Cicatrizes

As cicatrizes finalmente retornaram quando Marcos e Danilo se beijaram mais uma vez. Talvez tenham sentido as feridas um do outro, talvez cegos com as dores, tenham olhado cada um para si. Danilo foi o primeiro a querer esquecer tudo que poderia impedir de continuar ali com aquele garoto; a falta de amor repentina em sua primeira relação, as traições camufladas de desejos e necessidades do segundo namoro, as descobertas de experiências progressistas em seu último romance. Marcos sentia em seu corpo todas às vezes que fora usado como carne em casamentos, abusos e reconciliações.

Danilo era o mais perto que eu conseguia entender, mas estava longe para que eu pudesse tocá-lo. Marcos estava mais distante, mas percebia que ele precisava de Danilo para curar as cicatrizes. Eram mais profundas, tão profundas que facilmente se confundiam com o próprio corpo, e o que era corpo e o que era dor se perdiam nos lábios do outro rapaz. Danilo queria transformar, sem saber, as cicatrizes em flores para o Marcos; uma versão de si no tão discutido multiverso deveria possuir tais flores, e ele queria acessá-las.

Se olharam por um instante, antes dos beijos quebrados de despedidas; dançaram os dedos em seus corpos, antes dos toques finais de incertezas. Eu olhei para eles, antes das fitas vermelhas de uma história japonesa virasse um novelo de lã. Marcos saiu ainda se sentindo carne, Danilo ficou ainda com medo de não achar as flores. Eu ainda espero que os dois entendam que as cicatrizes finalmente retornam quando o amor quer curar. Basta permitir!

Lucas Yagami
Enviado por Lucas Yagami em 18/03/2023
Código do texto: T7743383
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