A menina e o seu castelo de areia
Sofia morava em frente à praia, e todos os dias com um sorriso estampado no rosto corria na areia deixando suas pegadas encobertas pelas águas. Recolhia as conchinhas e as guardava dentro de uma caixinha de madeira, estava juntando para enfeitar o seu castelo de areia. Conversava sozinha, mas sempre muito feliz por estar perto do mar e poder brincar no que ela chamava de “seu quintal” . Sua mãe a observava da varanda enquanto lia o livro: “Os Reis Malditos” de Maurice Druon que seu primo lhe emprestara em sua última visita.
Sua filhinha criava seu mundinho na areia onde era feliz. Seu pai tinha um temperamento frio, distante, de poucas conversas. À noite dormiam cedo, uma vez que não havia muito que se conversar. Enquanto a mãe de Sofia se perdia nas histórias dos livros “viajando” em outras épocas, a menina sonhava com seu castelo.
Uma tarde que tinha tudo pra ser igual a todas as outras, a menina Sofia brincava na areia quando ao olhar para o lado, percebe que um homem a observava. À princípio ficou assustada, mas ao ver sua mãe na varanda ficou mais tranquila. Era um rapaz que de imediato a menina percebeu que era bem mais novo que o seu pai. Ele muito educadamente acenou para a sua mãe.
Logo atrás vem surgindo um senhor que parecia ser o seu pai e caminhou ao seu lado, também acenando para a mãe de Sofia. Carolina ficou mais aliviada, o rapaz estava acompanhado do Sr Afonso, dono da padaria perto da sua casa. Pensou que provavelmente ele seria o pai do rapaz que lhe acenou. Em uma de suas conversas com seu vizinho, ele havia comentado que seu filho morava na capital. Quando os dois começaram a caminhar se afastando, a mãe de Sofia ficou observando o rapaz. Ele como se estivesse pressentindo, olhou para trás e os olhares se encontraram, ao que ela rapidamente tentou disfarçar chamando a filha para entrar. Carolina, foi dormir neste dia sentindo algo que não conseguia explicar, mas foi dormir bem.
No dia seguinte Sofia chegou da escola, tomo seu banho, lanchou e com ansiedade correu para começar a criar o seu castelo, mas desta vez algo diferente aconteceu. Sua mãe apareceu na praia para observá-la de perto com um brilho no olhar que Sofia não via há muito tempo.
As duas sentaram pra conversar e a menina ficou admirada ao ver a mãe com um sorriso iluminado! Parecia feliz! A menina caminhou um pouco para recolher suas conchinhas enquanto sua mãe parecia estar ansiosa como se estivesse esperando por algo.
Dias depois o rapaz retorna, e ao vê-las sentadas na areia se aproxima e muito tímido as cumprimenta: ¬Boa tarde! Eu sou Arthur, filho do Afonso, muito prazer! Carolina embora um pouco desconcertada responde ao cumprimento com sua voz doce e quase imperceptível:
¬ Boa tarde Marcos! Sou Carolina, muito prazer! Sofia com um sorriso meigo fez o mesmo:
¬ Olá moço! Eu me chamo Sofia!
Não sabia o que estava acontecendo, mas a menina percebeu que a mãe parecia estar contente na presença daquele rapaz.
Carolina e Arthur começaram a conversar e nem sentiram a hora passar, foi uma conversa muito agradável. Ela estava admirada com a vida que ele levava na cidade grande e ele encantado com seu jeito meigo, simples, e sincero. Havia um brilho em seu olhar embora estivesse tímida por estar ao lado de Arthur, pois desde que se casou ela não mantinha amizade com ninguém do sexo masculino, nada além de cumprimentos diários com vizinhos, ou conhecidos. Ela estava se sentindo estranha, mas seu coração parecia bater mais forte, não por se tratar de um homem, mas sim porque se sentiu atraída pela maneira educada e gentil do rapaz. O jeito que ele olhava para ela, o modo como a tratava, com carinho, como se quisesse protegê-la.
Carolina queria que aquele momento fosse eterno...mas de repente se deu conta que já estava quase na hora do marido voltar do trabalho e teria que voltar pra sua realidade.
Ela se despediu de Arthur e caminhou em direção a sua casa.
Sofia percebeu que a mãe parecia estar muito contente, seu pai nada notou, pois na realidade não interessava notar mudança alguma em sua mulher. Seu coração endurecido por seus próprios sentimentos não deixava que a alegria pudesse fazer um milagre em sua vida ou tão pouco lhe interessava a felicidade de Carolina. Ela só brincava com a filha quando ele não estava em casa ou então no quarto da filha enquanto ele sozinho assistia televisão na sala.
A mãe de Sofia parecia ter duas personalidades; uma quando o marido não estava em casa, ela aproveitava pra ouvir música na sala, dançar muito, cantar, extravasando suas emoções, sempre alegre. Outra quando o marido estava presente, perto dele falava o necessário e os dois sempre mantinham uma certa distância. As duas tinham bondade no coração, alegria que surgia do nada. Carolina contava histórias pra Sofia como se estivesse lendo um livro de verdade, criava cenários, brincavam de cabaninha onde a história sempre se passava numa floresta encantada. Era difícil saber quantas crianças habitavam naquela casa, mas a pequena sentia-se muito feliz por sua mãe entrar em seu mundinho e lhe fazer companhia. Sua filha apesar de pequena sempre foi a sua amiga nos momentos difíceis, ouvia da sua mãe ao invés de reclamações, palavras de conforto: “Um dia isto tudo vai passar, e as coisas vão melhorar!”
Ela sempre quis dar a filha esperanças de dias melhores, as fases difíceis foram muitas, mas a sua preocupação era de aliviar o coração de sua menina pra que ela acreditasse que dias felizes chegariam.
O sonho e a fé sempre fizeram parte da vida de Carolina, eram as cores que davam vida ao cenário do seu dia a dia. Ao brincarem juntas, o mundo das duas se tornava um só e a rua servia de distração para encontrar em cada canto uma novidade para admirar, em cada rosto a sua frente um motivo pra sorrir. Carolina teve muito o que perdoar, mas a vida lhe mostrava como numa tela de cinema tudo que já havia enfrentado e ficado para trás. Mantinha sempre a cabeça erguida, mesmo que algumas vezes não conseguisse conter as lágrimas que desciam por sua face quando estava caminhando com a filha. Procurava segurar as emoções, mas ensinava pra Sofia que apesar de precisar ser forte, a fragilidade era uma maneira de estar mais perto de Deus, de ser mais humilde e mais humana. E assim levava a vida com fé e o sorriso iluminando sempre o seu rosto. Encontrava nas coisas mais simples leveza para a sua alma. Sua filhinha era a força que Deus colocou em sua vida para caminhar com o propósito de ser feliz.
À tarde como sempre fazia a menina foi recolher mais conchinhas e constatou que já possuía quantidades suficientes para fazer o seu castelo! Ficou radiante! Correu para a praia e começou a construí-lo, mas achou que precisaria da ajuda da sua mãe. Carolina depois de ler alguns capítulos do seu livro, se dirigiu à praia para ajudar a pequena Sofia.
Enfim o castelo ficou pronto! Cobriu com um saco plástico, prendeu com algumas pedras e ficou esperando a visita de Arthur. Ficou sabendo depois que ele foi embora. Seu pai disse que ele deixou um abraço para as duas, precisou voltar imediatamente para a sua casa para resolver alguns problemas, mas que na mesma semana retornaria. Ele ainda estava de férias no seu trabalho.
Sofia ficou triste, não menos que sua mãe! Mas não desistiu de mostrar o castelo assim que ele retornasse.
Uma semana se passou e o castelo ainda estava intacto! Esta praia estava sempre deserta, pois o seu acesso era difícil. Assim que Arthur voltou para casa do pai ele foi visitá-las. Chegando à praia algo lhe chamou a atenção! Havia um saco plástico cobrindo algo que o deixou curioso, mas por intuição resolveu não mexer. Foi bater na casa de Carolina, ela abriu a porta e com um sorriso o cumprimentou:
¬ Olá Arthur! Tudo bem? E a seguir chamou a menina:
¬ Sofia, venha ver quem está aqui!
Ela veio apressada e disse:
¬ Oi Arthur! Que legal, você voltou!
Os três foram para a praia. Sofia muito entusiasmada disse:
¬ Arthur, tenho uma surpresa pra você! E retirou o plástico. O rapaz comentou: ¬ Que lindo Sofia! Parabéns! E perguntou:
¬ Você vai morar neste castelo? E a menina sorrindo respondeu:
¬ Vou morar com a minha mãe e você!
Sua mãe muito sem graça, disse:
¬ O que é isso minha filha, da onde você tirou isto?
O rapaz que ficou calado por alguns segundos, respondeu no lugar da menina:
¬ Ela está certa! Nós vamos morar neste castelo! E sorrindo se aproximou de Carolina e a beijou na testa. Era amor à primeira vista! Ela ficou emocionada, compreendeu nesses poucos segundos que a sua vida estava prestes a mudar...
(Autoria: Katia Naegelle)