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OS AMANTES DA PONTE DOS CADEADOS

 

Jeanne, estudante de Belas Artes, com bolsa de estudo pois era boa aluna, namorava com Jean, fotógrafo freelancer, e ambos viviam em zonas próximas em Paris, no bairro boémio de Pigalle.

Conheceram-se numa noitada no âmbito estudantil, na margem esquerda do Sena, e desde essa noite tornaram-se inseparáveis. Dado que o dinheiro não abundava, resolveram morar juntos, em casa dela, um pequeno apartamento mesmo assim maior que o dele. Desta forma sempre economizavam algo.

Para além da fotografia, Jean tinha a fixação por poesias. Escrevia-lhe poemas que depois deixava sobre a almofada, quando saía cedo de casa. Ela lia-os enlevada, muitas vezes com lágrimas nos olhos, emocionada com o amor que Jean lhe dedicava.

Todos os dias se encontravam ao final da tarde na Pont des Arts, passeando de braço dado ao longo da ponte, caminhando para um lado e para o outro até que já noite avançada, iam comer qualquer coisa a um humilde botequim perto de casa.

Um dia Jean propôs-lhe prender um cadeado na Pont des Arts, que simbolizaria o amor que os unia. Ela ficou exultante com a ideia e logo sairam de casa para comprar o tal símbolo de união. Mais ou menos a meio da ponte, abriram-no e cada um segurando uma parte, juraram ali, olhos nos olhos, que nunca se separariam de vontade própria. Depois fecharam-no junto dos outros ali pendurados e deitaram as chaves ao rio. E beijaram-se, emocionados, ficando assim algum tempo abraçados.

Desde esse dia que os poemas de Jean aprimoraram e Jeanne colecionava-os, juntando-os num pequeno cofre a que chamava mon petit coeur.

Dado que o dinheiro era escasso, ele pouco ganhava com os trabalhos fotográficos que fazia, Jeanne lembrou-se de juntar os poemas que ele lhe fazia e foi a uma pequena editora, propondo a feitura de um livro. A empresa recusou, alegando o pouco interesse que o eventual livro despertaria no público, sobretudo por ser de autor desconhecido.

Jeanne não desistiu e foi visitando sucessivamente várias editoras até que uma acabou por aceitar, mas como não tinham dinheiro para financiar a edição, o dono, uma pessoa bondosa, daquelas que já não existem, aceitou-a à consignação.

Após algumas semanas e porque eles (Jeanne e o editor) desesperavam com a falta de vendas da pequena edição de livros colocada no mercado, o livro, que manteve o nome do cofre onde os poemas eram guardados, começou a ter procura e sem explicações tornou-se um best seller.

Mesmo Jean, que várias vezes vira o livro na montra de um livreiro perto de casa, não relacionava o título nem a autoria, que Jeanne batizara de forma fictícia, pois nunca lhe comunicara o seu intuito.

Um dia, receberam uma carta na caixa de correio do humilde apartamento onde moravam e tendo sido Jean a abri-la e lê-la, ficou perplexo com o seu teor, bem como o cheque que acompanhava a missiva, dirigido a Jeanne.

Quando ela chegou a casa, ele pediu-lhe explicações, algo aborrecido com o facto de não saber de nada e ela, ternurenta e bem intencionada, soube convencê-lo do bem que lhe queria.

Jean continuou a escrever poemas e veio a ser um poeta com algum sucesso, enquanto ela concluiu o curso de bióloga, tendo arranjado um bom emprego numa empresa farmacêutica.

Passados meses, sabendo que os cadeados iriam ser retirados, ela disse-lhe:

- Que importa isso se nós nos amamos e o simbolo maior reside nos nossos corações, para sempre unidos?

Compraram outro cadeado, maior, sem chaves e lançaram-no ao rio Sena, aliás imitando outros casais, para quem os símbolos eram sobretudo guardados no coração.

 

 

 

 

 

 

 

 

O significado dos cadeados

 

A ponte dos Cadeados em Paris não é a primeira ponte onde casais fazem juras de amor eterno. Na verdade, a história começou na Sérvia, antes da primeira Guerra Mundial.

Dois jovens apaixonados costumavam encontrar-se na ponte da cidade para namorar, porém eles foram separados pela Primeira Guerra Mundial.

Na Grécia, o rapaz encontrou outra amada, fazendo com que o coração de sua namorada na Sérvia ficasse partido. Com isso, as moças da cidade resolveram começar a pendurar cadeados na ponte, como símbolo de amor eterno e fidelidade.

Muitas cidades europeias seguiram a tradição, principalmente Paris.

O que aconteceu com os cadeados?

A quantidade de cadeados na Ponte des Arts era tanta que a estrutura começou a apresentar problemas. Em 2014, uma parte da estrutura metálica lateral de proteção cedeu. Em 2015, a Prefeitura da cidade deu ordem para que eles começassem a ser retirados para evitar acidentes devido ao alto risco de desabamento das grades.

A ponte dos cadeados ganhou painéis com graffitis muito coloridos e modernos, com a intenção de modificar essa “tradição” dos casais, de pendurar os cadeados na estrutura. Entretanto, ainda é comum ver algumas pessoas colocando cadeados, mesmo com a proibição.


 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 25/03/2023
Reeditado em 28/03/2023
Código do texto: T7748338
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