que te amo… - Disse ela em voz sumida. Os seus belos olhos ficaram rasos de água e desviou o olhar para o nevoeiro que se formara nos vidros…
Tomás fitou o vazio, ficaram assim durante algum tempo. Depois olhou-a, só então reparou que as lágrimas escorriam, abundantes, pelo belo rosto de Juliana.
Ele aproximou-se mais e beijou-lhe a face.
- Não quero que chores. Se choras é porque sentes algo por mim… Eu também sinto algo por ti. Não sei se é amor mas confesso sentir algo forte, que faz bater o coração mais rápido quando nos encontramos, quando me dás um beijo na face, quando nos despedimos.
Ela olhou-o, segurou-lhe o rosto entre as mãos e num impulso irresistível beijou-o suavemente. Depois fixou-o enlevada, com muito carinho. Beijaram-se de novo, longamente, com candura, esquecidos do tempo.
Juliana suspirou, limpou os olhos e depois encostou o rosto ao peito dele, apertando ao mesmo tempo a mão de Tomás na sua. Perguntou-lhe:
- Queres ir ficar hoje comigo? Ai, meu Deus, como te quero… És o homem que mais desejei em toda a minha vida e acabo de te dar os dois primeiros beijos de sempre…
- Sim, quero - disse Tomás. E beijou-lhe a mão.
Juliana ligou o ar condicionado e os vidros desembaciaram rapidamente. Pôs o carro em movimento e sem largar a mão dele, com um sorriso de felicidade estampado no rosto, dirigiu-se a casa. Talvez dessa vez tivesse acertado…

 

 

 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 10/06/2023
Reeditado em 16/06/2023
Código do texto: T7810292
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