Décima noturna (microconto).
Lá embaixo, depois das colinas, soavam cânticos suaves e festivos, próprios do tempo. Um frio que poderia matar qualquer desamparado... e eu no alto da planície, no meio da floresta tomada de neve, observando, do mirante, o vilarejo acendido e serenamente pulsante naquela noite de natal. Sentia a textura macia da roupa - calça preenchida de algodão, botas simples, rústicas, uma camisa interna, outra de lã e um casaco fino, dançante ao vento. Mesmo assim, esfregava as mãos e as levava ao rosto, para melhor aquecer. Tudo há razão. Podia estar lá, comendo ou na liturgia, em meio ao brilho da igreja, mas vim para cá, às escondidas. É que nesse dia todos esquecem de tudo. Estão tão ocupados em sua alegria, então dá para aproveitar esse momento de distração. Espero alguém, se quiser saber...
Pisando a neve, vem - os passos felinos.
Eu vejo seus olhos, se acende em mim luz celeste.
Alegria: estamos juntos.