Lena a garota do cinema
(Contos/Romance)
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Pessoas criadas com os avós tem os seus mimos, criadas com os tios, também tem. Porém, a diferença é gritante de um para o outro, não que seja para o lado ruim, não é isso. Enquanto os avós são ternos e doces os tios e tias parecem que chegaram atrasados no mundo e querem pôr tudo em dias e bem rápido, tudo por que, a maioria dos tios, em particular, fazem de seus sobrinhos acolhidos uma espécie de cobaia de suas aventuras, com novas ideias, até empolgações e querem fazer deles heróis, talvez pra mostrar pros demais da família a sua versatilidade em saber cuidar dos seus e dos outros, também. – Bem, tô falando isso pra chamar pro assunto um rapazinho por nome de “Raimundo”, primeiríssimo a fazer uma grande raiva, que depois se tornou numa grande .... bem você vai ler.... para essa figurinha aí do título, que vocês vão conhecer.
— Há um bom tempo atrás, aqui por essas bandas, no interior do Estado, os cinemas, eram a melhor diversão para a garotada, era por ali, que muitos iniciavam a sua vida amorosa. Esse Raimundo mais conhecido por “Dinho” era um “empolgado” e queria mostrar a todo custo para o Tio que já nasceu macho e conquistador, entretanto, tinha mais saliva que atitudes; sempre que ficava a sós com uma garota tremia mais que vara verde no roçado e nada acontecia, mas chegava em casa dizendo p’ro Tio que tinha pego uma gatinha linda, ta ta ta ta ta... o tio empolgado dizia: - mostra para o teu primo como é que faz. E haja elogios para o rapaz. “esse que é o cara” ... puxou pro tio... coisa e tal.
Dinho parecia ser um sucesso. Porém, numa certa tarde de domingo, quando entrou no cinema as luzes já estavam apagadas e foi guiado até uma poltrona pelo lanterninha, sentou-se e notou que do seu lado havia uma garota, mas devido a escuridão, não deu pra ver a fisionomia da menina; sem muita conversa desceu a mão sobre a dela, não viu resistência, foi avançando, passou o braço por sobre o ombro da moça e avançou o sinal, segundos depois já estavam se beijando e ele pensou: - Pô, é assim que funciona a coisa e eu perdendo tempo decorando poemas, e tome-lhe beijos na dengosa que nada dizia só aceitava os carinhos do rapaz. Ele adorando, tudo aquilo.
Os cinemas exibiam dois filmes, e havia um intervalo de um para o outro, acendiam-se as luzes e a garotada iam lanchar, um papinho por ali, tal e tal... pois bem; nessa hora Dinho arrumou os óculos e olhou para a garota e não escondeu o espanto, ela perguntou: - o que foi? Ele tentou desconversar, ela insistiu: - o que foi?! Tá com vergonha de mim? Ela era bem negrinha do cabelo puxado e olhos tipo Maju Coutinho, Ele branco tipo algodão. A moça baixou a cabeça com sinal de tristeza, Ele pensou: - Poxa eu não sou preconceituoso, muito menos racista; olhou ao redor e apenas eles, ainda estavam sentados. Nesse instante a garota se levantou e fingiu ir embora, momento também que Dinho levou a mão à boca e exclamou, pensando: - Nossa... que corpo lindo!!! Que quadril, meu Deus!!! – Ele era daqueles que passava horas no banheiro, (se é que você me entende... rsrsr).
Ela olhou p’ra trás e disse: - Também podia sentir vergonha de você, parece mais com uma vela falante e esboçou um sorriso lindo. Dinho outra vez se encantou, então falou para a garota: - vou pegar pipoca e refrigerante p’ra gente, tá bom? – Ela disse: - Sim, mas acho que você não vai voltar. Ele fez que não ouviu, foi p’ra fila de compras e ficou pensando: - Por mim tudo bem, mas meus colegas vão gozar de mim. A fila estava grande e Dinho demorou, quando voltou a moça não estava mais no mesmo local, Ele ficou atônito com o saco de pipoca e os refrigerantes na mão; olhou para todos os lados e não a viu. Sentou-se e ficou pensando na garota e também se condenando por pensar diferente sobre Ela, no seu íntimo já estava gostando da menina. – Minutos depois todas pessoas voltaram aos seus lugares, a segunda sessão ia começar, as luzes se apagaram. Ele entristeceu. Mas logo a moça voltou e sentou-se ao seu lado, então Ele ficou animado, comeram a pipoca, tomaram os refrigerantes e voltaram a se tocar. Foi uma tarde especial para Dinho e Lena. Naquele momento o que menos importava era o filme que estava rolando na telona.
O tempo passou, Lena e Dinho sempre se encontravam, porém, somente eles sabiam daquele romance; foram escravos sexual um do outro por um bom tempo, ela adorava tudo que faziam, Ele também, mesmo às escondidas. Um dia, Ela lhe disse: Minha menstruação não veio, acho que estou grávida. Dinho tomou um choque, por um instante ficou nos ares, mas logo voltou a si; então ajoelhou-se e beijou a barriguinha da garota e abriu um enorme sorriso. Depois pensou: - chegou a hora de encarar meu tio. Nele havia uma mistura de alegria e tristeza, a primeira por saber que iria ser Pai, que amava a garota e a segunda, também por saber que seu Tio não iria aceitar aquela relação, posto que era um sulista cheio de discriminação racial, vez ou outra fazia-se entender que não suportava pessoas negras. Dinho lamentava por ele ser assim. Por outro lado, Lena, também se via em apuros, seus pais eram pessoas simples, e muito corretas. Ela sabia que iria magoá-los, pois sequer conheciam o seu namorado. Eles se abraçaram, sorriram muito e se propuseram a enfrentar tudo a partir daquele momento.
Lena sondou os seus pais e Dinho seu tio, e tiveram certeza que iriam constrangê-los bastante. Então resolveram escrever-lhes uma carta para que soubessem de suas vontades. E assim foi feito, partiram da cidadezinha sem avisá-los para onde iam. — Na cidade grande buscaram ficar numa pequena pousada familiar e foram atrás de emprego. Todas as seis horas da tarde Lena deixava seu espírito voar e as lembranças de seus pais a entristeciam, mas logo se recompunha quando Dinho a acalentava. — O dono da pousada era um espanhol de traços não muito convencionais, logo percebeu a beleza da garota e quis se aproveitar da sua fragilidade. Propôs-lhe emprego na pousada a pagar com suas estadias. Porém, suas intenções eram outras e isso ficou bem claro quando a sós tentou agarrá-la. Lena lhe exigiu respeito, mas noutra oportunidade ele repetiu o feito, então ela contou pro Dinho e deixaram a pousada. Agora, já quase sem dinheiro algum.
Lena e Dinho, foram numa igreja, rezaram bastante, entregaram-se a Jesus e se comprometeram casar, tão logo Dinho conseguisse um emprego. Dois dias após, Dinho foi chamado para uma entrevista de emprego, era num armazém de cereais e produtos hortifrúti. O dono era um Português cheio de amor e muito gente boa, logo reconheceu o sobrenome de Dinho, pois tinha amizade com o seu tio. Posto que era um dos seus principais fornecedores. Este o recomendou e lhe pediu que o tratasse como a si, contou-lhe de sua partida da sua casa e o motivo do qual muito lamentava. Certo é, que depois da partida de Dinho o seu Tio tornou-se outra pessoa, aprendeu que não devia ser racista, nem discriminar pessoas.
Já empregado, Dinho e Lena alugaram uma casinha e marcaram a data do casamento. O tio de Dinho e toda sua família vieram para a cerimônia, os pais de Lena também, a festa foi na casa do “Português gente boa” que já se afeiçoara com o Raimundo, mais conhecido por “Dinho”. Em meio a festa Lena sentiu as dores do parto e foi levada a maternidade acompanhada do Tio de Dinho e seus Pais. Depois disso, seguiram com a vida. Ainda vivem felizes e provavelmente para sempre.
Fim.
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Antônio Souza
(Escritor)
Músicas:
Gary Moore . Still Got The Blues (Tradução)
Maria Daines - é disso que se trata o blues