UMA DOCE ILUSÃO, UMA DOCE REALIDADE
Mila sempre foi a minha preferida, a minha amada. Não existia outra garota que lhe substituísse. Ela era única. Seu sorriso me encantava, me deixava deslumbrado. Meu sonho era ser o seu namorado, um eterno namorado. Morávamos na mesma rua, estudávamos no mesmo colégio, nossa turma era a mesma, freqüentávamos os mesmos bailes, as mesmas festinhas. Era praticamente impossível ela não estar perto de mim, meus olhos lhe fitavam sempre, meu coração pulsava mais forte quando Mila se aproximava de mim. Eu resistia bravamente, precisava me conter para não segurar suas mãos e ela descobrir que eu a amava loucamente. Na verdade esse era o meu grande desejo, mas me faltava coragem.
Certa noite de um sábado festivo toda a turma estava num baile de formatura de uma de nossas amigas que se formara em Contabilidade, a alegria era geral, todos conversavam animadamente ao som de um conjunto musical. Tomávamos vinho, muitos dançavam, alguns casais se abraçavam, se beijavam, mas eu estava ansioso, procurava Mia quando ela saía do meu campo de visão, queria chamá-la para dançar, mas cadê coragem!? Chegava bem pertinho dela, esbanjava um sorriso, meio sem graça, mas tentava impressioná-la. Fiquei furioso por dentro quando um de nossos colegas tirou-a para uma dança, ela atendeu prontamente, então pensei, da próxima vez vou tentar, tenho que tentar. Ela demorou um pouco dançando e eu doido que ela voltasse para nossa mesa, estava impaciente. Ela voltou, me alegrei, tomei mais uma dose de vinho, virei o copo para vencer a timidez, estava precisando. Dei um tempo para ela descansar um pouco, a próxima dança seria comigo. A conversa estava animada, eu notei que ela me olhou discretamente, era a minha oportunidade, tomei o resto de vinho que estava no copo e, criando coragem, convidei-a para dançar. Nesse momento a turma aplaudiu efusivamente e isso me encorajou, diante do sorriso dela, que logo se levantou, peguei sua mão (a minha estava gelada e acho que Mia percebeu) e nos dirigimos para o centro do salão. Acreditem, foi como um sonho realizado, era a primeira vez que abraçava aquele corpo lindo, deixei fluir toda a minha sensação de bem estar. Meus braços circularam sua cintura e os seus circularam meu pescoço. Me senti um "Dom Juan" nos braços da amada dançando uma música lenta. Depois de algumas músicas retornamos para a mesa, me sentia leve e aliviado.
Continuei a "amá-la" secretamente, torcia para que nunca arranjasse um namorado, seria uma grande desilusão para mim, todos os meus planos cairiam por terra e eu não me perdoaria se não conseguisse vencer a minha timidez. Chegou então um momento que eu deveria tomar uma decisão antes que fosse tarde, foi quando voltávamos de uma biblioteca onde fomos pegar uns livros para um determinado trabalho escolar. Estávamos eu, a Mia e mais dois colegas, ocasião em que desconfiei de um plano deles me deixando a sós com ela, percebi o sorriso maroto deles, mas fiz de conta que não estava sabendo de nada. Mia sentou-se perto de mim e abriu o livro que estava em suas mãos, começou a ler alguns trechos que seriam importantes para o trabalho em conjunto que iríamos fazer. Levantou os olhos e me fitou. Calada estava como se esperasse alguma resposta para alguma coisa que desejava e eu entendi isso como um convite. Um convite para um beijo. Não tive dúvidas, não podia perder essa oportunidade, seria péssimo para mim. Bem lentamente aproximei meus lábios dos dela, caso não desejasse ela evitaria, mas Mia ficou no aguardo e nossas bocas se uniram num beijo saboroso e quase infantil. Minha doce ilusão então se transformou em uma doce realidade.