ADEUS SOLIDÃO

 

 

Julius vestiu sua melhor roupa assim que tomou seu banho matinal, nem ele sabe porque fez isso. Será que foi porque havia sonhado com uma bela viagem, coisa que não fazia há anos? Estava ali naquele pequeno apartamento, sozinho, muitas vezes pensando na vida sem tomar alguma decisão em relação a si desde que Marieta foi embora para outro plano, olhando sempre para o seu retrato na parede. Viu os anos passarem mergulhado em uma imensa tristeza que aos poucos foi se distanciando e deixando ele mais leve, mais conformado. Esse sonho talvez tenha sido uma luz verde, uma espécie de esperança para tirá-lo desse mar de lamentações em que se encontrava e isso lhe causou um pequeno impacto, foi como se alguém o empurrasse para a vida e avisá-lo de que estava vivo.

 

Serviu-se do café feito por ele mesmo, saboreou torradas com manteiga e um copo de leite e parou para pensar mais um pouco na vida. Para onde iria? Não sabia. E por que se arrumou tanto se estava na dúvida? Levantou-se e foi até a janela, a manhã estava linda, o sol brilhava e era um sábado convidativo, não podia perder, a vida estava sorrindo para ele. Não perdeu tempo, depois de tirar a mesa e organizar a cozinha abriu a porta do ap, virou-se e olhou aquela sala vazia imaginando que alI poderia ter mais alguém, deu um sorriso e saiu fechando-a com cuidado.

 

Em pouco tempo estava na estação, olhou o relógio e viu que marcava oito horas. Algumas pessoas se preparavam para embarcar no próximo trem que chegaria em minutos. Com efeito, logo ele estava bem acomodado em uma poltrona e a locomotiva em movimento fazendo-o apreciar uma paisagem que não via há bastante tempo. Vieram lembranças, saudades, coisas que aos poucos iam sendo amenizadas, o tempo se encarregava disso.

 

Quase cinco horas de viagem, a fome já incomodava, mas o trem chegou em uma cidade que ele bem conhecia. Desceu do vagão e dirigiu-se para um restaurante onde almoçou. Já ia saindo quando esbarrou em uma mulher, pediu desculpas e recebeu um sorriso como um "tudo bem". Só que esse sorriso lhe chamou a atenção, talvez o conhecesse. A mulher, uma jovem senhora, parece tê-lo reconhecido também, após conversarem um pouco chegaram a conclusão de que foram amigos em época passada e que durante muitos anos não se viam. Era Elza, estudaram juntos num colégio da cidade dele e agora ela morava nessa cidade desde que o marido falecera. Julius sentiu uma certa atração por Elza e combinaram de dar uma volta pela cidade onde muita coisa havia mudado. Ela se interessou pelo convite e a tarde tornou-se agradável para os dois que iniciaram aí um relacionamento movido pela paixão que se instalou em ambos. Como ele iria ficar em um hotel, Elza convidou-o para ir até sua residência, afinal eram velhos conhecidos. Ela preparou um belo jantar para ele, tomaram um dose de um bom vinho e não teve outra alternativa senão uma noite de amor com entrega total.

 

Julius voltou para sua cidade três dias depois com a certeza de que Elza já fazia parte da sua vida e que a solidão que o assaltava não mais existia.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 13/05/2023
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