O vaso - BVIW

Tema: ambiguidade em cena (conto)

 

Cristina acordou do dormir. Primeiro tirou a neblina do sono, depois abriu os olhos, e em seguida todos os pensamentos do consciente desfilaram na avenida, como um carnaval, de confetes e serpentinas amanhecidos, e bêbados deploráveis. Virou-se e ficou na posição fetal, tamanho abandono e pequenez sentidos, que lhe roubaram a mulher forte e de nervos de aço que era. A conversa da véspera com Antônio foi nauseante. E logo depois, o fim de tudo, a morte do homem que ela mais amou na vida. Doravante, não sabia se sua bússola de vida a levaria a mares calmos ou tormentosos. Não tinha mais certeza de quem era, porque estava tão misturada a Antônio que teria de procurar a si mesma, à absconsa. Levantou-se, trôpega, vestiu algo e saiu porta a fora. Andou pela rua feito bêbada, porque seu mundo estava de cabeça para baixo. Chegando ao cemitério, já sentia a presença de Antônio. Virou na esquina e se escondeu atrás de um pé de magnólia. De lá, via Antônio na sua floricultura, todo sorridente para a cliente que lhe comprava um crisântemo branco. Na sua mente, imaginou que enterrava seu amor e colocava, na sepultura dos vivos, um vaso de crisântemo branco. Deu-lhe adeus e as costas.

 

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 14/03/2023
Reeditado em 14/03/2023
Código do texto: T7740021
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