A LONGA CAMINHADA DE IZABEL EM BUSCA DE UM AMOR QUE ESTAVA EM MIM

 

 

Batia uma bolinha na rua de casa com os amigos quando a pelota foi chutada para longe e lá fui eu buscá-la. Consegui pegá-la quase nos pés de uma menina que podia ter uns 14 anos, mesma faixa etária minha. Ela estava parada diante da bola esperando que eu a apanhasse, ostentava um sorriso quase infantil. Respondi com outro e ficou nisso. O jogo continuou e eu não me dei conta de que estava sendo observado. Na manhã seguinte essa menina passou na frente da minha casa, eu estava saindo para ir à escola e vi quando ela sorriu, mas eu achei aquela atitude normal, eu pouco a via mesmo sabendo que morava ali perto. Desse dia em diante comecei a perceber um certo interesse dela por mim, mas como eu era um menino bastante tímido fiquei na minha e guardei esse segredo só para mim. Aquela paquera durou alguns meses, mesmo eu passando alguns dias sem vê-la, eu até evitava, pasava horas no quarto ou na sala, lia algum livro ou revista de faroeste, assistia tv, deixando até de jogar bola com os colegas da rua alegando que estava estudando e até fazia isso para justificar a minha presença dentro de casa. Tirava notas boas na escola e me concentrava nos estudos. Quando precisava sair olhava atentamente para ver se ela não estava por ali.

 

O tempo passou e eu até pensei que ela tinha me esquecido, nessa época a garotada não era como hoje, dava mais valor aos divertimentos sem nenhuma intenção de namorar cedo. Foi quando certo dia cruzei com ela quando voltava da sua escola, ela parou na minha frente e isso me deixou encabulado, mas mantive a discrição. Respondi gentilmente ao seu "olá" e conversamos um pouco, porém nada em relação a nós dois, apenas coisas triviais. Descobri que seu nome era Izabel. Nos despedimos e seguimos nossos caminhos distintos. Eu corria de Izabel como o diabo corria da cruz, estou sendo sincero, nunca vi uma pessoa tão acanhada como eu naquele tempo de pré-adolescência. Me escondia praticamente para não ter que dar de cara com Izabel, nessa época eu ouvia muito uma conversa de adultos que para se namorar primeiro tinha que tirar a catinga do mijo e nenhum dos meus colegas entrava numa roubada dessa. Portanto, recluso dentro de casa recebia até elogio dos meus pais por estar me dedicando integralmente aos estudos e isso me agradava muito.

 

Mas Izabel era insistente e passou a me pressionar, perguntava aos meninos por mim e mandava até recados. Eu fazia de conta que não recebia e continuava com a minha reclusão, ficava até mais tempo sem sair de casa e era questionado por não participar mais das peladas na rua. Dizia que era falta de tempo. Então chegou o dia que eu tinha que dar um basta a essa situação, foi quando recebi um bilhete de Izabel dizendo que queria falar comigo. Gelei quando li o que estava escrito naquele pedacinho de papel, mas eu tinha que decidir ou ficaria feio prá mim perante ela e também perante meus amigos. Firmou-se aí uma auto confiança e na hora e local combinados eu estava lá. Conversamos bastante e não chegamos a uma conclusão do que realmente ela queria, só falamos de coisas normais depois que ela me disse que não tinha mais me visto e aos poucos eu fui me adequando a essa amizade, talvez Izabel fosse também tão tímida quanto eu, só que um pouco mais desinibida, pois teve a coragem de enviar um bilhete para mim. Daí em diante não precisei mais fugir dela, nos víamos com freqüência e conversámos mais a vontade, nossa amizade estava estabilizada sem no entanto demonstrar que existia aí uma intenção de namoro.

 

Enfim, numa certa manhã de domingo nos encontramos num parque, já estávamos com 18 anos e eu já trabalhava numa repartição pública e Izabel numa loja de confecções. Sentamos num banco e começamos a conversar, ocasião em que intencionalmente eu a beijei para ver a sua reação, que foi imediata. Ela me abraçou e deu vazão aos seus sentimentos, foi um beijo que durou um bom tempo seguido de alguns amassos que a deixou extasiada de tanto prazer. Dali cada um foi para sua casa. Mas eu confesso que não tinha nenhum interesse de namorá-la, sentia apenas uma atração física e isso eu poderia encontrar em qualquer outra garota. Aconteceu dela se mudar do bairro, seus pais tinham comprado uma casa em outra cidade e passamos um certo tempo sem nos ver, ocasião em que arranjei uma namorada e isso chegou ao conhecimento dela. Nos encontramos "casualmente" nas proximidades do colégio onde ela estudava a noite e sua ira foi imediata, um certo ciúme a dominou e mesmo assim nos beijamos. Nem sei por que fui atrás dela. Depois eu soube que Izabel estava de namorado, fazia dias que não nos víamos e assim deixei ficar.

 

Anos se passaram, eu me casei e não tive mais notícias de Izabel, tive dois filhos com a esposa e depois de um casamento de mais de dez anos a coisa começou a desandar e tivemos que nos separar, entregamos o apartamento que era alugado e ela foi morar com a mãe, que tinha uma ampla casa com espaço suficiente, enquanto eu fui morar só em um pequeno imóvel meu que estava alugado. Dois anos se passaram e eu não namorei ninguém seriamente, a não ser encontros passageiros. Minha mente estava voltada para Izabel depois de um sonho que tive com ela. Mas o destino se encarregou de promover um encontro inesperado entre nós e durante uma ida a cidade, quando saltava do trem no centro, me deparei com Izabel, que carregava um filho nos braços. Assim que me viu ela ostentou um sorroso e me abraçou como a comemorar alguma coisa. Ela me disse que me procurou a vida toda, principalmente depois de um casamento fracassado. Separou-se do marido e ficou morando com sua mãe que lhe deu todo suporte e sem nunca deixar de pensar em mim. Estávamos já na faixa dos quarenta anos e decidimos mudar nossas vidas nos unindo. Enfim eu me rendi ao amor de Izabel.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 30/04/2023
Reeditado em 01/05/2023
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