Simplesmente a melhor

Numa manhã fria de outono, Neil e Mona tomavam o desjejum na cozinha da mansão onde o rapaz ocupava um dos quinze quartos como inquilino. Mais do que inquilino, aliás, já que o progressivo afastamento entre Mona e seu marido, Johnny, havia tornado a dupla mais íntima do que seria socialmente aceitável. O que tornava tudo mais complicado, é que Neil tinha praticamente a idade do filho mais velho de Mona, Pete.

- Seu marido tem parado pouco em casa - comentou Neil, enquanto Mona enchia a xícara dele de chá.

- Você se importa? - Ela o encarou com uma expressão marota.

- É conveniente - redarguiu Neil, sorrindo de volta. - Assim sobra mais de você pra mim.

Mona ergueu os sobrolhos.

- Apenas nós dois e nem mesmo um dos meus filhos para vir nos interromper - avaliou ela. - Estou me perguntando quanto tempo vamos poder desfrutar dessa bonança.

E passando geleia de morango numa torrada:

- Não que eu queira meus filhos longe de mim, que fique bem claro.

Neil fez um aceno de concordância. Gostava de Pete, o filho mais velho de Mona, que se tornara um bom amigo. Às vezes perguntava-se o que o rapaz pensaria se soubesse do seu envolvimento com a mãe dele. Certamente, seria o fim da amizade, concluiu. O marido de Mona era a parte menos importante na equação: ele e a mulher já estavam praticamente separados e Johnny não parecia muito interessado em saber o que Mona andava fazendo enquanto ele percorria o país a trabalho.

Olhou para Mona. Ela parecia pensativa. Finalmente, disse algo que interrompeu seus devaneios de forma cirúrgica:

- Minha menstruação não desceu.

- Como é? - Neil quase engasgou com o chá.

- Minha menstruação. Está atrasada - Mona lançou-lhe um olhar analítico.

- Mas que... diacho - murmurou ele, pousando a xícara no pires. - Você fez algum teste para... confirmar?

Mona deu de ombros, como se o problema não lhe dissesse respeito.

- Não preciso de nenhum teste de sapo pra saber que estou grávida, Neil.

- Mas... - Neil titubeou. - O que nós vamos fazer a respeito?

- Nós? - Mona esboçou um sorriso. - Bem, considerando que tenho idade suficiente para saber o que quero da vida, posso tomar sozinha a decisão.

Diante do olhar desesperado do rapaz, completou:

- Calma. Você é jovem e não vou estragar a sua vida querendo que assuma a criança; para todos os efeitos, Johnny vai ser o pai.

- Mas e se ele...

- Não creio que meu marido vá se importar se eu colocar o nome dele na certidão de nascimento; talvez fique até agradecido por provar para a sociedade local que não andávamos tão distantes assim um do outro.

E depois de dar uma mordida na torrada:

- Não que eu me importe com o que a sociedade local vá pensar, mas também não quero ficar conhecida como uma desencaminhadora de jovens.

A expressão de Neil era de perplexidade. Mas em seguida, começou a sentir o peso que havia sido colocado a pouco sobre seus ombros se esvair.

- Não vamos voltar a falar sobre isso, meu querido - concluiu Mona. - E se alguém insinuar algo sobre a verdadeira origem desta criança, negue. Negue com todas as forças.

Neil apenas balançou freneticamente a cabeça. Subitamente, era muito bom ter uma pessoa adulta tomando decisões importantes por ele...

- [19-04-2023]