UMA MULHER DESEJADA QUE DEIXOU A DESEJAR

Muriel era frentista do posto Bartolomeu, em Cordovil, mas o seu maior sonho era ser modelo. Tinha um lindo corpo, era uma mulher desejada e sabia disso. A jovem passou por muitas privações na infância. As dificuldades da vida, no entanto, nunca tiraram seu sorriso. Ela sorria muito, tirava muitas selfies nos dias de folga ( principalmente nos dias de sol, quando ia para a laje da casa de sua amiga Letícia fazer bronzeamento natural) , fazia poses provocantes.

Muriel, morena jambo tentação!...

Era invejada pelas colegas de trabalho. De fato, a razão do intenso movimento no posto era por causa da beleza de Muriel.

Seu Bartolomeu não se aguentava de tanta alegria, ele via na Muriel uma mina de dinheiro. Alguns amigos dele sempre o sacaneavam dizendo que ele era um cara realizado e que daria tudo pra estar no lugar dele: cheio da grana e no meio da mulherada. Seu Bartolomeu pedia mais respeito, ele tratava muito bem as meninas. Elas o tinham como um paizão. Um desses amigos era Evandro, mas este pegava leve nas brincadeiras.. Ele era um cozinheiro de mão cheia, e sua lanchonete era o point da galera que trabalhava ali nos arredores. Os lanches de Evandro eram deliciosos, o destaque era para o empadão de camarão e para o bolo de milho com muçarela derretida por cima. Evandro sempre falava para Bartolomeu que era para ele aumentar o salário de Muriel, haja vista ser ela o motivo do sucesso do posto.

A jovem Muriel morava só com a mãe, uma senhora que necessitava de cuidados especiais devido apresentar alguns problemas na saúde. Dona Terezinha vivia numa cadeira de rodas. Foi aos poucos perdendo o movimento das pernas após ficar quase dois anos trancada dentro do quarto com uma tristeza profunda após perder o marido, vítima fatal da violência crescente nos subúrbios cariocas. Muriel tinha onze anos quando o pai morreu.

Seu Dejair era um homem trabalhador, um verdadeiro chefe de família, amoroso e dedicado. Sempre quando voltava do batente dava uma passada na lanchonete e doceria do Evandro e comprava uns docinhos e biscoitos para as filhas e o bolo de milho que a esposa tanto gostava. Evandro se emociona ao lembrar do freguês amigo. Como ele amava a família! Depois de sua morte, a família meio que se desuniu. As irmãs de Muriel ganharam o mundo, se juntaram a pessoas de caráter duvidoso, saíram do Rio e dona Terezinha sente uma dor no coração ao só imaginar como podem estar vivendo as filhas. Só Muriel ficou ao lado da mãe, cuidando com todo o zelo.

A jovem não abandonou seus sonhos, ainda alimentava-os.

Também era uma mulher esperta e não se envolvia com qualquer um. Mas tinha um defeito de gostar sutilmente de atiçar os homens. Já teve muitos pretendentes, a lista era grande: Do milionário da Vieira Souto ao "zezinho da esquina"

Muriel tinha desejos, e isso é normal. Todas as pessoas saudáveis sentem desejos. Ela, sozinha no quarto, tocava em seu corpo e imaginava um homem de verdade a amando. E uma lágrima escorria em seu rosto angelical, mas sofredor. A vida amorosa de Muriel era um livro de decepção. Só teve um breve período de felicidade no coração. Júlio, oficial da PM, um rapaz cordial, que transmitia no olhar verdade, romântico, do tipo que povoa a imaginação e desperta o encanto no coração das mulheres. O policial assegurava a Muriel que iria fazê-la muito mais feliz. O jeito carinhoso de Júlio fazia com que a jovem se sentisse protegida, acolhida, num céu de conforto. Mas Muriel foi do céu ao inferno, o motivo: Júlio morreu durante tiroteio quando fazia uma incursão numa comunidade.

Júlio foi o grande amor de Muriel. É nele que ela sempre pensa quando a carência vem visitá-la nas madrugadas. Foram três anos inesquecíveis, desfrutando de um amor verdadeiro. Felicidade completa, não só na cama. Muriel só tinha olhos para Júlio e ele, da mesma forma, era dedicado de corpo e alma a ela.

Após a morte de Júlio, ela se fechou e criou essa triste mania de brincar com o coração dos homens por achar que nunca seria amada, como foi pelo Júlio.

Ela pensava assim: Antes que eles comecem a querer me usar, serei eu que já começarei a brincadeira de deixar eles só na vontade.

E Muriel assim se comportava, e esta atitude a colocou num mundo artificial, uma alegria falsa escondendo a tristeza verdadeira. Mas não há como esconder a verdade... Não tem como!

Muriel levava a vida como a maioria dos jovens, postando fotos e vídeos, criando um mundo à parte através da internet.

A jovem era muito popular. Além do salário de frentista, já estava ganhando uma graninha com suas postagens na rede.

Sempre investia o que ganhava nas despesas de casa, com sua mãe e também com sua beleza.

Muriel, uma mulher bela, corpo natural. O que ela não abria mão era de malhar na academia, não pra ficar com o corpo musculoso, como homem, mas sim ficar esbelta, bumbum durinho, coxas grossas, pele macia...

Enfim, tudo o que faz os homens ficarem babando.

Uma certa noite, quando já estava encerrando o expediente no posto, quase foi estrupada. Foi por pouco! Aconteceu que, ao terminar de abastecer uma camionete, e já cansada para ir ao banheiro tomar aquele banho e se despedir de mais um dia. Muriel foi surpreendida por dois homens parrudos que vinha no carro atrás da camionete. Eles chegaram a rasgar o uniforme dela. Muriel ficou seminua e chorando, gritando. No dia em que este fato ocorreu, Bartolomeu tinha ido viajar para Minas pois sua avó estava bem adoentada. Quem socorreu Muriel foi o sobrinho de Evandro, o jovem Florêncio. Ele tinha, naquele dia, chegado de Alagoas e era o seu primeiro dia de trabalho na lanchonete do tio.

Desde cedo ele estava observando a beleza de Muriel. Na hora do almoço, foi ele quem atendeu Muriel. A jovem sempre gostava de comprar um doce de leite pra comer de sobremesa. As mãos de Florêncio suavam frio na hora de entregar os doces para Muriel. Deixou o pote cair, se atrapalhou com o troco. Muriel mexeu com ele, deu um leve sorriso para o alagoano, Chegou o ajudar a despachar a clientela. Florêncio amou estar ao lado daquela morena, aquele avião, tipo dançarina de axé. O perfume de Muriel atiçava o jovem. Muriel antes de ir embora faz uma pergunta a Florêncio: Você é virgem?

Ele fica sem palavras, com o rosto vermelho e o coração acelerado.

Florêncio parecia um garoto simples, um jovem de dezenove anos, mas infantil. Ele viu Muriel prestes a ser violentada e teve uma atitude que ele mesmo nem sabe como foi que teve.. Pegou dois pedregulhos que estavam na esquina da rua próximo a caçamba de lixo. Ele arremessou uma no motorista e outra no carona.

Ambos caíram, e tiveram morte instantânea. O que sucedeu foi a polícia chegando, a poça de sangue no posto de combustível e Florêncio sendo preso.

A câmera de segurança o filmou cometendo o crime.

Florêncio gritou ao entrar na viatura: MURIEL, EU TE AMO! QUANDO EU SAIR DA CADEIA QUERO ME CASAR COM VOCÊ!

Muriel chorou, pois percebeu que esta seria a mesma atitude que Júlio tomaria para defendê-la.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 21/04/2023
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